sábado, 30 de janeiro de 2021

Magali: HQ "A dívida"


Mostro uma história em que a Magali ficou devendo dinheiro para o Cebolinha e ele infernizou a vida dela para pagá-lo. Com 9 páginas, foi história de abertura de 'Magali Nº 189' (Ed. Globo, 1996).

Capa de 'Magali Nº 189' (Ed. Globo, 1996)

Cebolinha avista a Magali e fica pigarreando e cada vez mais alto para chamar atenção dela. Magali  pergunta se ele está com tosse, Cebolinha diz que não, só estava tentando lembrar que dia era hoje. Magali diz que era dia 15 e ele diz que faz 2 dias que foi dia 13 e 5 dias que foi dia 10 e pergunta se dia 10 não lembra alguma coisa.


Magali diz que dia 10 é o dia que o pai dela dá mesada. Cebolinha pergunta o que faz com a mesada e ela diz que compra doces, balas, sorvetes e ele complementa que paga os amigos. Magali se toca que está devendo dinheiro para ele e Cebolinha diz que deve 8 reais que deu para ela comprar chocolates, já erguendo braços pronto pra receber o dinheiro. Magali põe a mão no bolso e, em vez de dar dinheiro, pega um bloquinho para anotar e lembrar de pagá-lo mês que vem porque já gastou todo o dinheiro da mesada. Cebolinha fica uma fera e a chama de magrela caloteira e vai embora e Magali diz que a zanga dele vai passar logo.


No dia seguinte, Magali se esbarra com Cebolinha vindo do futebol com os meninos. Cascão comenta que venceu a partida, Franjinha diz que foi uma sacola de gols e Cebolinha lembra para Magali que foram 8, uma indireta para a  dívida e Franjinha pensou que ele falava de número de gols. Cebolinha fala que era o dinheiro que a Magali estava devendo na frente de todo mundo, fazendo ela passar vergonha.


No outro dia, Cebolinha telefona para Magali e pergunta de onde fala. Magali diz que é o número do telefone terminado com 8 e ele fala que é isso mesmo, que são 8 reais que está lhe devendo e que bom que ela lembra e a chama de caloteira. Magali encontra a Mônica, que pergunta qual o problema e Cebolinha surge de patins falando que a Magali pediu 8 reais emprestados e em vez de pagar dia 10, torrou toda a mesada. Magali comenta que ele está espalhando para todo mundo e vai ficar com fama de caloteira e pede dinheiro emprestado para a Mônica, que disfarça e diz que tá dura, dura e vai embora. Magali quebra o seu cofrinho em casa e só tinha moedas de chocolate.


No dia seguinte, Magali vê o muro da sua casa rabiscado com "Magali caloteira" e ela se pergunta se vai ser o mês inteiro assim e tinha que acontecer alguma coisa boa para melhorar o humor. Surge o Ivanzinho, o menino fofo da rua de cima, falando que estava procurando por ela. Magali imagina fogos de artificio de tanta felicidade. Ivanzinho a convida para tomar sorvete juntos, só que ele estava sem dinheiro. Magali diz que também está dura e Ivanzinho grita para o Cebolinha, que estava atrás da moita, que ela não tem dinheiro mesmo e o plano não deu certo. Cebolinha se convence que ela não tem dinheiro e vai ter que esperar mês que vem e Ivanzinho diz que pagar 10% da dívida a ele por ter se oferecido à Magali no plano.


Magali não aguenta mais e pede para a mãe adiantar 8 reais da mesada para pagar o Cebolinha. A princípio Dona Lili recusa porque pensava que era para torrar em doces, mas acaba aceitando quando era pagar dívida, mas fala que nunca mais peça dinheiro emprestado para ninguém. Magali devolve o dinheiro para o Cebolinha, que diz que não empresta mais nada para ela. Cebolinha vai a lanchonete e pede um sanduíche e milk-shake. Magali fala que não quer mais ficar devendo nada para ele, mas ao ver o lanche dele, acaba comendo tudo e termina com ela, com boca suja, anotando que está devendo um lanche e milk-shake para ele na próxima mesada. 


História engraçada com a Magali devendo dinheiro para o Cebolinha e ele fazendo de tudo para ela pagar. Ele está certíssimo em cobrar o que ela havia prometido quando recebesse a mesada, pois ela gastou tudo com doces e guloseimas e não pagou o que estava devendo para ele. Foram 8 dias após a mesada para ela pagar, isso com grande insistência dele senão não teria tão cedo. Acabou o Cebolinha perdendo dinheiro e lanche no final. Ele não tinha que comprar lanche na frente dela já sabendo a sua fama de comilona.


Foi divertido o Cebolinha espalhar para todo mundo para deixar a Magali com vergonha, ficar telefonando para lembrar, pichar o muro com Magali caloteira e até plano com Ivanzinho para testar se tinha dinheiro ou não. Engraçado também Cebolinha chamá-la de "magrela caloteira" assim que descobriu que ela não tinha dinheiro para pagá-lo e interessante Magali pedir dinheiro para a Mônica para pagar o Cebolinha, se conseguisse ia dar na mesma, ia só mudar a quem ela ia ficar devendo. Mônica que foi esperta e saiu fora. 


Quem já teve caso de gente que não pagou dinheiro emprestado se identifica bem e ainda pode ver maneiras de cobrar a pessoa que está lhe devendo, de um jeito de deixar o caloteiro bem envergonhado, e ainda ensina para o leitor não emprestar dinheiro para ninguém e não agir como a Magali  se caso pedir dinheiro emprestado a alguém. Impublicável por mostrar Magali caloteira e acharem que Cebolinha pode ter pegado pesado ao envergonhá-la por estar devendo. A expressão "Que inferno!" dita pela Magali não é mais aceita também nos gibis atuais.

Ivanzinho representa o menino fofo que as meninas admiram, cada história era um menino fofo diferente, mas nos anos 1980 era fixo o Reinaldinho, inspirado no roteirista Reinaldo Waisman. Pode até dizer que Magali traiu o Quinzinho já que ela namorado fixo dela na épocam mas as meninas ficavam doidos com o "menino mais fofo da rua" que até esqueciam dos namorados.

Traços ficaram bons típicos dos anos 1990, esqueceram de desenhar o braço da Magali e do Cabolinha no primeiro quadrinho, mas nada que esses erros tire o encanto da história. Durante a história teve propagandas inseridas nas laterais direitas das páginas, dessa vez anunciando chiclete "Ping-Pong" do Corcunda de Notre Dame, que tinha figurinhas par acolar no álbum de figurinhas do filme. No caso, propagandas com charadinhas do personagem, do novo filme da Disney recém-lançado em 1996 e do próprio chiclete. Eram comuns propagandas dentro das histórias, um recurso que até deixaram de lado no início dos anos 1990, mas que voltou a ter na metade daquela década, assim últimas vezes que aconteceram isso de propagandas inseridas nas histórias.

terça-feira, 26 de janeiro de 2021

HQ "O dia mais quente do ano"

Em janeiro de 1991, há exatos 30 anos, teve uma história reunindo várias histórias inacabadas com personagens sofrendo de calor, tudo para ter um final bem inusitado. Com 7 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 49' (Ed. Globo, 1991).

Capa de 'Mônica Nº 49' (Ed. Globo, 1991)

Em "O dia mais quente do ano", Chico Bento está reclamando do calor forte de matar, e resolve tomar banho na lagoa. Só que ao pular, descobre que a lagoa estava seca. Ele não aguenta o calor e vai se refrescar tomando água do poço, mas também estava seco e na torneira de manivela sem nenhuma gota 'água. Com a seca na roça e sem mais alternativas, Chico começa a chorar, falando que o calor está de matar enquanto o Sol castigava.

Em "Calor infernal". Diabão surge no cemitério do Penadinho, falando que vai levá-lo para o Inferno. Ele pergunta o que fez, sempre foi um bom fantasma, e Diabão responde que ele e Anjo Gabriel decidiram que tinham que decidir se Penadinho ia para o Céu ou para o Inferno, não podiam ficar nesse "chove-não-molha". Decidiram na sorte e o Diabão ganhou. Penadinho é levado ao Inferno e cada vez que chegava mais perto sentia mais calor, até ficar insuportável, querendo um ar-condicionado ou um leque. Diabão fala que lá não tem, por isso é chamado de Inferno e Penadinho começa a chorar, querendo voltar para o túmulo porque lá é fresquinho.

Em "O planeta de quatro Sóis", dois extraterrestres estão na expectativa de alguém captar o pedido de socorro deles que enviaram pelo rádio. Astronauta responde o chamado e aparece lá. Os ETs falam que o planeta deles gira em torno de 4 Sóis. É muito quente lá, um calor infernal que não dá para aguentar e querem que o Astronauta mude a órbita do planeta  ou apague 3 Sóis, Astronauta diz que é impossível e os ETs lamentam, pois Astronauta era a única esperança deles e o planeta vai derreter perto de tantos Sóis e começam a chorar com os 4 Sóis castigando o planeta.

Ainda tem histórias representadas por 1 quadrinho com Rolo se alistando no deserto da Legião Estrangeira, Bidu batendo papo com o Sol, Magali desesperada por sorvetes para aliviar o calor e incêndio na mata do Papa-Capim por causa do forte calor. No final, mostra Mauricio de Sousa nos estúdios da MSP lendo os roteiros daquelas histórias e vai à sala de roteiristas  mandando pararem de escrever aquelas histórias e entendeu a mensagem que eles queriam um ar-condicionado, com os 3 roteiristas Robson Lacerda, Rubão e Rosana Munhoz não aguentando o calor dentro do estúdio, com direito à Rosana dentro do aquário para se refrescar.

História muito legal essa, foi preciso os roteiristas criarem várias histórias sobre personagens sofrendo com calor para darem recado ao Mauricio que eles estavam precisando de ar condicionado no estúdio. Como as histórias precisam de supervisão do Mauricio para serem aprovadas, foi o jeito bem criativo que eles arranjaram para avisar o chefe. Foi hilário ver a Rosana dentro do aquário e o Robson trabalhando de bermuda e chinelo para ver como estava crítico o calor dentro do estúdio fechado.

Eram comuns histórias assim colocando várias histórias inacabadas para que no final tenha metalinguagem com algo que aconteceu no estúdio da MSP. O leitor até estranha no início, se perguntam por que as histórias não acabaram, se foi erro de edição da gráfica ou se tinham finais tristes mesmo, mas lendo tudo fazia todo o sentido serem assim. E até permitia os leitores imaginarem a sequência delas, com o que aconteceu com os personagens depois. Podiam até depois terem criados essas histórias de novo com seus devidos finais, todas tiveram um potencial bom. 

Às vezes acontecia também de acontecer várias coisas com um só personagem e que no final aparecia a ligação com os roteiristas ou a MSP. Eu gostava dessas histórias com metalinguagem e mostrando bastidores da MSP, deixava o leitor mais próximo a eles. Quem sabe, eles realmente tiveram problema com ar condicionado na época e quiseram compartilhar o fato com os leitores com essa brincadeira nos quadrinhos. 

Legal que cada história de calor escrita por eles se encaixarem bem com o universo de cada personagem e continuam bem atuais, já que o calor a cada ano que passa aumenta na Terra devido ao aquecimento global, em 1991 o aquecimento do planeta era menos quente que hoje. Analisando as histórias de 2 páginas, com o Chico mostra problema de falta de água em pleno verão, coisa que acontece muito na vida real, muitas cidades sofrem com seca, sem água nem para beber, vira até uma crítica social. 

O cemitério do Penadinho retrata o purgatório, onde as almas ficam esperando lá até serem chamados para o Céu ou Inferno em definitivo. Dessa vez, o Penadinho acabou sendo escolhido para ir para o Inferno na sorte do palitinho. Como eram histórias para o Mauricio supervisionar e os roteiristas darem recado para ele, como se nunca tivessem sido publicadas em revistas, então o Penadinho depois voltou para o purgatório, onde se encontra até hoje. Interessante que mesmo sendo fantasma sente sensações de espetadas e calor, os absurdos dos quadrinhos que sempre eram bons. Já na do Astronauta, de fato, ele não podia mudar órbita nem apagar 3 Sóis, só Deus podia fazer isso, no máximo arrumar outra alternativa para o ETs se livrarem do calor, que aí ficou na imaginação de cada leitor.

Impublicável porque atualmente as histórias não podem ter finais tristes, fora envolver seca na roça, Diabo com o Penadinho, coisas inadmissíveis nas revistas atuais. Um fato curioso é que quando foi republicada no 'Almanaque da Mônica Nº 54'  (Ed. Globo, 1996), simplesmente não republicaram as histórias do Chico Bento e do Penadinho, indo direto para a do Astronauta. Ou foi um erro da MSP pensando que a história começava com a do Astronauta ou foi o primeiro caso de politicamente correto, censurando Chico e Penadinho para não mostrarem o sofrimento do Chico com a seca e o Diabão com Penadinho. Embora em 1996 ainda apareciam diabos nas revistas, só que com menos frequência que no início dos anos 1990.

Os traços excelentes e que davam gosto de se ver, como sempre na época. Teve um erro de esquecimento de pintar a cueca do Chico no primeiro quadrinho da segunda página. Na época, a MSP só tinha 3 roteiristas (Robson, Rubão e Rosana) e esses 3 eram feras, arrebentaram e foram os que proporcionaram grandes alegrias para os leitores e que fizeram a fase de ouro da MSP. Sem dúvida uma história de verão bem marcante com estilo bem diferente e muito bom relembrá-la há exatos 30 anos.

sábado, 23 de janeiro de 2021

Mônica: HQ "Um anjo de cabeleireiro"

Mostro uma história em que o Anjinho bancou de cabeleireiro por exigência da Mônica depois de ela o ter visto arrumando o cabelo de uma mulher. Com 5 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 130' (Ed. Abril, 1981).

Capa de 'Mônica Nº 130' (Ed.Abril, 1981)

Anjinho sobrevoa o céu e acaba desarrumando o cabelo de uma mulher ao passar perto dela como um foguete. A mulher assobia par avisar que Anjinho desarrumou o penteado dela e ele mexe no cabelo dela e para surpresa de todos, consegue fazer um penteado muito bonito na mulher e ela fica satisfeita. Mônica estava caminhando lá e vê tudo de longe e segura o pé do Anjinho quando tentava levantar voo de novo.

Mônica resolve abrir um salão de cabeleireiro para não desperdiçar o talento do Anjinho de arrumar cabelos pensando que vai economizar na ida ao cabeleireiro e com a inteligência dela e as mãos dele, vão longe. Anjinho fica com medo e tenta desistir e se esconde atrás da cadeira quando vê Cebolinha e Cascão se aproximando. Os meninos reconhecem o Anjinho e acham engraçado ele estar como cabeleireiro e resolvem contar para turma toda.

Mônica vê e segura os meninos e os fazem como os primeiros clientes do Anjinho, que pergunta se eles vão querer cabelos lisos, encaracolados ou par ao lado. Cascão fala que se mexer no cabelo dele vai ter briga. Anjinho diz que hoje em dia muitos homens vão a cabeleireiro, Cascão diz que ele não é homem, é menino e ninguém vai mexer no cabelo e Cebolinha complementa que nem no dele. Mônica, autoritária, pergunta se pode mexer no olho, já fazendo sinal que ia dar soco neles. Os meninos mudam de ideia e deixam Anjinho mexer para não apanharem.

Depois de terminado, os meninos gostam do resultados quando se olham no espelho e começam a aparecer Xaveco e outras crianças perguntando como o Cebolinha arranjou aquele cabelo diferente e bem legal. Cebolinha diz que foi o Anjinho, que comenta que aprendeu mexendo com as nuvens. Começa a aparecer mais gente querendo mudar visual. Mônica exige que ela seja a primeira e o povo reclama que é furona, tem que ir para o fim da fila e é muito audácia. Vendo a fila gigantesca e com a pressão de todos, só resta a Mônica ir a cabeleireira, que comenta que teve sorte do salão estar vazio e nem sabe o por quê e Mônica fala que sabe o motivo, olhando para a fila de fora, terminando assim.

É engraçada essa história com a Mônica querendo formar um salão de cabeleireiro aproveitando o talento do Anjinho de arrumar cabelo. Foi legal ver o lado empreendedor da Mônica e bem curiosa essa capacidade dele de fazer penteados incríveis só com a mão. Foi engraçado ver Cebolinha e Cascão obrigados a terem seus cabelos mexidos para não apanharem da Mônica e a surpresa de eles terem gostado do resultado.

Vemos uma Mônica bem autoritária, exigindo que os outros façam o que ela quer e ameaçando os meninos com surra se não fizessem o que ela queria. Só que dessa vez ela se deu mal com seu gênio, ela até podia bater em todo mundo para ser a primeira a ter os cabelos arrumados pelo Anjinho, mas ela ficaria com fama de má educada se fizesse isso com todos.

Tiveram outras histórias com os personagens como cabeleireiros, sempre eram divertidas. Hoje em dia impublicável, a Mônica não é mais autoritária desse jeito e raramente bate nos meninos, fora que envolve trabalho com crianças, coisa que também não gostam atualmente, assim como o bullying dos meninos com o Anjinho e eles não quererem mexer no cabelo deles por acharem que cabeleireiro é coisa de mulher. 

Os traços ficaram muito bons, típicos do início dos anos 1980 e transição do que iria ficar em definitivo a partir da metade daquela década. Curioso que não desenharam auréola no Anjinho, pode ser esquecimento do desenhista ou estilo de um desenhista específico Termino mostrando a capa do 'Almanacão de Férias Nº 2' (Ed. Globo, 1988) onde Foi republicada depois.

Capa de 'Almanacão de Férias Nº 2' (Ed. Globo, 1988)

terça-feira, 19 de janeiro de 2021

Capa da Semana: Cascão Nº 25

É verão e em homenagem mostro uma capa que enquanto o Cebolinha monta castelo de areia na praia, Cascão monta seu castelo com o lixo que as pessoas deixaram na praia. Apesar de vez em quando mostravam capas com Cascão na praia, eram sempre mostrando mexendo com areia e sujeira lá. E essa capa, de certa forma, ainda mostra reflexão e conscientização de lixo na praia, das pessoas mal-educadas deixarem suas garrafas, latas e resto de comida na areia sem descartar em local apropriado e causando grandes problemas ambientais com essa atitude.

A capa dessa semana é de 'Cascão Nº 25' (Ed. Globo, Dezembro/ 1987).

sábado, 16 de janeiro de 2021

Piteco: HQ "As sombras da vida"


Nessa postagem mostro a clássica história "As sombras da vida" em que o Piteco encontra três senhores que apreciam a vida através das sombras que passam pela entrada da caverna deles. Um grande clássico lançado em janeiro de 1981 inspirado no Mito da Caverna de Platão e que está completando 40 anos. Com 5 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 129' (Ed. Abril, 1981). 

Capa de 'Mônica Nº 129' (Ed. Abril, 1981)

Escrita por Rubens Kyiomura (Rubão), Piteco está caçando um dinossauro e ouve vozes e aplausos quando passa em frente a uma caverna. Falam que foi linda, mas pena que passou depressa e quando passa um dinossauro falam que é feia. Piteco estranha e vai lá e vê 3 senhores  de costas para a frente da caverna vendo imagens através das sombras que aconteciam na frente da caverna. Como Piteco fica parado em frente, eles reclamam que é uma forma feia e  mandam sair fora.


Piteco pergunta o que eles estão fazendo e eles falam que estão contemplando a vida, como se tivesse outra coisa para fazer. Piteco comenta que só tem uma parede ali e surgem outras pessoas passando em frente à caverna e os senhores ficam admirando a beleza delas. Piteco fala que é só uma sombra e deviam contemplar os donos dela e eles não acreditam e falam que Piteco está enganado e a vida é aquela onde estão vendo. Piteco fica admirado que eles acham que o mundo todo está naquela parede e resolve ficar na frente da parede, falando que se querem apreciar a vida, ele é a vida de verdade.

Os senhores ficam brabos e correm atrás dele e na correria saem da caverna. O clarão faz cegar os senhores, já que não estavam acostumados com claridade e se arrependem de terem parado de contemplar a vida. Piteco diz para eles abrirem os olhos devagar e aproveitarem tudo que podem ver lá fora. Quando abrem, se surpreendem  com a beleza, acham muito lindo a vida lá fora e agradecem o Piteco de mostrar a verdade, se não fosse ele, ficariam a vida toda olhando só as sombras da vida. Se despedem do Piteco para contemplarem o mundo do lado de fora.

Há uma passagem  de tempo através dos séculos até chegar a atualidade até então e no final acontece a mesma cena com o descendente do Piteco passando em frente a uma casa e vê 3 senhores  contemplando a vida somente através do que passa na televisão, como se não tivesse outra coisa para fazer e sem saber o que passa no mundo real, além da televisão.


História filosófica sensacional baseada no Mito das Cavernas do filósofo grego Platão com comparação à atualidade com excelente mensagem de reflexão. Os senhores só conheciam a vida através das sombras projetadas na parede das pessoas e bichos que passavam em frente à caverna, pensavam que o mundo e a vida eram só aquilo e não aceitavam quando falavam a verdade para eles, e quando Piteco os levou para fora da caverna, eles finalmente descobriram que não existia vida só nas sombras e ficaram encantados com a vida real e a verdadeira beleza. E o fato se repetiu na atualidade até então com os descendentes deles fascinados com a televisão, conhecendo a vida só através da televisão e sem saber o que se passa na vida real.

Incrível que passados 40 anos, a história do Rubão continua atual, muita gente continua alienada com conteúdo de televisão ou internet e sem olhar o que está à sua volta, como se a vida se resumisse aos meios de comunicação. Enquanto os homens da Pré-História admiravam as sombras, na atualidade admiram a televisão e internet, mudam só a forma do que admiram, mas a ideia de alienação é a mesma de não aproveitarem a vida existente além da televisão e internet. E ainda pode ter outras interpretações como ser alienado de só acreditar nas coisas que lhe convém, tem que ser aquilo que acham que é a realidade do seu mundo, até alguém provar a verdade (ou nem isso), permite o que acontece no mundo só do seu jeito sem aceitar outras diferentes formas, ou outras interpretações de acordo com a visão de cada um.


Permite também os leitores imaginarem a sequência após o final, se teria o mesmo final ou não que aconteceu na Pré-História. Essa história é tão boa a ponto das pessoas pensarem e interpretarem que é muito usada por professores em conteúdos de aulas de Filosofia, não é difícil encontrá-la em sites de Filosofia e Sociologia na internet, por exemplo.

Foi legal no final os homens falarem "fantástico show da vida" quando estavam vendo televisão, referência e comparação ao "Fantástico" da Rede Globo de Televisão, que provavelmente deviam estar assistindo na hora. Gostava também de quando mostravam passagens do Piteco evoluindo através dos séculos até chegar a atualidade e comparar com a  Pré-História, geralmente uma crítica à realidade. 


Curiosamente, teve créditos de roteirista, desenhista, entre outros, coisa raríssima de ter nas revistas da MSP na época, deve ser por causa de Platão e quiseram deixar com créditos completos, sendo que só teve nomes deles sem sobrenomes, deixando roteirista só como Rubens, o arte-finalista Alvin Lacerda só como Alvin e assim vai. Porém, já foi alguma coisa, já que antes dessa nem isso. 

Parece que essa foi a primeira história a ter créditos e ainda teve uma da Turma do Pelezinho em 1981 e apenas roteirista na história "Uma estrelinha chamada Mariana", de 'Chico Bento Nº 87' (Ed. Globo, 1990). Depois disso, só colocaram créditos completos de forma fixa a partir das revistas de 2015, quando reiniciaram numeração na Editora Panini, a pedido dos leitores para conhecerem os artistas que fizeram cada história, principalmente roteiristas. Essa história chegou a ser postada no antigo portal da Turma da Mônica na internet, só que na ocasião tiraram os créditos de roteiristas, só deixando a referência a agradecimento a Platão.


Os traços muito bem desenhados, típico do início dos anos 1980. Era legal quando a clava do Piteco tinha prego, hoje tiraram isso das revistas. Foi republicada depois em 'Almanaque da Mônica Nº 4' (Ed. Globo, 1988). Termino mostrando a capa desse almanaque.

Capa de 'Almanaque da Mônica Nº 4' (Ed. Globo, 1988)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Cascão Nº 69 - Editora Panini - 2021

Nas bancas a revista 'Cascão Nº 69' (2ª série) da Editora Panini. Comprei essa revista e nessa postagem mostro como foi essa edição.

Lançada em janeiro de 2021, custando R$ 6,90, com formato canoa, 68 páginas e com 12 histórias no total, incluindo a tirinha final. A distribuição chegou em um tempo normal que costuma nos últimos meses, chegando aqui no dia 9 de janeiro. Agora são poucas bancas vendendo gibis, muitas não estão vendendo mais ou até fecharam depois da pandemia de COVID-19.

A revista abre com a história "A banca misteriosa da praça da esquina", com 15 páginas e escrita por Lederly Mendonça. Surge uma banca-sebo no bairro do Limoeiro e Cascão faz amizade com o dono, o Seu Acácio, que era um senhor triste com o declínio de vendas de revistas em quadrinhos nos últimos anos e cada vez menos crianças interessadas em gibis e mais interessadas na tecnologia. Cascão resolve trocar suas revistas pelas do Capitão Pitoco que encontrou no sebo e o Seu Acácio acaba contando sua trajetória com o mundo dos quadrinhos.

Trecho da HQ "A banca misteriosa da banca da esquina"

Seu Acácio, que andava amargurado por nem ter crianças mais querendo comprar gibis, acaba encontrando felicidade ao reler seus gibis antigos com o Cascão. Interessante que ao lerem os gibis, eles são teletransportados para dentro dos gibis e contracenam, além do fictício Capitão Pitoco, também com personagens clássicos dos quadrinhos nacionais e que tiveram revistas próprias  no Brasil por um tempo. 

Cascão e Seu Acácio contracenaram, então com personagens como o Menino Maluquinho e sua turma, Turma do Arrepio, Sítio do Pica-Pau Amarelo, O Pequeno Ninja & O Shaken Mascarado, Senninha, palhaço Alegria e Turma do Lambe-Lambe. E a medida que iam aparecendo os personagens que fizeram história nos quadrinhos nacionais, o Seu Acácio ia se rejuvenescendo, até virar criança, encontrou a sua criança interior relendo a sua coleção. Cascão foi lembrado com a capa da sua revista Nº 1, da Editora Abril de 1982, os traços do Seu Acácio lembra o Alan Moore, escritor de histórias em quadrinhos, o dono da banca do Seu Acácio criança foi o Stan Lee e o pai do Seu Acácio ficou representado como o Ziraldo, outras grandes homenagens da edição. 

Trecho da HQ "A banca misteriosa da banca da esquina"

Os personagens homenageados foram desenhados ao estilo da MSP, não foram os próprios escritores originais que desenharam, mas vale a homenagem e terem sidos lembrados. Traços também não ficaram ruins, teve até um enquadramento de 6 quadrinhos por páginas, que costumavam ter nas histórias de abertura da Rosana Munhoz nos gibis antigos.

A história mostra reflexão sobre o mercado dos quadrinhos atual, cada vez menos crianças interessadas em ler gibis, só se interessam por celulares e jogos eletrônicos. E a situação piora agora com a pandemia de COVID-19 onde várias bancas passaram a não vender mais gibis e algumas até fecharam, principalmente as bancas de shoppings que tiveram que ficar fechadas na quarentena. A história teve final feliz, mas serve para refletir como vão ser os quadrinhos no futuro com cada vez menos gente comprando. Teve também crítica aos gibis de luxo caros com o Cebolinha querendo Ursinho Bilu em capa dura e no sebo do Seu Acácio não tinha, só revistas antigas simples e sem luxo. E também serviu de homenagem ao "Dia dos Quadrinhos Nacionais" comemorado no dia 30 de janeiro.

Trecho da HQ "A banca misteriosa da banca da esquina"

O resto do gibi segue o estilo atual com traços digitais, muito "copiar/colar", e roteiros voltados ao politicamente correto e transmitindo boa mensagem e lição de moral. A grande novidade nos gibis da MSP é que desde novembro de 2019, em quase todas as histórias tem um texto "Mauricio Apresenta" junto com o título principal. Intenção é ter isso em todas as histórias, quando não tem é esquecimento. Creio que fizeram isso para destacar que são revistas do Mauricio de Sousa, já que agora tem créditos de roteiristas em todas as histórias. Uma ou outra ter isso até que nada ruim, pelo menos histórias de abertura ou especiais ter, tudo bem, estranho é todas as histórias mostrar isso.

Histórias com secundários foram com Bidu de 2 páginas e duas historias da Turma do Penadinho (uma com Dona Morte e outra de 1 página com Penadinho, Zé Vampir e Muminho). Dessa vez, depois de muito tempo, seguiu o estilo das revistas antigas de ter histórias de secundários só deles em gibis do Cascão.

De destaques, a história "Um amigo para o Dudu" em que o Dudu perturba o Cascão pra ler história do Ursinho Bilu para ele com lição de moral no final. Mais uma vez teve o Cascão envolvido como colecionador de gibis antigos para doação na mesma revista, é uma característica mais frequente agora já que é raro ter histórias com ele com medo de tomar banho e de água.

Trecho da HQ "Um amigo para o Dudu"

Em "Escolhas", Dona Morte mata um passarinho porque um menino atingiu o passarinho com uma pedrada em um estilete. Só que o menino se arrepende profundamente, tendo uma bonita e emocionante mensagem no final. Embora ser o estilo de lição de moral predominante hoje em dia, até que deu pra se sensibilizar com a história, gostei dela. Essa foi a única que não teve "Mauricio Apresenta" no título, assim como a outra de 1 página da Turma do Penadinho.

Trecho da HQ "Escolhas"

Em "Doação de bolas", Cascão resolve doar suas coleção de bolas velhas para os seus amigos. Mais uma vez Cascão envolvido com doações de sua coleção. E agora anda frequente presença do Dudu brincando junto com o Binho (irmão da Milena) e a menina Tati, que tem Síndrome de Down. Ela estreou nos anos 1990 apenas em revistas institucionais e agora tem aparecido com frequência nos gibis convencionais. Teve participação também do Manezinho junto com a Turma do Bermudão (Titi e Jeremias) e o André, o menino autista, que também veio de revistas institucionais e agora está fixo nos gibis. 

Trecho da HQ "Doação de bolas"

Em "Fobias", Cebolinha ensina palavras de tipos de fobias para o Cascão. Já  em "Meus primeiros sapatos", Cascão é obrigado pela mãe a usar sapatos, só que eram desconfortáveis e pesados pra eles. Esse sapato ficou bem moderno, parecendo tênis. Bom que não teve bobagem citando que eles usam meia de cor de pele em vez de dizer que estão descalços. Não duvido que algum dia passem a colocar sapatos e tênis  em todos os personagens, implicando que é errado andar descalço nas ruas. Nessa página que destaquei, ilustra o Mauricio Apresenta no título das histórias como mencionei antes.

Trecho da HQ "Meus primeiros sapatos"

Ainda teve histórias curtas de 1 ou 2 páginas com Bidu, Turma do Penadinho e Cascão. A revista termina com a história "Cangambá" em que o Chovinista fica implicando com o cheiro de um gambá , se assustando e jogando perfumes e flores no ar para não sentir o cheiro e perfumar o ambiente. O Chovinista atual não suporta sujeira e fedor e fica limpando e jogando flores em tudo que vê pela frente, bem diferente do antigo Chovinista que vivia sujo que nem o Cascão. Mudaram muito o porquinho do Cascão. Nessa história teve bastante caretas horríveis que desanimam.

Trecho da HQ "Cangambá"

É um gibi normal, com destaque maior à história de abertura mais caprichada e com homenagem aos outros personagens clássicos dos quadrinhos nacionais, que foi o que me motivou a comprar. Continuam com o foco maior no lado educativo do que só entreter. E percebe Cascão sem estar envolvido com medo de banho e sujeira, são histórias de outros tipos como coleção de gibis e brinquedos com mais destaque. As outras revistas do mês não comprei, de destaque maior foi presença do papagaio Palestrino em uma história do Mingau com Bidu na revista da Magali. Palestrino foi  papagaio da Tina e seu irmão Toneco no início dos anos 1970 e ficou esquecido pela MSP, seria mais interessante aparecer em história com a Turma da Tina. Fica a dica.

sábado, 9 de janeiro de 2021

Mônica: HQ "E o mar levou..."

Mostro uma história em clima de verão, em que a Mônica perdeu o biquíni quando estava no mar causando muita confusão para ela. Com 4 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 13' (Ed. Globo, 1988).

Capa de 'Mônica Nº 13' (Ed, Globo, 1988)

Mônica está na praia curtindo o mar quando uma onda a atinge. Depois percebe que a onda levou o biquíni dela e vê que dois meninos encontraram na areia da praia. Mônica tenta ir lá buscar, mas fica com vergonha de vê-la pelada e os meninos ficarem zoando, aí prefere ficar.

Os meninos deixam o biquíni na areia para que a dona vá buscar e Mônica aproveita que não tem ninguém para ir lá, só que de repente o mar lota de gente e ela não tem coragem de sair de lá. Dois homens comentam que vão tirar uma pelada na praia e Mônica pensa que era com ela e diz que nunca se desviando deles, mas, na verdade, só iam jogar futebol e eles comentam o que ela tem contra futebol.

Cebolinha convida Mônica para tomar sorvete e ele paga e Mônica recusa. Cebolinha estranha porque nunca viu alguém recusar sorvete. Mônica se imagina velhinha e lá no mar nua e resolve criar coragem e ir lá na praia buscar o biquíni. Com muita vergonha, ela vai e consegue buscar. No final, ela surge para o Cebolinha tomando sorvete e ele pergunta que cara era aquela. Mônica responde que tanta onda e ninguém prestou atenção de ela pelada.

É engraçada essa história, a Mônica fica com vergonha dos outros ficarem vendo nua depois de ter perdido o biquíni na onda, mas depois que cria coragem e de ter feito tanto drama, ninguém reparou quando ela estava sem o biquíni. Vai que no fundo ela queria que os outros reparassem. História mostra que não devem ficar preocupados com o que os outros pensam a respeito de algo, as vezes nem ligam para tal fato, acha tudo normal e você preocupado à toa.

Foi legal ver todo o sufoco da Mônica pelada sair do mar sem que ninguém visse, o trocadilho dos homens com pelada de nua com pelada de futebol. Impublicável hoje em dia por mostrar criança pelada, não pode mais mostrar os personagens pelados, nem os meninos e muito menos as meninas. Até Papa-Capim agora aparece de roupas para não mostrá-lo mais sem camisa e só com tanga. Na verdade, a Mônica não apareceu nua por completo aparecendo de frente, mas nem mostrar só sem top não pode atualmente.

Os traços muito lindos, como era bom ver desenhos assim. O título com clara referência e trocadilho ao filme "E o vento levou...". Teve um erro e colocaram o Cebolinha falando "recusar" sem trocar "R" pelo "L". As vezes acontecia por falta de revisão. Curioso que, pelo menos nas revistas antigas, os personagens se referirem picolé como sorvete, mesmo segurando um picolé, eles falam sorvete. Provavelmente em São Paulo, onde são ambientadas e criadas as histórias, não fazem distinção de picolé e sorvete, consideram tudo a mesma coisa, aí seria algo regional.