sexta-feira, 30 de setembro de 2022

HQ "Cebolinha Presidenciável"

Dia das eleições no Brasil chegando e então mostro uma história em que o Cebolinha teve desejo de ser presidente da República dando medo da Mônica de ele se vingar quando era criança. Com 5 páginas, foi história de encerramento de 'Cebolinha Nº 148' (Ed. Abril, 1985).

Capa de 'Cebolinha Nº 148' (Ed. Abril, 1985)

Nela, Mônica vê Cebolinha pensando e acha que está bolando mais um plano infalível contra ela. Cebolinha grita que já sabe, dando susto na Mônica. Ele diz o que vai ser quando crescer, Mônica diz que ele vai ser um cebolão e ele responde que vai ser presidente da República. Mônica acha que Cebolinha é louco, ele diz que pode gozar, mas que ela vai morrer de inveja com ele passando de limusine, fechando trânsito, viajar pelo mundo todo e comer do bom e do melhor. Mônica comenta que vida de presidente não é só isso e Cebolinha fala que se tem mais, melhor ainda.

Quando Cebolinha vai embora, Mônica sonha com o Cebolinha adulto como presidente da República, indo na reunião com seus ministros que eram seus amigos de infância. Titi pergunta qual era a pauta do dia e e ele diz que é passar a limpo a velha rixa, a Mônica, as coelhadas estão ainda entaladas na garganta dele. Cascão pergunta como e Cebolinha manda chamar as Forças Armadas, os bombeiros e guardas e, assim, jogam uma bomba, expulsando a Mônica do planeta Terra.

Mônica acorda e imediatamente corre até onde está o Cebolinha, fala que se ele for presidente um dia, não esquecer da amiguinha, que ela o adora, sempre serão amigos e o beija. Cebolinha fala que desistiu de ser presidente, é muita responsabilidade, o pai dele falou que um presidente não vive só de mordomias, tem os problemas, inflação, desemprego, dívida externa, entre outros, é trabalho para uma pessoa inteligente, forte, com personalidade e carisma. Com isso, Mônica fala que, quem sabe, até quando ela crescer, possa haver uma presidente mulher, se imaginando como uma futura presidente.


História muito legal com o Cebolinha querendo ser presidente pensando só nas mordomias que iria ter, dando medo na Mônica de ele querer se vingar das coelhadas quando era criança, fazendo com que ela suma do planeta Terra. Só que ele desistiu depois porque não contava das responsabilidades para ser um bom presidente e no final Mônica é que deseja ser presidente depois do Cebolinha dizer o perfil que deve ser que encaixava com o dela de ser uma pessoa inteligente, forte, ter personalidade e carisma, tudo a ver com ela. Boa sacada, Mônica seria uma ótima presidente, diferente do Cebolinha que queria só mordomias.

Os traços ficaram muito bons, típicos de histórias de miolo dos anos 1980. Foi engraçada a parte do pensamento da Mônica mostrando os personagens adultos, Cebolinha chamar seus amigos de infância para ministros para derrotar a Mônica, uma vingança de quando era criança e nunca conseguiu derrotá-la. Cebolinha e Titi foram mostrados como cópias dos seus pais, Cascão e Xaveco iguais como eram crianças só com corpos de adultos, Franjinha diferenciou pelo bigodão, pena não ter mostrado o rosto do Zé Luís. No pensamento, a Mônica se retratou ainda como criança, mesmo com seus amigos adultos. 

Gostava quando as vezes mostravam os personagens adultos, sejam por pensamentos ou com uma passagem de tempo para fazer uma piada final nas histórias, os personagens adultos nunca tinham padrão fixos nos traços, variavam de acordo com cada desenhista. E era legal também os pensamentos e sonhos retratados com tonalidade azul e branco por completo, atualmente colocam pensamentos coloridos, como se sonhassem colorido. Engraçado também o Cebolinha continuar trocando "R" pelo "L" mesmo adulto e sendo presidente. Hoje em dia colocariam ele falando certo como adulto, a exemplo como fazem na "Turma da Mônica Jovem".


A principal mensagem da história foi mostrar aos leitores saberem principais funções do presidente, escolher no voto o melhor que atende e vai cumprir aqueles requisitos. Os governantes se candidatam pensando só nas mordomias, esquecendo de se preocuparem com os problemas do país e prometeram em campanha, até hoje eles são assim como o Cebolinha pensava e, com isso, história ainda se torna bem atual.

Na época muitas crianças queriam ser presidente da República e pode ter sido inspiração para criarem a história. Teve a ver também que em 1985 o Brasil acabou de sair da Ditadura Militar e já podiam votar para presidente e aí ficou como ensinamento para escolherem um presidente quando tivessem oportunidade em 1989. Crianças que tinham 12 anos em 1985, por exemplo, já podiam ter uma ideia de conscientização quando fossem votar em 1989, assim como um alerta para os pais que liam os gibis dos filhos para votarem com consciência, não só para presidente, mas para políticos de qualquer cargo. Sobre Mônica ser presidente mulher acabou sendo uma profecia do Mauricio já que realmente com Mônica na idade adulta, com anos passados desde 1985, teve presidente mulher no Brasil.

Incorreta hoje em dia por conta de eles não colocarem histórias com temas políticos e adultos em gibis infantis. Tem outros elementos incorretos como não poderem mais chamar os personagens de louco, costumam colocar doido no lugar, provavelmente, para leitores não confundirem adjetivo "louco" com o personagem Louco. E palavra "gozar" no sentido de "zoar" também é proibida hoje pra não ter duplo sentido de cunho sexual. Qualquer palavra que tenha duplo sentido é proibida atualmente nos gibis. Inclusive, o quadrinho do Cebolinha falando "Pode gozar!" hoje seria um prato cheio para quem tem mente poluída para criarem meme ou publicação do site tipo "Porra, Mauricio!" com quadrinhos soltos fora de contexto.

Termino mostrando a capa do 'Almanaque do Cebolinha Nº 41' (Ed. Globo, 1997), onde essa história  foi republicada, as imagens da postagem foram tiradas desse almanaque.

Capa de 'Almanaque do Cebolinha Nº 41' (Ed. Globo, 1997)

segunda-feira, 26 de setembro de 2022

Uma história do Rei Leonino no fim do Dia do "Beija-Pata Real"

Compartilho uma história em que o Rei Leonino viu que o Jotalhão não foi ao Palácio na cerimônia do "Beija-Pata Real" e o obrigou a ir lá para beijar. Com 8 páginas, foi publicada por volta de 1979 e republicada em 'Almanaque da Mônica Nº 3' (Ed. Globo, 1987).

Capa de 'Almanaque da Mônica Nº 3' (Ed. Globo, 1987)

No fim do dia do "Beija-Pata Real", Rei Leonino pergunta ao Ministro Luís Caxeiro Praxedes se já terminou e ele responde que todos os súditos foram beijar a pata do rei, mas logo olha na lista que o Jotalhão não foi e cometeu um crime de lesa-majestade. Rei Leonino pergunta ao Ministro se não avisou que a cerimônia do "Beija-Pata" era obrigatória, ele diz que todos os súditos ficaram sabendo.

Rei Leonino fica revoltado que Jotalhão desobedeceu uma ordem real e o Ministro acha que deve ter o castigo de mil mortes e Rei Leonino manda chamar a Guarda Real e o pelotão de choque. Luís Caxeiro os chama avisando que um súdito ofendeu o trono, manchou com sua atitude revoltante a sagrada cerimônia, não aparecendo para beijar a pata do Rei. Com todos lá, Rei Leonino ordena que o Jotalhão seja preso na sala do trono para implorar perdão pela falta.


O pelotão vai até o Jotalhão enquanto Rei Leonino fala ao Ministro que o Jotalhão está enganado se pensa que pode deixar de beijar a pata real e ficar impune e o Ministro diz que ele merece qualquer castigo que Vossa Majestade imaginar. O chefe da guarda volta e diz que não conseguiu levar o Jotalhão até lá, está difícil para ele passar pela entrada na caverna real, que não é um caso de desobediência, é um caso de impossibilidade de obedecer, mostrando Jotalhão entalado na entrada da caverna. 

Jotalhão fala que não podia ir no Beija-Pata, só se a pata real fosse lá fora. Luís Caxeiro acha um absurdo, um Rei não deve ir até ao súdito, que alarguem as passagens e as paredes, para que Jotalhão possa entrar, que não deve  permitir exceções senão vai perder autoridade. Nenhum súdito merece uma ida de Vossa Majestade lá fora e Rei Leonino fala que também não pretende arrebentar as paredes do palácio. Jotalhão fala que bastaria Rei Leonino se aproximar um pouco da entrada. Luís Caxeiro não permite, falando que um rei não deve dar um passo em direção ao súdito, que ele é que tem que ir ao rei. 

Então, Rei Leonino tem ideia de Jotalhão aproximar a tromba até onde ele está, se conseguir, beijar a pata com a tromba. Jotalhão consegue e vai embora. Luís Caxeiro reclama que como pôde consentir isso, foi um desaforo, que ele tinha que beijar com a boca e não com a tromba. Rei Leonino diz que o que vale foi a intenção e a situação. Ministro fala que desse jeito ficou alguém sem beijar a pata real e Rei Leonino lembra que ficou um, sim, e no final, Luís Caxeiro é obrigado a beijar a pata dele sem parar durante o resto do dia.

História legal em que Rei Leonino se deu conta que o Jotalhão não foi na cerimônia de Beija-Pata obrigatória, mas não porque ele não quis ir, mas por causa da impossibilidade de passar na entrada da caverna estreita e ficou o dilema de como fariam para o Jotalhão beijar a pata sem Rei Leonino ir lá fora, já que uma Majestade não podia ir de encontro aos seus súditos e também não queriam arrebentar as paredes da entrada da caverna. A solução foi Jotalhão beijar com a sua tromba e não com a boca. No final, o Rei se deu conta de que o Ministro que reclamava de tudo foi o único que não tinha beijado a pata do rei e foi o brigado a beijar sem parar pelo resto do dia, bem que mereceu.

Foi bem interessante uma cerimônia para todos os súditos do reinos serem obrigados a beijar a pata do Rei Leonino, gostando dele ou não, e se não fossem, seriam punidos, com possibilidades de prisão e até pena de morte. Ficou retratado que era um rei bem autoritário e que povo tinha que obedecê-lo a qualquer custo. O Ministro também queria mandar mais que o rei, mais autoritário ainda, não aceitando que o Rei fosse até o súdito, que, assim, iria perder autoridade. Nisso, também quis mostrar analogia com governos que não gostam de se aproximar do povo, que o governo que é soberano, retratar e criticar como os governantes agiam durante o período da Ditadura no Brasil na época.

Impublicável por conta desse autoritarismo de ambos. Hoje em dia o Rei Leonino não é mais autoritário assim, é bem amigo dos súditos da mata, ouve bem os problemas, típico como um governante deve ser, e o Luís Caxeiro Praxedes é só puxa-saco do rei normal e bobinho. Atualmente, por incrível que pareça, a palavra tromba também é proibida nos gibis, chegando até alterar em almanaques para não dar duplo sentido de tromba de elefante com tromba de cunho sexual. Já vi mudado isso até em republicação de uma história da Rita Najura do livro de luxo atual "Biblioteca do Maurício - Mônica 1970", alterando fala dela que Jotalhão tem "linda e enorme tromba" para "linda cor verde".

Não teve título como era de costume histórias da Turma da Mata nos anos 1970. Os traços ficaram bons, típicos dos anos 1970, mais da segunda metade daquela década, com direito até de Rei Leonino falar de boca fechada em alguns momentos. Parece ter sido escrita pelo Mauricio de Sousa, até por conta do enquadramento maior de 3 quadrinhos por página e maior número de quadrinhos ocupando largura toda, além de posições e ângulos dos personagens, provavelmente foi estilo de páginas semanais de jornais de São Paulo e depois aproveitaram em algum gibi dos anos 1970 e pelo visto, com o Rei Leonino e seu ministro assim, quis também. 

quinta-feira, 22 de setembro de 2022

HQ "Mônica e a Primavera"

Dia 22 de setembro marca o início da Primavera e em homenagem mostro uma história de exatos 40 anos em que a Mônica precisa convencer o Inverno a ir embora para dar lugar para a Primavera. Com 8 páginas, foi história de abertura de 'Mônica Nº 149' (Ed. Abril, 1982).

Capa de 'Mônica Nº 149' (Ed. Abril, 1982)

Mônica deseja colher flores e nota que elas sumiram, só se vê capim barba-de-bode até onde a vista alcança e nada das flores de campo, margaridas, azaleias, etc, e se pergunta onde estão as flores do mundo. Uma abelha interrompe, falando que se descobrir, para avisar para ela.

Mônica pergunta que se não são as abelhas que espalham os pólens entre as flores e por causa desses pólens que nascem as flores e frutos, cadê eles. A abelha diz que não sabe, está com asinhas doendo de tanto procurar e Mônica diz que é o dia da chegada da Primavera, dia 23 de setembro, e nunca viu uma estação se atrasar para chegar.

A abelha diz que deve ser porque é única estação com nome feminino. Mônica não acha graça e acha que é uma estação com nome masculino culpada disso, sente um arzinho gelado vindo e flagra o Inverno escondido atrás de uma árvore.

Mônica vai lá e pergunta ao Inverno por que está encasacado e ainda está por lá. Ele fala que está muito resfriado, é a primeira vez que ele fica resfriado desde que criaram as quatro estações. Mônica pergunta como foi acontecer, já que ele sempre veio com frio e neve. 

O Inverno responde que quase não teve frio no ano, deu até praia, tudo por culpa da poluição. Diz que chegou no dia 21 de junho para espalhar muito frio, mas por causa da poeira, dos gases, as fumaças das fábricas não deixaram, as nuvens de poluição deixaram a Terra uma estufa e ele não resistiu em ir para a praia, tomou banho de Sol, aproveitou o veranico e quando bateu frente fria de final de temporada, o pegou desprevenido de calção na praia. Agora ele não quer ir embora, quer esperar o irmão Verão e pede ao Sol esquentar o corpinho dele, que nunca tinha conhecido de perto.

Mônica pergunta como que fica ela, as abelhas e as flores. Se ele não for embora, a primavera não chega com as flores que ela tem que colher e as abelhas tem que visitar e sem primavera, também não chega o Verão, nem o Outono depois e tudo vira bagunça e então ela ordena que o Inverno curta a gripe em outro lugar. Ele fica triste, mas concorda ir, e a Mônica diz que vai pedir ao Outono deixar um Solzinho para ele no ano que vem.

O Inverno vai embora, Mônica se despede recomendando ele tomar um chazinho quente e o Inverno pede para a Mônica avisar ao pessoal sobre a poluição, mandar abraço para a irmã dele, e pede desculpas por ter se atrasado ir. A medida que ele vai embora, o campo começa a aparecer flores e no final, aparece a Primavera, que agradece a Mônica por ter ajudado a chegar e lhe dá uma flor de agradecimento, com o cenário todo florido. 

História legal com a Mônica precisando impedir o Inverno ficar na Terra após seu período por ele ter gostado de curtir calor e praia no seu período, tudo por causa da poluição que estava bloqueando passagem de frente fria. Mônica conseguiu convencê-lo a ir embora, alegando que sem ele ir, a Primavera e nem outras estações poderiam chegar, virando bagunça no clima. 

Foi bom ver a personificação das estações, mostrar que todas são irmãs uma da outra, com direito do Inverno ficar resfriado, sua voz nasal, inclusive, foi para demonstrar que está resfriado e com nariz entupido, e a Mônica ser amiga de todas as estações e até conversar com abelha. Absurdos que não precisavam dar explicações de como ela era amiga das estações e conversava com abelha, aconteceu e pronto, típico dos gibis antigos para soltar a imaginação. Também ficou na imaginação de onde ficam as estações quando elas vão embora para dar vez a outra estação.  

A grande mensagem da história foi mostrar que poluição afeta e desequilibra o clima da Terra, quanto mais agentes poluidores, maior efeito estufa, provocando aquecimento na Terra, por isso ter invernos bem mais quentes que o normal e até ter frio no verão. Aí ficou o alerta de preservação da natureza, pessoas e governantes precisarem se preocupar em combater poluição para não ter superaquecimento do planeta. E ainda deu para aprender relacade abelhas com flores. Tudo mostrado de forma simples e divertida, sem deixar didático. A história em si não é incorreta, só a parte da abelha fazer piada com mulheres se atrasarem que poderiam tirar por ter lado machista.

Tudo indica ser história do Mauricio de Sousa, que gostava de mostrar filosofia, problemas sociais e assuntos para leitor refletir nas suas histórias da Editora Abril, alémdo estilo de enquadramento. O dia exato da chegada de estação varia a cada ano, no caso da Primavera pode ser entre dias 21 a 23 de setembro,  por isso na história a Mônica falou que em 1982 a Primavera chegou dia 23. Teve cena com abelha falando de boca fechada, erro bem comum na época.

Traços ficaram muito bonitos, principalmente ver a Mônica vestida de jardineira, diferente do seu vestido tradicional, apesar de preservado o vermelho. Nas propagandas inseridas na história, dessa vez foram nas laterais direitas em várias páginas do lápis "Labra", sempre presente nos gibis da Editora Abril.

Essa revista 'Mônica Nº 149' completa 40 anos agora em setembro de 2022, marcou a nova fase da revista com lombada quadrada e com 84 páginas e junto com estreias de várias seções. Capa até teve alusão ao tema da história de abertura juntando com informações das novidades da nova fase da revista. Com a mudança, o número de páginas com histórias continuou praticamente o mesmo de antes com 68 páginas, e para suprir essas páginas a mais, colocaram 2 páginas de seções de correspondências "Vamos bater um papo?" e Passatempos (antes era uma página de cada), além da estreia das seções "Horóscopo da Mônica", "É fácil desenhar", de como aprender a desenhar os personagens, e artigo "O Mundo Encantado dos Animais". Foram seções bem criativas e inovadoras que ajudaram a incrementar a revista sem precisar criar histórias novas no lugar e conseguiram dar conta do recado. Cheguei a falar sobre as seções das revistas da Editora Abril AQUI. Assim, foi mais uma novidade da MSP em 1982, junto com os lançamentos das revistas do Cascão e do Chico Bento, só Cebolinha que não teve novidade no formato da revista, mas que foi lembrado no final do ano com comemoração de história especial em 'Cebolinha Nº 120', em homenagem antecipada de 10 anos da sua revista, que seria em janeiro de 1983.

Essa história "Mônica e a Primavera" foi republicada depois em 'Almanaque da Mônica Nº 14' (Ed. Globo, 1989). Termino postagem mostrando a capa desse almanaque.

Capa de 'Almanaque da Mônica Nº 14' (Ed. Globo, 1989)

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Tirinha Nº 88: Chico Bento

Nessa tirinha, Chico Bento está trabalhando na roça e pede uma mão para o Zé Lelé, que traz um mamão, interpretando mal o que o Chico Bento falou. Mostra problema de fonética e interpretações diferentes de termos da nossa Língua Portuguesa, se o Chico dissesse "dar uma ajuda" em vez de "dar uma mão", aí o Zé Lelé ia entender melhor e de fato na língua falada dá impressão que falou mamão. Incorreta hoje por Chico trabalhar na roça com inchada, não é permitido trabalho infantil nos gibis atuais. 

Tirinha publicada em 'Chico Bento Nº 40' (Ed. Globo, 1988).

sexta-feira, 16 de setembro de 2022

Cascão : HQ "O elemento 'X'"

Em setembro de 1992, há exatos 30 anos, foi lançada a história "O elemento 'X'" em que a sujeira do Cascão serviu para ajudar a despoluir um rio. Com 9 páginas, foi história de encerramento de 'Cascão Nº 147' (Ed. Globo, 1992).

Capa de 'Cascão Nº 147' (Ed. Globo, 1992)

Começa com narrador contando que com os esforços para se preservar o meio ambiente, Cascão sofre um bocado, já que todos implicam com a sujeira dele. Cascão vê os outros reclamando do mal cheiro, sendo chamado de imundo, que o ar está irrespirável, que é um agente poluidor e sujinho. Outros o mandam até sair da praça por está poluindo o ambiente.

Cascão reclama que a praça é pública e sai para bem longe para ninguém persegui-lo, ficando perto do rio. Um homem aparece mandando não pular no rio. Cascão fala que jamais faria isso, pois não suporta água e fica feliz por se preocupar com ele e o homem diz que está se preocupando é com o rio, se pulasse ou colocasse pelo menos o dedo, o rio nunca mas seria o mesmo e o expulsa, o chamando de antiecológico.

Cascão comenta que daqui a pouco não poderá mais sair de casa, que tratam como se fosse criminoso e que fora o cheirinho, não incomoda ninguém, há um monte de gente cortando árvores, queimando florestas, caçando animais e depois o antiecológico é ele. O rio que o homem queria proteger já estava todo poluído, nem ele teria medo de entrar nele porque é pura sujeira e nem deve ter peixes.

Nessa hora, Cascão ouve a conversa de dois cientistas, Jurandir e Juarez, que falam que não tem peixes no rio, a água tem alto teor de produtos químicos e o rio está morto. Cascão pergunta como o rio pode morrer, eles se assustam que ele é imundo e acham que ele caiu no rio. Cascão fala que ele é assim mesmo e pergunta sobre o rio morrer.

Doutor Jurandir conta que o rio tem recebido muitos dejetos químicos que envenenaram a água, mataram os peixes e teor de oxigênio na água é quase zero e, assim, rio esta morto porque a água não pode ser mais recuperada, é só um curso de água estragada. Complementa ainda que poderiam reverter se isolassem o elemento "X", composto químico jogado no rio, que anulasse a poluição, um grama de super detergente que deixaria o rio limpo e cristalizado. O elemento "X" só pode ser encontrado em local que nunca tivesse contato com água, que nunca pegou nem uma chuva.

Cascão se manifesta, falando que ele tem quase 7 anos e nunca tomou banho, deixando os cientistas animados. Eles o levam para o laboratório e descobrem que a crosta de poeira do Cascão é rica em elemento "X", vão poder salvar vários rios, como se encontrassem a pedra filosofal. Assim, eles desenvolvem o antídoto para o rio e com uma pílula o rio poluído fica limpo. Cascão se espanta que nunca pensou que seria responsável por tanta limpeza e fez tudo pelos peixes.

Com isso, Cascão fica famoso, é manchete de todos os jornais impressos e de televisão e revistas, conhecido como o herói ecológico, que elemento "X" foi isolado no menino excêntrico. O narrador comenta que finalmente o Cascão deixou de ser perseguido por ser antiecológico e ele fala que mais ou menos, sendo perseguido pelas crianças que queriam autógrafo dele por conta dos verdes apoiarem o Cascão, que reclama que tinha mais paz antes.

Uma boa história em que o Cascão era hostilizado, visto por todos como uma calamidade pública e antiecológico por ser sujinho, mas graças a sua sujeira, os cientistas conseguiram fazer um antídoto pra limpar os rios e Cascão passou a ser herói e aclamado por todos aqueles ecológicos que criticavam.

Foi engraçado vê-lo sendo xingado pelos ecologistas até de agente poluidor, o homem preocupado em poluir mais o rio se ele caísse na água, a fórmula dos cientistas extraída da sujeira do Cascão que só com uma pílula fez limpar o rio completamente e o Cascão não gostar da fama de ser perseguido para autógrafos, preferindo quando eles o criticavam. A interação com narrador-observador conversando com os personagens também eram sempre divertidas.

Mesmo que teve um lado educativo e alertar sobre os problemas ambientais, mas pelo menos não ficou piegas e foi divertida. Na época estava acontecendo a "Eco-92", encontro de governantes do mundo todo no Rio de Janeiro para discutir soluções para os problemas ambientais, aí as revistas da MSP passaram a ter mais histórias ecológicas. Tinham mais histórias assim nas revistas do Chico Bento, porém, as vezes tinham também com outros personagens, como essa do Cascão. Não foi a toa que o Chico depois teve importante prêmio "HQ MIX" como melhor revista de 1992 (apesar de eu preferir as de 1993 dele), tudo por conta da onda ecológica que estava em alta.

Apesar desse lado ecológico, é incorreta hoje na questão de Cascão ser hostilizado a ponto de quase não poder mais sair na rua, pois mesmo ele ser sujo não gostar de água, também não pode mais ser crucificado por causa disso, além de certa apologia a favor de sujeira por parte dele e também absurdos assim de rio ser limpo só com uma fórmula também evitam hoje. 

A idade do Cascão hoje em dia foi mudada, com 7 anos completos para poder ir a escola. Os cientistas apareceram só nessa história, como de costume para personagens secundários. Curiosamente, o "Jornal Extra" citado na história, ainda não existia na época, ficou uma espécie de profecia do Mauricio, até no estilo do logotipo, já que o "Jornal Extra" do Rio de Janeiro foi criado em 1998, sendo o nome foi escolhido pelos cariocas um pouco antes de ser lançado. Já a reviste "Zóie" foi uma paródia da revista "Veja".

Os traços ficaram bons e já começando a ter um estilo característico de anos 1990 e eram ainda mais usados assim em histórias de miolo. A colorização também já bem diferente, destaque em setembro na cor laranja quase aparecendo amarelo e o preto com uma impressão não totalmente definida. Sobre a capa da revista foi bem criativa e bem sensata o Cascão não aparecer, já que em dia de chuva, ele não sai de casa nem para aparecer na capa da própria revista. Muito bom relembrar essa história há exatos 30 anos.

terça-feira, 13 de setembro de 2022

Almanaque de Histórias Curtas Turma da Mônica Nº 1 - Panini


A MSP lançou o "Almanaque de Histórias Curtas Turma da Mônica" em agosto de 2022. Comprei ess edição e mostro uma resenha de como está.

Sempre tiveram interesses de criarem edições com histórias curtas. O primeiro foi 'Coleção Uma Página, Uma História', almanaques bimestrais de 84 páginas, em 3 edições na Editora Globo em 2006, reunindo só republicações de histórias com uma página. Foi cancelado apenas por causa da mudança de editoras no final do ano.

'Coleção Uma Página, Uma História Nº 1' (Ed. Globo, 2006)

Quando mudaram para a Editora Panini em 2007, lançaram os títulos 'Almanaque de Historinhas de Uma Página', 'Almanaque de Historinhas de Duas Páginas' e 'Almanaque de Historinhas de Três Páginas', cada um só com histórias de uma, duas ou três páginas, respectivamente. Cada um, a princípio, era semestral com 84 páginas e depois se tornaram anuais, se revezando nas bancas. Todos foram cancelados em 2014, nas edições "Nº 9" cada um, quando resolveram dar uma diminuída de títulos em circulação. Associado a esses, ainda tinha o título "Almanaque Historinhas Sem Palavras" com histórias mudas, sem textos, a partir de 2009, com 84 páginas e foram semestrais nas 2 primeiras edições e depois se tornaram anuais, título também cancelado em 2014 no "Nº 7". Os 4 títulos se revezavam nas bancas e então a cada 3 meses tinha um título desses nas bancas nos últimos anos.

Capas 'Almanaques Historinhas Uma, Duas, Três Páginas e Sem Palavras Nº 1' - Panini

Até que agora em agosto de 2022, a MSP resolve lançar um título semelhante, 'Almanaque de Histórias Curtas Turma da Mônica', com clara concorrência ao título "Histórias Curtas" da Disney, só que como republicações enquanto na Disney são histórias inéditas no Brasil. Esse título tem foco para crianças em idade de alfabetização com leitura de pouco texto e também para quem gosta de histórias curtas de miolo, sem serem desenvolvidas e querer fugir de enrolações.

'Almanaque de Histórias Curtas Turma da Mônica', então, chegou aqui dia 15 de agosto e tem a fusão desses 4 almanaques anteriores, com histórias de 1, 2 e 3 páginas e mudas, todas misturadas. Com formato canoa com grampos, sem lombada quadrada, como estão todas as mensais e almanaques da MSP desde 2021 e tem 84 páginas, contra 100 páginas dos almanaques principais, só que sem passatempos, ficando, assim mais barato, custando R$ 9,90 contra R$ 11,90 dos almanaques principais. 

Na capa não tem moldura, assim como foram os Almanaques de Historinhas de Uma, Duas e Três, Páginas e Sem Palavras anteriores da Panini, o que é muito bom por valorizar o desenho, todos os almanaques deviam ser assim sem moldura. Porém, podiam ter caprichado mais na ilustração da capa e também do logotipo, que podiam ser melhores.  Também não mostram mais preço, códigos de barras, QR Code nas capas, ficando tudo isso nas contracapas.

Contracapa da edição

 Abre com um frontispício, só que com a mesma ilustração da Mônica que colocaram no frontispício do 'Almanaque de Historinhas de Uma Página Nº 1' de 2007 mudando só uma parte do texto, adaptando trechos que foram característicos ao de Uma Página. Acho que não custava criar uma ilustração nova e texto diferente, seria bem melhor.

Comparação dos Frontispícios dos almanaques 'Historinhas de Uma Página Nº 1' (2007) e 'Histórias Curtas Nº 1' (2022)

Sobre o conteúdo, simplesmente colocaram as mesmas histórias das "Nº 1" de seus respectivos títulos anteriores dos Almanaques de Historinhas de Uma, Duas e Três Páginas de 2007 anteriores. Tipo, histórias de 1 página desse de "Histórias Curtas", foram tiradas de "Historinhas de Uma Página Nº 1" de 2007, e por aí vai. As histórias mudas também foram tiradas desses de Uma, Duas e Três Páginas "Nº 1" antigos e não teve história muda do "Almanaque Sem Palavras Nº 1" de 2009. Acho que tinham que colocar histórias que nunca foram republicadas e não repeteco e muito menos de próprias edições "Nº 1". 

Foram 36 histórias no total, sendo dessas, 12 foram de 1 página, 12 foram de 2 páginas, e 12 foram de 3 páginas já republicadas nos respectivos almanaques "Nº 1" da Panini. Todas misturadas e não uma ordem sequencial da primeira história ser de 1 página, a segunda, com 2 páginas e a terceira, com 3 páginas, Foram histórias da Globo entre 1987 a 2002, sendo maioria dos anos 2000.  Abre com a história "Cebolinha vs. Mônica", de 2 páginas, em que o Cebolinha corre atrás da Mônica e todos pensam que ele tinha a derrotado.

HQ "Cebolinha Vs. Mônica"

Histórias foram maioria com a Turma da Mônica, os 4 principais Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali, bastante também  do Chico Bento e tiveram algumas dos secundários Turma do Penadinho, Piteco e Horácio. São histórias bem simples de miolos, leituras rápidas, poucas tiveram situações incorretas, procuraram mais histórias normais com características principais dos personagens. As que foram mais incorretas em seus respectivos almanaques "Nº 1" de 2007, não re-republicaram nesse.

História de 1 página da Mônica

Encerramento foi história "Vai pegar, Floquinho!" de 3 páginas, com Cebolinha estranhando cada vez que sumia o graveto depois que ele jogava para o Floquinho pegar.

Trecho da HQ "Vai pegar, Floquinho!"

Sobre as alterações que têm em todos os almanaques, tiveram algumas. Todas como casos que ainda aceitavam em 2007 nos primeiros gibis da Panini e hoje não aceitam mais. Na história "Posso ajudar?", de 3 páginas, em que os meninos querem ajudar seus pais a lavar carro, na parte que o Titi estava andando de bicicleta, colocaram capacete e joelheiras nele onde não tinha na revista original. Isso porque agora os personagens andam obrigatoriamente com acessórios quando andam de bicicleta para eles não se machucarem quando caírem. Lei de segurança ao andar de veículos chegou aos gibis, costumam mudar também colocando contos de seguranças quando dirigem carros quando não tinha nos gibis originais

Esse mesmo caso aconteceu na história "O banco", de 3 páginas, em que várias pessoas sentam no banco onde Cebolinha estava sentado. Na parte do menino usando boné, colocaram capacete no lugar para ele ter segurança e não se machucar se cair do skate. Afinal , criança não pode se machucar ao andar de skate ou bicicleta, nem na vida real nem nos quadrinhos.

Em "Tapete voador", de 3 páginas, em que um árabe tenta vender um tapete voador para o Cascão, na parte que ele tenta voar com o tapete, mudaram a fala de "louco" para "doido". Não entendi motivo dessa alteração, doido, louco, maluco, são tudo sinônimos, não vejo justificativa para censurarem "louco".

Na história de 1 página da Mônica que ela estranha os meninos sentados em um banco e o outro vazio, mudaram parte que ela os chama de malandrões na original e mudaram para "Estão tramando".  Pelo visto para evitar excesso de xingamentos, ofensas, acham ofensivo chamar os outros de malandros, outra palavra proibida nos gibis atuais, então.

Na história de 1 página em que o Cebolinha pinta a Mônica em um quadro, alteraram o final. na revista original, Mônica bate e quebra o quadro na cabeça dele, ficando agarrado no pescoço e agora na republicação, mudaram o final, tirando o quadro entalado nele e tirando as estrelinhas para poder amenizar violência e as dores. Dessa vez até deixaram o Cebolinha surrado e com olhos roxos, mas tirando estrelinhas e tirando o quadro fizeram amenizar a violência. Não pode ter mais agressões violentas nos gibis para não traumatizar as crianças, aí fazem esses tipos de alterações.

Ainda nessa questão de violência, a história "Já pensou?", de 2 páginas,  em que o Cebolinha sonha que é dono da rua e que o Cascão tomou banho, mudaram a parte que ele bate na Mônica, tirando as estrelinhas de dor para amenizar as dores dela. Já a cena seguinte de ele desenhar Mônica no muro com cartaz, já era assim na original, visto que cartaz nos muros em vez de rabiscar direto começaram a fazer isso nos gibis a partir de 1997 e essa história é do início dos anos 2000.

No expediente final não teve tirinha, nem re-republicando alguma tirinha dos almanaques "Nº 1" de 2007. Foi apenas a ilustração da Mônica igual a do frontispício, assim como também fizeram no recente 'Almanaque da Tina Nº 1'.

Créditos finais da edição

Então, a edição vale mais para crianças que estão começando a ler e a colecionar gibis que não tenham edições de séries anteriores dos almanaques da Panini. Quem já tem os três almanaques "Nº 1" da primeira série da Panini já tem essas histórias. Ficou praticamente reedições daquelas edições, como uma preguiça de pesquisar histórias nunca republicadas, feito às pressas para ter gibis nas bancas logo. Tendência é seguirem esse estilo nos próximos números. A quem se interessar, ainda dá para encontrar essa edição "Nº 1" nas bancas agora em setembro de 2022. 

Tem previsão de relançarem também 'Almanaque de Histórias Sem Palavras' e 'Saiba Mais' em setembro de 2022 e 'Paródias da Turma da Mônica' (uma 'Clássicos do Cinema' com outro nome), em novembro de 2022, que, provavelmente, devem ser reedições das séries antigas como foram nesse almanaque de Histórias Curtas e o da Tina. Vamos aguardar.