quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

Chico Bento: HQ "Chico Adão"

Compartilho uma história em que o Chico Bento virou Adão e causou muita confusão no Paraíso. Com 8 páginas, foi história de abertura de 'Chico Bento Nº 53' (Ed. Abril, 1984).

A história começa na criação do mundo e o narrador-observador conta que  Deus criou o Céu e a Terra, logo após os mares, o dia e a noite, espalhou o animais pela Terra e do barro Deus criou o primeiro homem, o Adão, e de suas costelas criou-se a Eva, a primeira mulher do mundo para ser sua companheira e juntos, crescei e multiplicai-vos e no sétimo dia descansou.

O Adão era o Chico Bento e ele estranha o que está fazendo lá no Paraíso e pergunta pelas suas roupas e Eva acha engraçado o jeito caipira do Chico falar. Ao chamá-lo de Adão, Chico fala que o nome dele é Chico Bento. Eva diz que Ele lhe deu nome de Adão e Chico responde que Ele pode dar o nome que quiser que ele continua a se chamar de Chico Bento.

Eva fala para eles irem e Chico quer saber para onde, se vão comprar roupa e pergunta pelas suas botinas. Eva diz que não sabe o que é isso e que estava falando outra coisa, que era para cumprir a ordem de Deus de  "crescei e multiplicai-vos". Chico fala para ela sair para lá e só quer saber quem foi o engraçadinho que escondeu as roupas dele. 

Depois, Chico encontra uma suposta rede escorregadia, mas era uma cobra, que lhe oferece uma maçã que estava na sua boca. Chico dá uma paulada na cobra, pensando que era ela vendedora de maçã e a gira para todos os lados, se afirmando que ele é o maior caçador da roça, e a joga no Céu, atingindo Deus.

Deus quer saber o que estava acontecendo no seu descanso, Eva explica e Deus acha que tem alguma coisa errada porque a história da criação do mundo não era para ser assim enquanto Chico fica pescando. Deus acha que o Adão está agindo estranhamente e vai procurar nos seus arquivos e vê que aquele não era o Adão e usou a forma do Chico Bento, que nasceria muitos séculos depois, segurando a ficha dele. Deus retorna o Chico ao pó para nascer muitos séculos depois e cria a verdadeira forma do Adão e volta a dormir enquanto a cobra oferece maçã ao Adão. 

Já no século XX Depois de Cristo, mais precisamente em 1984, Seu Bento está aflito a espera do nascimento do seu filho. O bebê chora, a parteira fala que é um menino e a esposa está bem. Seu Bento fala que vai se chamar Francisco Bento e quando vai ver o filho, estranha que tinha uma folha nele, que Deus esqueceu de tirar na pressa enquanto ele era Adão, terminando assim.

História sensacional com o Chico Bento como Adão e aprontando no Paraíso. Vimos que foi apenas um engano de Deus de ter usado a forma do Chico ao criar o Adão, mas o tempo que o Chico esteve lá conseguiu aprontar muita confusão. Foi engraçado  ver o Chico com raiva por estar sem roupa, dar bronca na Eva, enfrentar a cobra pensando que era vendedora de maçã, ficar pescando. Legal também ver a ficha de registro de criação na mão de Deus, como se todos que nascem ter uma ficha no Céu, e a Eva dando em cima no Chico querendo sexo com ele ao lembrar as falas de Deus de "crescei e multiplicai-vos", os olhos dela até brilharam, e Chico só queria saber quem pegou as roupas dele.

Teve um erro da cobra oferecer maçã ao Adão, mas foi preciso para dar graça à história e Chico enfrentar a cobra. O final foi bom também mostrando o momento do nascimento do Chico. A gente podia pensar que era tudo imaginação ou sonho do Chico, mas a folha presa no Chico provou que tinha acontecido que ele esteve no Paraíso. Já tiveram outras também mostrando isso, aliás, gostavam de criar histórias mostrando os personagens nascendo, todos o principais já tiveram histórias com esse tema.

Destaque também ao caipirês do Chico que ainda era do jeito antigo e em fase de adaptação, já que Chico só começou a falar caipirês nas revistas em 1980, pouco tempo até então. Uma prova é a palavra "falano" em que gerúndios eram assim no caipirês dele e depois mudaram para "falando" normal.  

Na época era normal  ter histórias religiosas e com paródias bíblicas e ter presença de Deus era bem frequente também, principalmente nas revistas da Editora Abril. Não costumava aparecer o rosto de Deus, apenas ser só as mãos e a voz dele, como foi nessa. Também já tiveram outras paródias de Adão e Eva e criação do mundo, inclusive personagens querendo ser Deus como Capitão Feio criando seu próprio mundo com Cascão e Cascuda como Adão e Eva ('Cascão Nº 72', de 1985) e até Diabo querendo ser Deus em uma história do Astronauta, de 'Cebolinha Nº 151', de 1985. Definitivamente já teve de tudo na MSP.

Hoje "Chico Adão" completamente impublicável, impossível história de paródia bíblica assim, ainda mais Eva propondo sexo com uma criança e aparecendo seminua com seios à mostra, Chico enfrentar cobra, dando paulada nela, mostrando violência que não pode nas revistas novas e até mostrar Chico pelado eles têm implicância hoje. Apesar de ele aparecer com folha na parte íntima, mas teve quadrinho aparecendo pelado por completo. Fora Seu Bento fumando vários cigarros ao mesmo tempo, não mostram mais nem personagens fumando. Era comum mostrarem os pais fumando esperando os filhos nascerem na maternidade, mas hoje é proibido.

Os traços espetaculares na história toda, sobretudo nas artes das 2 primeiras páginas mostrando a criação do mundo. Como era bom ver desenhos assim e tudo feito à mão. Capa da revista fantástica também parodiando a clássica obra "A criação de Adão", pintura de Michelangelo Buonarotti. No segundo semestre de 1984, as revistas da Turma da Mônica estavam com capas em alusão às histórias de abertura, e não só as do Cebolinha como eram, mas depois voltaram atrás e passaram a colocar as piadinhas nas capas e deixando com alusão só histórias importantes e na Globo, historias de aberturas de forma fixa só as revistas Parque da Mônica e Gibizinhos. 

Tiveram propagandas inseridas nas laterais, dessa vez obre o aniversário do Pato Donald, que em comemoração ia ter o Concurso do Pato Donald para ganhar 30 microcomputadores e uma edição especial dele com a reedição da revista "Nº 1" de 1950. Belos presentes. Eram normais propagandas nas laterais das páginas assim ou nos rodapés das páginas no espaço dos quadrinhos das revistas por terem muitos anunciantes.

Essa história foi republicada depois em 'Almanacão de Férias Nº 16' (Ed. Globo, 1994). Termino mostrando a capa desse Almanacão.

Capa de 'Almanacão de Férias Nº 16' (Ed. Globo, 1994)

36 comentários:

  1. Fantástica HQ... tenho o almancão na coleção com a HQ! ;)

    E o blog ficou muito legal em clima de Natal! *-*

    http://blogdoxandro.blogspot.com/

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    1. Maravilhosa. Faziam histórias excelentes. Esse Almanacão também é muito bom, só clássicos. E ficou bacana o painel de Natal. Valeu!

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  2. "(...) e aparecendo seminua com seios à mostra".Sim,que foram feitos justamente para as crianças.

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    1. Por isso que taparam os mamilos dela com o cabelo e colocaram a folha na parte genital, mesmo assim bem ousado para as crianças, mas na época ninguém ligava.

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    2. Mas nas HQs do Papa-Capim não tinha isso,só existe esse conceito de "ousadia" na sociedade do "cara-pálida".

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    3. Na época não tinha, hoje Papa-Capim e os índios da sua tribo aparecem de roupas e a tribo está moderna sem ocas e os índios morando em casas simples.

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  3. A propósito,Marcos,adorei essa "skin" nova da página.Destaque para o cabelo "grisalho" da Tina. :v

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    1. E com direito a dois Penadinhos e um indiozinho desconhecido (Cafuné?), ainda assim ficou gata, tipo Tempestade dos X-Men, Vampira também tem lá sua precocidade capilar, com seus cabelos semelhantes às pelagens de gambás.

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    2. Ficou legal esse painel, foi capa do Almanaque da Mônica Nº 16 de 1982. A Tina com cabelo branco pode ser ou por terem esquecido de pintar de marrom ou foi pra fazer um contraste melhor com o verde escuro da árvore de Natal. O indiozinho pode ser o Cafuné sem traços definidos ainda, pois era raro ter histórias do Papa-Capim na época.

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    3. Marcos, quando esta arte foi produzida Cafuné já estava com traços definidos há muitíssimo tempo, prova disso é uma história em que ele e Papa-Capim vão espiar um dos lendários banhos de rio de uma bela ameríndia chamada Iara (supõe-se beleza pois a figura não aparece), a lenda consistia em quem a espionasse se banhando fatalmente era levado à cegueira, quem se dá mal é apenas Papa que se aproxima mais e descobre empiricamente que era tudo balela dos velhos da tribo, a HQ deve ter sido publicada entre 1970 a 72, Cafuné já possuía narigão sardento e orelhões com brincos, quem desenhou a arte que está no seu painel provavelmente até então não conhecia muito bem o personagem.

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    4. Ou era outro indiozinho ou a pessoa desenhou errado o Cafuné. Capaz da intenção ser o Cafuné sim porque ficou com um nariz maior que o Papa-Capim, mas não ficou com a essência do personagem desenhado assim.

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    5. Cafuné é uma figura de baixo carisma, talvez devido à feiura, não sei bem, depois de Papa-Capim ele é o que mais aparece entre os personagens indígenas - utilizo os termos no presente para me referir ao passado primoroso da Turma da Mônica pois todo esse conteúdo produzido em mais de trinta e cinco anos (1959-1996, período que considero relevante) não deixou de existir porque não é mais atual - o núcleo possui apenas quatro personagens efetivos: o titular nuclear, sua namorada, seu melhor amigo e o líder da tribo, o Pajé. Cafuné não é lá muito carismático, porém possui uma fisionomia única, marcante, exerce também um papel de pilar juntamente com Papa-Capim que obviamente é o pilar principal, ou seja, Cafuné é realmente relevante, sem ele Papa-Capim provavelmente mancaria.

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    6. Eu até que gosto do Cafuné na fase clássica, nada contra ele, tinha umas histórias com ele lerdo que eram engraçadas.

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    7. Eu também, Marcos! Realmente gosto dele, não estou depreciando Cafuné, estou analisando, tanto que o prezo, afinal, é um personagem importante e assim como tal merece o devido reconhecimento, minha análise pode ser interpretada como uma visão subjetiva sobre ele, mas, procuro ser imparcial analiticamente, ou seja, deixo a razão se sobrepor à(s) paixão(ões).

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    8. Entendi. De fato, ele fazia boa companhia com o Papa-Capim.

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  4. Chico Bento zoando o plantão no Paraíso, simplesmente "divino", ótimo! Prova de que errar também é Divino. Muito massa a anaconda servindo de rede, apanhando, sendo tratada como vendedora de maçãs, rodopiada e arremessada ao Céu acordando Deus, que barato! Esta história é Dante Alighieri na veia!
    Em Mônica 145 de 1982 na história de abertura o Criador também resolve dormir e o Diabo zoa o plantão na Terra, conhece, Marcos?

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    1. Sensacional. Como era bom ver o Chico lerdo assim. Nunca deviam ter mudado roteiros assim. Conheço a história de abertura de Mônica 145, de 1982, excelente também, tem presença do Anjinho.

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    2. Inclusive Anjinho leva injustas palmadas, única vez que o vi apanhar de tal forma, acho que o executor da reprimenda é o famoso Anjo Gabriel, não tenho certeza.

      O "Sai pra lá, muié!" proferido por Chico Bento e Eva ao fundo explicando para Deus enquanto o caipirinha confecciona uma vara de pescar são demais, impagáveis! Aliás, eu até pagaria para ter um exemplar da CHTM com os tradicionais cinco gibis, entre eles esta edição, seria o volume nº53.

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    3. Também não lembro quem bateu no Anjinho naquela história.

      O "Sai pra lá, muié!", eu ri alto nessa parte, aforava essas pérolas do Chico, hilário demais. Foi por pouco essa edição sair na CHTM, se tivesse continuado, mais 3 edições já saía. De todos os fatores que pode ter terminado a coleção, o principal deve ter sido o medo da MSP de vir à tona histórias assim altamente incorretas. Chico mesmo ia ter logo aquelas histórias sérias, polêmicas e com reflexão de 1985 que o povo do politicamente correto ia reclamar muito, mesmo sendo reedição.

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    4. Os moralistas de plantão são realmente um problema, antigamente só latiam, eram ridicularizados pois não mordiam, atualmente estão dando as cartas, estão mordendo mesmo.

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    5. Já dizia Manhoso:

      ♪ Foi Eva e Adão,Eva e Adão,Eva e Adão
      O culpado disso tudo sempre foi Eva e Adão...

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    6. Sei lá! Segundo a mitologia, apesar de adultos eles eram puros, inocentes e prontos para procriação, não passaram pela infância, por que Deus deixou a serpente no Paraíso? Sem polêmica, sem polêmica...

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    7. A história que o Zózimo Humphrey mencionou,se chama "E AGORA, MUITO SILÊNCIO,QUE EU RESOLVI DESCANSAR DE NOVO!" Na história, Deus resolve voltar a dormir por um tempo(a última vez, foi no sétimo dia,depois que criou o mundo, e o homem.) Os Anjos resolvem manter isso em sigilo,para evitar que a Terra corra perigo.No entanto, havia um diabinho infiltrado como espião,que ao saber do cochilo de Deus, parte para as profundezas para avisar ao Diabo. Anjinho percebe, e tenta alertar, porém leva uma surra do Arcanjo Gabriel por tentar perturbar o sono do Senhor. Anjinho desce ao Bairro do Limoeiro para pedir ajuda, mais é tarde. O Diabo emerge das profundezas com sua horda de Diabinhos. O plano: aumentar o seu exército, transformando todos os humanos em demônios, e,em seguida,invadir o céu, e destruí-lo! A única que pode impedir tudo é a Mônica, que com a ajuda do Anjinho,tentam enganar o capiroto, imitando Deus,mas o truque é desmascarado. O Diabo transforma Anjinho num rato, e Mônica, apavorada, solta um grito de pavor tão alto,que Deus acorda. Deus dispara um raio celeste na direção do Diabo, mas o raio atinge o chão. O Diabo zomba de Deus, achando que ele errou,mas na verdade, Ele disparou em direção às profundezas para chamar as únicas criaturas que o Diabo mais teme no universo... A esposa e a sogra! Elas o levam de volta ao inferno, para que ele cuide dos afazeres domésticos. Todos voltam ao normal, e Deus volta a dormir, desta vez, pegando emprestado o relógio da torre da igreja, para servir de despertador.

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    8. Dyel, essa história é excelente, gosto muito dela, sem chance de uma história assim hoje.

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  5. Alguém lembra de uma historinha que a Mônica acusa o Cebolinha de dar nó no Sansão e aí fazem um tribunal no campinho para averiguar o caso ?Lembro que o Franjinha faz o papel de juiz, e no final o Cebolinha é inocentado.
    Se alguém souber o nome da historinha ou em qual revista ela está, eu seria muito grato.

    Abs.

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    1. Não estou lembrando dessa agora, se eu lembrar depois ou alguém souber, comentamos aqui.

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    2. Romeu, seria bom que desse mais pistas tais como se seria história de abertura ou não, onde imagina que a viu, tipo qual revista, qual editora, se viu republicada, posso estar pedindo demais, talvez se lembre apenas do que relatou mesmo. Achei dois nomes de HQs que abrem edições com elementos relacionados à sua procura: "Era uma vez um paladino da justiça no Bairro do Limoeiro" de Mônica 211 e "Que fim levou Sansão?" de Mônica 239, ambas da Editora Globo.

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  6. ótima história, eu tenho este gibi. Traços excelentes e nada de politicamente correto.

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    1. Perfeita. Assim que era bom sem frescura de politicamente correto, ficavam muito mais engraçadas. Legal que tem esse gibi, muito bom esse.

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    2. além deste, tem outra da editora Abril em que o Chico faz paródia de outro personagem bíblico, o Sansão.

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    3. Sim, foi em Chico Bento Nº 78 de 1985, muito boa também. Sansão era bem retratado na época, também foi história de abertura "A Turma do Sansão" de Mônica 147 de 1982.

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    4. essa outra eu tenho ela republicada em um almanaque.

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    5. Eu também tenho só em almanaque. A original não tenho.

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    6. Inclusive o coelhinho de pelúcia recebeu tal nome devido ao personagem bíblico e que nome! Sozinho ou em poder de qualquer outra pessoa ele é apenas um brinquedo, com Mônica faz jus ao nome. Na história de 1982 citada pelo Marcos, o personagem quase sempre inanimado não imaginava que estava diante de seu até então futuro xará aversivo aos filisteus.

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  7. Tem um quadrinho que aparece até a bunda da mulher adulta, o que seria outra coisa que hoje daria problema.

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