terça-feira, 28 de abril de 2020

Chico Bento Nº 86 - Editora Abril


Em novembro de 1985 chegava nas bancas o gibi 'Chico Bento Nº 86' pela Editora Abril. Nessa postagem faço uma resenha de como foi esse gibi. 

Com lançamento oficial em 28 de novembro de 1985 (os gibis da Editora Abril dos anos 1980 mostravam as datas no expediente final), com 36 páginas da fase quinzenal, teve uma capa bem caprichada com uma dupla interpretação de Chico Bento em recuperação na escola e só pensando na festa do Revéillon enquanto fazia a prova ou o Chico achar que a prova era uma "bomba" representada pelos fogos de artifícios de tão difícil que estava. Teve 7 histórias no total, com secundários dessa vez com Turma do Penadinho e Papa-Capim. 

Abre com história "Bom Português", com 5 páginas, em que a professora Marocas implica com o jeito de falar do Chico Bento tudo errado. Ele pergunta quais foram as notas dele e a professora mostra o jeito certo de falar e ele acha que a professora estava falando que ela fez a prova também. Marocas diz que isso não é português que se fale e põe o Chico de castigo sentado em uma cadeira isolado da turma. Enquanto ela ensina sobre predicativo do sujeito, Chico acaba dormindo em aula com onomatopeia de sono "SSS"  ao invés de "ZZZ" e a professora fala que até dormindo ele é errado. No final da aula, Marocas ordena que Chico esteja fino no Português na próxima aula.

Trecho da HQ "Bom português"

No caminho, Chico encontra com a Rosinha, ele fala que está danado com o português e a Rosinha fala que é só amizade, pensando que ele falava de traição com um menino português, mas ele explica que está falando da aula. Depois Chico tenta estudar, mas não consegue e resolve pedir ajuda para o pai e como ele falava errado também, acaba desistindo da ajuda.

Chico resolve estudar na marra, fica o dia todo estudando até anoitecer. No dia seguinte, na aula, ele está falando corretamente, de norma culta, com palavras até difíceis, e a professora comemora. No final da aula, ele se dirige aos leitores falando que acabou com a professora, voltando a falar caipirês, ou seja, só aprende o suficiente,pra falar certo na frente da professora.

História curta e bem legal. É incorreta atualmente pelo Chico ser burro, teria que ser bom exemplo na sala de aula, e, principalmente, a professora ser carrasca, colocando o Chico de castigo em sala de aula e exigindo que fale certo, sendo humilhado pelos outros alunos. Hoje em dia essa atitude da Marocas seria condenada, no lugar ela teria que ensiná-lo a falar certo durante a aula com toda paciência do mundo e não colocá-lo de castigo por causa do caipirês e ele se virar para aprender a falar certo sem ajuda. Com o politicamente correto atual, ela pode obrigar o aluno a escrever certo nas provas, mas implicar com o sotaque no dia a dia, não.

Trecho da HQ "Bom português"

Em seguida vem "Negócios da China", com 4 páginas, Chico e seu pai, Seu Bento, estão na cidade, para fazer compras para o sítio, e são abordados por um homem querendo dar golpe neles de vender um terreno de mil  metros quadrados e a 50 metros da praia por 10 milhões de cruzeiros, mas que na verdade, seria no fundo do oceano. Seu Bento diz que só tem dois milhões e o golpista aceita, porque diz ele que precisa de dinheiro por sua mulher estar doente.

Trecho da HQ "Negócios da China"

Seu Bento fala que gastou o dinheiro com ração e o golpista tenta levar a caminhonete, mas Seu Bento não aceita pois teria que levar as compras para casa e também não aceita o golpista levar as compras porque não cobre o dinheiro do terreno. O golpista pergunta se ele não tem nada de valor e Seu Bento diz que tem o chapéu de palha que foi do avô e pai dele antes. O golpista os chamam de burros e vai embora. No final, Seu Bento e Chico comentam que pode no futuro aparecer outra coisa melhor como o Pão-de-Açúcar ou Parque Ecológico, sem saberem que se livraram de um grande golpe.

Essa foi para alertar sobre golpistas na vida real, principalmente pobres ficarem atentos a não cair em conversas de vendedores. Impublicável um tema desse hoje em dia, ainda mais para enganar caipiras pobres inocentes.

Trecho da HQ "Negócios da China"

Depois vem "Nascer de novo", com 3 páginas, em que o Cranicola deseja reencarnar. Ele fica pensando em ser uma águia, leão ou tubarão e comenta com o Penadinho que cansou de ficar paradão em uma pedra, sem pode ir ou vir, e gostaria muito de reencarnar como um lobisomem para correr por aí, o um morcego para voar, ou em um cavalo de corrida, bicho-preguiça ou até um legume. Dona Cegonha aparece falando que Cranicola vai reencarnar, deixando bem emocionado, mas para sua surpresa reencarnou como um coco de um coqueiro, ficando paradão no lugar que nem quando era caveira de cemitério.

Eram boas essas histórias dos personagens da Turma do Penadinho reencarnando e ver o que seria vivo. Sacanearam bem o Cranicola deixando paradão até em outra vida. Histórias de reencarnação não são mais abordadas nos gibis novos por envolver religião.

Normalmente secundário nos gibis do Chico Bento era só o Papa-Capim. Nos últimos gibis do Chico de 1985 e 1986 eles estavam fazendo experiência colocando histórias da Turma do Penadinho e do Bidu, que eram tradições nos gibis do Cascão. As vezes nem tinha Papa-Capim nos do Chico. Mas depois quando foram para a Editora Globo em 1987, eles voltaram à tradição com só Papa-Capim no gibis do Chico; e Penadinho e Bidu nos gibis do Cascão.

Trecho da HQ "Nascer de novo"

Em "As dores do Chico", de 4 páginas, Chico Bento inventa desculpa que está sentindo dor sempre que é abordado para fazer algum trabalho ou um favor. Ele inventa que está com dor de cabeça pra professora como desculpa que não fez lição de casa, dor nos braços para não capinar com enxada na roça com o pai, torceu o pé para não ir na venda ajudar a mãe e dor nas costas para não ajudar a carregar a lenha que o Zé da Roça estava levando. No final, Chico resolve pescar e acaba caindo da ponte, ficando todo quebrado e olhando para Santo Antônio, falando que eles não perdoam.

Mostra a fase de quando Chico era preguiçoso e dessa vez acabou levando castigo do santo por ter inventando desculpas de dores para não estudar nem trabalhar. Mostravam as coisas erradas do Chico, mas sempre se dava mal da pior forma possível para aprender. Chico preguiçoso, trabalhando na roça, plano infalível para não estudar nem trabalhar, sofrer acidente caindo da ponte, religião, nada disso não tem hoje nos gibis.


Trecho da HQ "As dores do Chico"

Em "Eta, sacrifício!",de 3 páginas, Chico provoca os animais do nada e sai correndo. Provoca um touro, uma colmeia de abelhas e um bode. No final, é mostrado que ele provocou os bichos só para conseguir chegar mais rápido na escola em dia de prova. Hoje em dia não tem mais histórias com Chico contracenando com bichos, muito menos sendo perseguido por eles.

Trecho da HQ "Eta, sacrifício!"

Papa-Capim teve a sua história "Um Dia da Caça". Com 3 páginas, Papa-Capim resolve caçar uma onça, mas acaba sendo perseguido por ela e na correria sobe em uma cobra na árvore pensando que era cipó e passa a ser perseguido por ela e, ao cair no rio, é perseguido por jacaré. Ele volta para casa e a mãe reclama que voltou com mãos vazias, sem caça nenhuma e para a surpresa dos leitores, as esposas da onça, da cobra e do jacaré que perseguiram o Papa- Capim também reclamaram que eles voltaram sem caça nenhuma. Ou seja, os bichos estavam na selva caçando os índios. Mais uma história proibida, personagens caçando animais, nem pensar. E vamos sentir saudades do Papa-Capim assim sem roupa depois da nova mudança de agora ele aparecer com camisa e bermuda nos gibis novos.

Trecho da HQ "Dia da caça"

Termina com "Um homem imensamente rico", de 6 páginas, em que o Seu Bento leva para o Coronel Agripino a lenha que havia encomendado e o Coronel convida para entrar na sua mansão. Seu Bento acha um luxo, pergunta se não se perde lá dentro de tão grande, gosta de ser servido por mordomo e se encanta com a fazenda com muitos porcos limpos, galinhas, cavalos e bois e fala que o Coronel é imensamente rico.

Trecho da HQ "Um homem imensamente rico"

Depois, Coronel dá carona para o Seu Bento até o seu sítio e é convidado pra entrar. Tudo era bem simples, poucas galinhas, casa muito humilde. Coronel conhece a família do Seu Bento (o filho Chico e a esposa Dona Cotinha), come uma rosca caseira preparada pela Dona Cotinha e curte muito toda aquela simplicidade. No final, Coronel Agripino volta para a sua mansão, solitário, e comenta que o Seu Bento não sabe o quanto ele é rico.

Essa mostra a diferença de rico e pobre e mensagem, sem deixar piegas, que o que vale mais é a riqueza interior. Seu Bento apesar de não ter um grande poder aquisitivo, mas tem a riqueza humana que vale muito mais que qualquer mansão e bem material que o Coronel Agripino tinha. E a história mostra o Seu Bento como um fornecedor da região, bem comum na época. O enquadramento de 6 quadros por página ao invés de 8 quadros fez com que a história ocupasse mais páginas no gibi.

Trecho da HQ "Um homem imensamente rico"

Esse gibi não teve tirinha final, como era de costume nos gibis da Editora Abril nos anos 1980. No lugar era reservado uma propaganda qualquer ou anúncio do que teria na próxima edição. Então, nesse gibi teve propaganda dos brindes das miniaturas de bonecos das personagens que aquele gibi e os outros de novembro de 1985 estavam dando, em cada gibi vinha uma miniatura de brinde.

Propaganda das miniaturas da Turma da Mônica

Como podem ver, o gibi foi formado com histórias curtas e simples entre 3 a 6 página, todas muito divertidas e sem sombra do politicamente correto, até as mudas eram boas e sem enrolação. Todas também com traços excelentes seguindo estilo de desenhista e assim que era bom. Não é a toa que todos se encantavam com os gibis do Chico com esse estilo. Mesmo consideradas histórias normais na sua época, todas incorretas e não seriam publicadas atualmente, com exceção da última, mostrando como os gibis mudaram muito ao longo dos anos.  Enfim, um gibi muito bom que vale a pena ter na coleção.

sábado, 25 de abril de 2020

Cebolinha: HQ "O buraco"

Compartilho uma história com Cebolinha sofrendo com o Louco para fazer m buraco na rua. Com 5  páginas, foi publicada em 'Cebolinha Nº 74' (Ed. Abril, 1979).

Capa de 'Cebolinha Nº 74' (Ed. Abril, 1979)

Nela, Cebolinha está andando com se carrinho de brinquedo e o Louco vê escondido atrás de uma árvore e monta no carrinho mandando o Cebolinha seguir um carro. Cebolinha fala que ele está quebrando o carrinho que está sentando em cima. Louco olha para cima pensando que o carrinho está no céu e Cebolinha fala que está embaixo dele e aí Louco mandar decidir se está em cima ou embaixo.


Cebolinha manda deixar para lá e Loco pergunta lá onde. Cebolinha diz em lugar nenhum e Louco comenta que é muito complicado e devia se consultar com psiquiatra. Cebolinha diz que não, foi ele quem não compreendeu. Louco pergunta se compreende o que ele não compreende e Cebolinha responde que é simples, deixando Louco feliz, abraça o Cebolinha falando que compreende tudo e não pensava que era tão simples e agora pode sair e compreender tudo que passa por aí.


Cebolinha avisa que vai junto para.ajudar o Louco em alguma coisa. Então, Louco manda o Cebolinha cavar um buraco, já que queria ajudá-lo e assim Cebolinha cava buraco com as mãos um tempão e depois Cebolinha pergunta o que ele vai fazer com um braco no meio do caminho. Louco manda buscar tinta e madeira depressa. Depois, Louco cria uma placa de cuidado com o buraco e Cebolinha pergunta que seria mais fácil não ter feito o buraco, e, assim, Louco manda Cebolinha tapar buraco e ele reclama por que não aprende a ficar quieto.

Louco avisa que a placa não tem mais função e precisa arrumar outro buraco para ela. Ele encontra um lugar vazio e diz que ali tem um buraco enorme e põe a placa lá. Louco fala que precisa ir e manda tomar cuidado com o buraco. No final, Cebolinha comenta que ele é louco e não tem nada ali, mas quando anda um pouco acaba caindo, realmente tinha um buraco bem fundo e invisível a olho nu.


É uma história legal com o Cebolinha envolvido mais uma vez com o Louco, com todos os nonsenses, absurdos, conversa sem pé nem cabeça, trocadilhos ao pé da letra como é de costume nas histórias do Louco. Dessa vez foi foco em um buraco, que o Cebolinha precisou cavar, tapar de novo e ainda lidar com um buraco supostamente imaginário da cabeça do Louco, mas que realmente existia. Cebolinha sofria com ele.

Os trocadilhos no início foram muito bons também, como posição do carrinho em cima e embaixo expressão "deixa pra lá"e até ajuda os leitores a pensarem das diferentes formas de interpretação que uma coisa não muito bem falada pode causar questionamentos. A parte de quem compreendia o quê foi uma verdadeira conversa de maluco. Se o Cebolinha não tivesse ido junto com o Louco quando ele disse que ia embora, teria evitado todo o transtorno que teve.


Os traços ficaram bons, foi da transição dos personagens com bochechas pontiagudas do início dos anos 1970 com o processo de arredondamento dos personagens da fase superfofinha no final da década. Já estavam começando a querer ficar parecido como a fase consagrada dos anos 1980, mas ainda tinham um pouco de bochechas pontiagudas e traços mais fofinhos que o normal no geral. Curioso do Louco aparecer de camisa rosa e calça vermelha, o contrário do que estamos acostumados. É que em 1978 e 1979 eles estavam invertendo as cores da roupa dele, mas depois voltaram atrás e voltaram como era.


Foi republicada depois em 'Almanaque do Cebolinha Nº 12' (Ed. Gobo, 1991), de onde foi que eu tirei as imagens da postagem. Demorou um pouco a ser republicada visto os padrões da época que era mais comum republicarem histórias entre 5 a 10 anos atrás, mas pelo menos foi. Aqui a capa desse almanaque de 1991.

Capa de 'Almanaque do Cebolinha Nº 12' (Ed. Globo, 1991)

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Capa da Semana: Cascão Nº 22

Eram comuns capas com piadas envolvendo o logotipo das revista. Normalmente, o personagem se refugiava no logotipo para fugir de algum perigo de acordo com a sua personalidade. Nessa capa, o Cascão se pendura no logotipo da sua revista para escapar do jato d'água da arma que do Cebolinha, que fica sem entender foi parar o Cacão, pois o banho era certo. A agilidade para o Cascão fugir do banho de forma inesperada também era muito bom. E incorreta por Cebolinha aparecer de arma na mão, mesmo que de brinquedo é proibido atualmente.

A capa dessa semana é de 'Cascão Nº 22' (Ed. Globo, Novembro/ 1987).


domingo, 19 de abril de 2020

Papa-Capim: HQ "Olhos azuis, olhos negros..." / Mudanças do Papa-Capim com roupa


No Dia dos Índios, mostro uma história em que o Papa-Capim encontra uma menina branca perdida na selva. Com 5 páginas, foi publicada em 'Chico Bento Nº 170' (Ed. Globo, 1993).

Capa de 'Chico Bento Nº 170' (Ed. Globo, 1993)

Papa-Capim ouve um barulho na selva e quando vê era uma menina "caraíba" chorando. Papa-Capim pergunta para ela quem é, se está perdida e de onde veio e a menina, que se chama Olga,, por sua, também pergunta quem é ele, mas como falam em línguas diferentes (ele fala em tupi-guarani e ela em português), um não entende o que o outro fala.


Papa-Capim acha que é uma caraíba que se perdeu e Olga acha que ele é um selvagem que vive por lá. Ele diz que nunca viu uma caraíba dr olhos desbotados e faz umas caretas para ver se ela enxerga e acaba se assustando. Ele convida para ir até a aldeia dele e pelo sinal que faz, Olga entende que é para ir com ele e acaba indo por ser melhor do que ficar sozinha.

Na aldeia, Papa-Capim apresenta o seu povo e Olga se pergunta quais as intenções dele de lavá-la até lá. Os índios estranham a caraíba ter olhos da cor do céu e cabelos pálidos como fios de espigas de milho. A mãe do Papa-Capim dá beijus para a Olga pensando que ela esta com fome e faz todos os índios se afastarem dela, pois acha que pode estar doente, já que uma  menina tão diferente e tão pálida  não pode ser saudável enquanto que a menina fala que a comida é boa, mas não sabe por que eles se afastaram dela e estranha também eles serem tão morenos e de olhos tão negros e devem tomar Sol demais.


Papa-Capim fala com a mãe que não importa que a Olga é diferente, deve estar se sentindo muito só e resolve fazer companhia para ela. Assim, Papa-Capim ensina para ela os costume dos índios, oferece água, pega frutas da árvore com arco-flecha, mostra os pássaros da região e ela fica encantada e bem feliz.

Até que o Pajé avisa que os pais dela chegaram para buscá-la. Papa-Capim estranha os pais da Olga ter os olhos iguais aos dela e Pajé comenta que são da tribo dela. A mãe do Papa-Capim comenta que ainda bem que se foi, era uma aberração diferente deles enquanto que os pais da Olga falam também que os índios eram diferentes demais deles. Papa-Capim fala que seria bom se eles não fossem tão iguaizinhos e se alguns deles tivessem olhos azuis enquanto que Olga fala que não há nada de mau ser diferente e não para de pensar naqueles olhos negros do Papa-Capim, terminando assim.


Essa história é muito bonita abordando preconceitos. Mostra as diferenças de raças indígenas e do homem branco tão extremas e como eles nunca haviam visto antes alguém daquele jeito, um estranhou o outro. E ensina a todos não terem racismo, não ter preconceito com alguém só por ter cor de pele diferente.

A mãe do Papa-Capim e os outros índios achavam a menina uma aberração pálida  e com doença só porque nunca viram alguém loira, muito branca e com olhos azuis enquanto que os pais da Olga e até a menina no início achavam os índios uns selvagens. Papa-Capim que mostrou humano e sem racismo e foi o único a fazer companhia quando toda a deixaram em isolamento e se tornou um grande amigo da Olga e ficaram com saudades um do outro quando e separaram.


Muito bom mostrar uma comparação da visão entre os índios e os homens brancos em uma mesma situação. Tipo, ao mesmo tempo que a mãe do Papa-Capim falava que a Olga pálida, a Olga falava os índios morenos e olhos negros de pegar Sol e ao mesmo tempo que a mãe do Papa-Capim achava os brancos diferentes, os pais da Olga achavam os índios diferentes. Não fazem mais histórias assim nem mesmo se for para ensinar, chamar uma pessoa de aberração seria ofensa demais. 

Curioso dessa vez os índios não entenderam a Olga falando e vice-versa, só se entendendo por gestos. Ficou muito bonito já que Papa-Capim e Olga se entenderam mesmo sem falarem nada e isso se diferenciou de outras histórias do Papa-Capim em que homens brancos e índios conversavam normalmente. Boa sacada também de narrador avisando que a fala do Papa-Capim. que era em tupi-guarani foi traduzida para os leitores entenderem o que ele está falando. A Olga só apareceu nessa história, como de costume figurantes em histórias do Papa-Capim.


Os traços ficaram muito caprichados, típicos dos anos 1990. Bom relembrar há exatos 30 anos.

Nela seguiu o estilo padrão dos personagens da Turma do Papa-Capim representando índios primitivos, como sempre foi. Hoje em dia a MSP lamentavelmente estão colocando roupas no Papa-Capim para modernizar e ser a favor do politicamente correto. Primeiro a novidade foi em capas de almanaques, os primeiros foram 'Almanaque da Mônica Nº 80' e depois 'Almanacão Turma da Mônica Nº 5' de 2020.

Capas de estreia com papa-Capim com roupa

Agora nas histórias estão mostrando Papa-Capim assim com roupa, descaracterizando completamente seu núcleo. A primeira vez foi na história "Ondinas", de Chico Bento Nº 60', de 2020. Revoltante. Não dá para entender a implicância do povo do politicamente correto em ver um menino sem camisa em histórias. Já não bastavam as mudanças na Turma da Tina, os emagrecimentos de personagens e agora mostrar índios com roupas. Não gostei. Imagem da história enviada por Xandro.

Trecho da HQ "Ondina" (Chico Bento Nº 60' - Ed. Panini, 2020)

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Bidu: HQ "Atividade difícil"


Em abril de 1990, há exatos 30 anos, foi lançada a história "Atividade difícil" com o Bidu procurando um emprego com a sua personalidade. Com 5 páginas, foi publicada em 'Cascão Nº 85' (Ed. Globo, 1990).

Capa de 'Cascão Nº 85' (Ed. Globo, 1990)

Nela, Bidu chama o seu amigo Rick para fazer corrida atrás de algum carteiro. Rick fala que não dá porque agora é um cão de utilidades e está trabalhando como guia de cego. Depois, Bidu encontra eu amigo Trovão e pensou que estava preso e ele diz que está trabalhando como cão de guarda. Ainda encontra o Rex treinando duro para ser campeão de corrida e dar inveja a Aírton Senna e a amiga Lili sendo adestrada pelo seu dono.


Bidu acha legal seus amigos trabalhando, come um pouco e depois que vai para a sua casinha dormir, se dá conta que só ele que não faz nada e resolve procurar aprender alguma coisa. Primeiro, ele tenta ser cão de caça, fareja um tempo e só encontra uma cadela interessada nele. Depois resolve ser cão de guarda, fica rodando na área, aparece um gato e quando ele vai atacar, é o gato que dá surra nele.


Ao ver o Franjinha, quer ser um cão de luxo, mas acaba trombando no Franjinha, que xinga o Bidu por ter machucado. Tenta ainda ser cão de pesca, mas quase morre afogado ao entrar no rio. Assim, Bidu fica triste e deprimido por não servir para nada, se sentindo inferiorizado, como se tivesse diminuído de tamanho. Até que aparece um cachorro reconhecendo o Bidu como famoso personagem de histórias em quadrinhos e pede autógrafo por ser fã dele. Assim, Bidu reconhece que tem uma profissão, que é artista, terminando assim.


É uma história legal, simples e típica de miolo, mostrando o Bidu à procura de emprego depois de ter visto todos os seu amigos com alguma ocupação e depois de muita luta ele viu que sua vocação é ser artista de história em quadrinhos, que é o que ele sempre fez muito bem. Embora adaptada à vida de cachorros, ensina aos leitores que cada um tem uma vocação, não ficar deprimido se não encontrar logo, é só saber procurar a sua vocação que mais encaixa no seu estilo.


Mistura estilo de história do Bidu como cachorro comum com metalinguagem no final. Legal ver diferentes profissões de cachorros, como cão-de-guarda, cão-guia de cego, cão de caça, entre outros. Bom também ver o Bidu contracenando com outros cachorros diferentes que não estamos acostumados, todos esses só apareceram nessa história. Teve citação ao Ayrton Senna, apesar da leitura não ser parodiada, a grafia foi aportuguesada, diferente do que o nome original dele.


Traços muito bonitos e bem caprichados, principalmente os dos cachorros. Teve um erro do balão do Bidu ao aparecer na frente do Franjinha sem ser de pensamento, já que o Bidu só fala nas história deles de metalinguagens ou com outros cachorros, bichos e objetos, mas não na presença dos humanos. Gosto quando tinham esses erros. Os palavrões do Franjinha não seriam colocados atualmente. Muito bom relembrar essa história há exatos 30 anos.

domingo, 12 de abril de 2020

Mônica: HQ "O roubo dos ovos"

É Páscoa e em homenagem mostro uma história em que Mônica e Magali tiveram que solucionar mistério de todos os ovos de Páscoa desaparecerem. Com 12 páginas, foi história de abertura de 'Mônica Nº 143' (Ed. Abril, 1982).

Capa de 'Mônica Nº 143' (Ed. Abril, 1982)

Nela, Mônica vai a uma loja de doces comprar um ovo de Páscoa bem grandão, só que o vendedor Seu Joaquim avisa que não tem nenhum. Mônica pensa que foi a Magali quem levou, mas ela surge em seguida, falando que não foi ela, que também está procurando um para ela. Seu Joaquim diz que não sabe por que até agora não entregaram remessa dos ovos de Páscoa.


Magali fala que procurou em 15 docerias até agora e não encontrou nem um ovinho. Quando Mônica e Magali saem à procura de outra doceria,  elas encontram o Coelhinho de Páscoa, que estava procurando ajuda. Elas se prontificam a ajudar, ainda mais que a Mônica é bem forçuda, e o Coelhinho leva as meninas para outra dimensão, o Mundo Mágico, bem na fábrica de chocolate dos Coelhinhos da Páscoa.


O Coelhinho diz que estão trabalhando normalmente na produção de ovos, só que quando os ovos vão receber a embalagem na máquina, eles não saem do outro lado pronto para a entrega. Elas falam que deviam procurar um técnico para consertar a máquina com defeito e a polícia e o Coelhinho diz que 2 técnicos e 4 policiais sumiram quando chamaram.


Mônica e Magali entram nos ovos que estavam sendo produzidos, como se fossem recheio, para saberem onde vão parar e acabam sumindo. É mostrado o que acontece dentro da máquina embrulhadora de ovos e é descoberto que aparece uma mão mecânica que leva os ovos até a um alçapão e vai parar em uma caverna de esconderijo de monstros.

Eles comemoram a nova remessa de ovos, felizes por não comerem mais musgos horríveis, até que um ovo fala. Os monstros se assustam, veem que era a Mônica e a leva até o rei deles, Gordão I, que diz que eles são o Povo Comilão, adoram ovos de Páscoa e vão pegar todos os ovos que os Coelhinhos produzirem.


Um outro monstro encontra a Magali comendo ovos no depósito e o Rei Gordão I manda lavá-las ao calabouço. Lá, elas encontram alguns monstros magros, além dos técnicos e policiais da Terra que sumiram. Um mostro pergunta se Magali pode comer porção de ovos só com uma dentada, só ela que pode salvá-los do Rei Gordão I porque pelas novas leis do Povo Comilão, vira rei quem come mais.


Ele conta  a história do povo deles, que antes escolhiam o rei por sabedoria, mas teve um dia que um Coelhinho deixou cair um ovo na rua, eles pegaram, gostaram muito e resolveram pegar poucos ovos nos outros anos quando os Coelhinhos produziam. Depois, resolveram roubar todos os ovos dos Coelhinhos, mas o rei até então impediu e, com isso, sumiram com o rei e elegeram o Rei Gordão I como novo rei e quem foi contra foi parar no calabouço.


O monstro diz também que o carcereiro vai ajudar a tirar a Magali de lá e levá-la até o banquete real para desafiar o rei, já que o carcereiro detesta chocolate e está com rosto empipocado de espinhas. No banquete real, o carcereiro avisa ao rei que ele tem uma desafiante. Rei Gordão I debocha, falando que podia te ruma desafiante melhor e eles começam a comer para ver ganha o desafio de comilões. Ficam horas comendo, chegando a entediar a Mônica, até que o Rei Gordão I começa a passar mal, sai correndo ,e, assim, Magali sai vencedora e decretada a nova rainha do Povo Comilão.


Os monstros acham que houve trapaça e partem para briga, mas Mônica, dá surra forte neles, que acabam desmaiados. Com isso, os ovos de Páscoa são devolvidos aos Coelhinhos, o Povo Comilão volta a se alimentar só de musgos e Magali renuncia o cargo de rainha. No final, o Coelhinho de Páscoa agradece as meninas e elas voltam à dimensão do Mundo Real. Elas chegam bem na hora na entrega dos ovos de Páscoa na doceria e Magali leva um ovo de Páscoa gigante para casa, mas de olho também em comer o ovo de tamanho normal da Mônica.


História de fábula muito criativa mostrando como sumiram os ovos de Páscoa da Terra. Uma grande aventura que mexe com a fantasia e imaginação dos leitores com presença de Mundo Mágico, fábrica de chocolate de Coelhinho de Páscoa, monstros do Povo Comilão que roubaram ovos liderados por um rei e, de, quebra, ainda vemos uma disputa de comilões, para ver que come mais pra ser um rei. Eu gostava de quando os personagens eram transportados do Mundo Real para o Mundo Mágico, sempre  rendiam ótimos roteiros.


Eles gostavam de colocar histórias com Magali disputando com outros comilões pesados para ver quem é o maior comilão, sendo que em histórias assim Magali sempre ganhava. Essa diferenciou um pouco por envolver fábula. Pena que não mostrou qual dos monstros se tornou rei depois da renúncia da Magali, se foi o monstro que contou a história ou se voltou o rei antigo, fica na imaginação de cada um por ter ficado isso em aberto.


Muito bom também o narrador dando mistério o que será que aconteceu com a Mônica e Magali ao sumirem nos ovos. Podiam até colocar um título como Parte 2 na página seguinte, mas na Editora Abril não tinham muito dividir história em capítulos. Acho que os créditos no título podiam ter Magali também, afinal a história foi tanto da Mônica e Magali, e, inclusive, foi Magali que salvou a Páscoa da Terra. Talvez não colocaram nome dela porque ainda não era considerada personagem principal. 


Teve um erro da Magali falar com boca fechada na página 3 da história (página 5 do gibi), um erro muito comum nos gibis da Editora Abril, principalmente nos anos 1970 e que de vez em quando acontecia na Editora Globo nos anos 1990, embora bem mais raro. Outro erro foi a Magali de aparecer de braços brancos no segundo quadrinho da última página. Eu gostava quando acontecia isso. De partes incorretas  para os padrões atuais, a Magali não teria essa gula grande desse nível para comer os ovos de Páscoa, ela nem come mais nos gibis atuais, quanto mais desse jeito e o tema dos monstros roubarem os ovos não seria bem vindo. O título seria alterado também porque a palavra "roubar" é proibida nos gibis atuais.


Os traços ficaram ótimos, típicos do início dos anos 1980, são da fase de transição do final dos anos 1970 e de como ficariam a fase consagrada ao longo dos anos 1980. Dá pra perceber pelas curvas das bochechas das personagens. Só ficaram com traços consagrados definitivos completos a partir de 1985. Termino deixando a capa a capa do 'Almanaque da Mônica Nº 5' (Ed. Globo, 1988), onde foi republicada. As imagens da história durante a postagem foram tiradas do gibi original de 1982.

Capa de 'Almanaque da Mônica Nº 5' (Ed. Globo, 1988)

FELIZ PÁSCOA !!!