sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Chico Bento HQ "O Feijoadeiro"

Compartilho uma história em que o Chico Bento foi responsável de fazer a feijoada do almoço de confraternização da igreja, dando muita confusão. Com 8 páginas, foi história de abertura de 'Chico Bento Nº 76' (Ed. Abril, 1985).

Capa de 'Chico Bento Nº 76' (Ed. Abril, 1985)

Chico Bento aparece na igreja bem no momento que o Padre recebe a notícia pelo telefone que a Dona Gumercinda está doente e desmaia. Chico pergunta por que o Padre não deita na cama, o chão é muito duro. O Padre responde que está perdido e Chico diz que só se for ele, porque sabe que está na igreja.

O Padre fala que é a Dona Gumercida quem prepara o almoço de confraternização e união entre os homens que ele dá uma vez por ano, que reúne desde o prefeito até o trabalhador mais humilde e sem a Dona Gumercinda, a tradição será quebrada. Chico pergunta por que não chama outra cozinheira e ele diz que ninguém sabe fazer feijoada igual a ela.

Chico diz que ele sabe fazer feijoada e o Padre acha que está mentindo, falando que mentir é pecado. Chico lembra que todo dia ia na casa dela, só para ficar espiando e sentir o cheiro bom e de tanto espiar, aprendeu como se faz e sabe até de coisas que ela põe que ninguém sabe. O Padre comemora, o pessoal começa a chegar e enquanto o Padre recebe os convidados, o Chico prepara a feijoada, colocando até os ingredientes secretos, e fica uma delícia.

Quando prefeito chega e todos os convidados reunidos, o Padre avisa que dessa vez quem está fazendo a feijoada é o Chico Bento. Todos se espantam, acham que o Padre ficou doido de colocar Chico no lugar e fazem cara de nojo. Padre fala que o Chico garantiu que ele faz feijoada igual a Dona Gumercinda e que devem dar créditos a ele. 

Os convidados vão olhar o Chico fazer a feijoada, que já estava pronta e aparecem quando o Chico ia limpar o local para o Padre não brigar com ele. Eles veem Chico limpando o pé na tina, o porco Torresmo entra na tina e Chico o lava, falando que não pode demorar porque o pessoal já deve estar com fome, e resolve servir logo aproveitando que está quentinho.

Todos pensam que Chico estava fazendo feijoada com o pé sujo dele e com o porco e fogem com nojo. Chico encontra o Padre sozinho na mesa, chorando e pergunta cadê o pessoal.  O Padre reclama que eles não iam comer aquilo e que tinha falado que igual a Dona Gumercinda e com ingredientes secretos. Chico confirma. O Padre não acredita, mas ao provar, vê que estava deliciosa e igual à Dona Gumercinda. Chico acha todo mundo doido e vai embora. Depois, o Padre resolve fazer feijoada para os meninos da igreja, mas faz do estilo que viu Chico fazendo, limpando pé e lavando porco na água e eles dizem que eles não vão comer. 

História muito engraçada com o Chico Bento fazendo feijoada no almoço de confraternização da igreja no lugar da Dona Gumercinda, que ficou doente. De fato, o Chico fez uma feijoada bem caprichada e igual à da cozinheira, mas os convidados do almoço e o próprio padre interpretaram mal quando viram o Chico lavando seu pé sujo e lavando porco, pensando que os ingredientes secretos da feijoada era aquilo. Todos fogem com medo de comer e depois que o padre prova e achar boa, resolve fazer igual ao Chico, pensando que a feijoada era como ele fez no final.

Mais engraçado foi ver todos pensando que Chico lavar pés e o Torresmo era a feijoada. Antes o Padre tivesse chamando outra cozinheira, não ficaria igual à feijoada da Dona Gumercinda, mas não passaria sufoco com convidados desconfiados e com nojo. Ou então que ele não falasse que era o Chico que estava preparando, deixaria tudo em segredo entre eles e convidados nem saberiam quem preparou já que a feijoada estava gostosa e igual à da Dona Gumercinda. Como Padre não queria enganar os convidados, ser transparente com eles, aí acabou se dando mal. 

Vimos que o Chico é um ótimo cozinheiro, aprender bem só vendo os outros fazerem, só não teve sorte dos outros interpretarem mal. O porco Torresmo, que era do Chico, tinha que estar em casa e não na igreja. As tiradas do Chico respondendo ao Padre como mandar deitar na cama porque o chão é duro quando o viu desmaiado, falar que não está perdido, que sabe que está na igreja, entre outras, foram muito boas também. Bem que poderia ter um almoço anual de união entre os homens na vida real, o mundo anda precisando, em especial o Brasil. 

Dessa vez o Padre não teve nome na história. Na época, o padre não tinha nome nem traços definidos. Na Editora Globo que passou a ter traços fixos e passou a se chamar Padre Lino. A Dona Gumercinda só foi citada nessa história, já o prefeito apareceu algumas outras vezes. Hoje em dia é completamente incorreta por conta de tema religioso, Chico aprontar com Padre, fora Chico cozinhar, já que não aceitam crianças cozinharem, mexendo com fogão sozinhas. 

Traços ficaram muito caprichados. Nas propagandas inseridas na história, dessa vez foi na lateral direita da primeira página das canetas hidrográficas Colorella da "Pelikan". A capa, curiosamente, fez alusão à história de abertura, mais frequente nos gibis do segundo semestre de 1984, mas alguns de 1985 tiveram capas com esse estilo também. Só ficou diferente de quem apareceu na capa, não apareceu na história, como o Zé da Roça. História foi republicada depois em 'Almanaque do Chico Bento Nº 36' (Ed. Globo, 1996), termino mostrando a capa desse almanaque.

Capa de 'Almanaque do Chico Bento Nº 36' (Ed. Globo, 1996)

22 comentários:

  1. Sensacional! Torresmo quando vê recipiente com água limpa, cai "drento", chafurda nele, o oposto de um determinado porquinho de estimação de um certo alguém que reside no urbanizado Limoeiro.
    No quadro em que Lino empurra Chico para cozinha aparecem Seu Bento e Dona Cotinha que, aparentemente, irão adentrar à igreja, curioso não aparecerem na parte (e desta em diante) em que o pároco informa quem é o substituto da cozinheira, pois trata-se do rebento deles - que é nada bento, mas... é um Bento.

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    1. Maravilhosa. Os pais do Chico chegam na igreja, mas não seguem na história. Foi melhor assim, não ia funcionar na revelação que o Chico era o cozinheiro, os pais iam ficar a favor do filho e ia ter briga em vez de união que o Lino queria. Acho que desenhista errou nessa parte da entrada da igreja, intenção do roteirista não seria os pais do Chico entrando.

      Já o Torresmo era o oposto do Chovinista antigo, daquela época.
      Agora considerando o Chovinista atual aí, ele ia ajudar o Chico na limpeza da igreja, ajudando a varrer, passar espanador, todo saltitante. O Chovinista daquela época era um, o Chovinista de hoje é outro porco completamente diferente e descaracterizado.

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    2. Prefiro até o mega sem graça Monicão* antigo do que o Chovinista atual.
      *Personagem originalmente tão insosso que de lá para cá mudou nada, não sofreu efeitos da censura por ser profundamente inexpressivo. Sansão sim, esse é "o cara", insubstituível brinquedo de estimação.

      Certamente foi erro, poderia ter desenhado no lugar dos pais do protagonista dois adultos desconhecidos dos leitores, ou até conhecidos, como, por exemplo, Marocas e Nhô Lau.

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    3. Creio que intenção seriam adultos desconhecidos mesmo, já que todos que participaram do almoço eram desconhecidos e o desenhista se enganou.

      Sobre o Chovinista atual, concordo que o Monicão consegue ser o melhor, já que ele só um cachorro agitado que gosta de fazer bagunça pela casa, existem cachorros assim na vida real. Agora esse porco está decepcionante, deprimente, só olhando imagens dele já desanima. Que deixassem então como o Torresmo nesta história de só gostar de tomar banho, seria mais natural. Olha só essas imagens que separei, com ele limpando pedra com espanador e outra saltitante jogando flores no ar para perfumar ambiente. Constrangedor.

      https://static.wikia.nocookie.net/monica/images/4/45/Chovinista_limpando_a_Dona_Pedra.png/revision/latest?cb=20200306222423&path-prefix=pt-br


      https://encrypted-tbn0.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcRGOl5RlWwZ-O4TartPtTTBNmp2verkrBclMg&usqp=CAU

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    4. Quando surgiu o Monicão,eu já não lia mais os gibis e não ficava muito por dentro das novidades da MSP porque não havia internet,na verdade,tinha acabado de surgir,mas "era tudo mato".

      Eu já tinha uma certa bronca devido aos quatro maiores astros da TM(pelo menos,os que tinham gibis próprios)terem seus respectivos "pets",exceto Mônica,a principal.E eu nunca considerei Sansão,um boneco,e por sinal,os demais leitores também.

      Só li uma HQ com a presença de Monicão,que era meramente figurativa.Pelo visto,Monicão veio apenas para preencher a lacuna do "possuir pet",resumindo sua existência a ser mais inanimado que o Sansão.Sequer tem o gênio de sua dona/tutora,como um bom cão ou "boa Mônica" deveria possuir.

      Isso não significa que deve ser "deletado" ou "cancelado" da TM,basta dar mais personalidade a ele,como é o caso do Mingau.

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    5. Julio Cesar, acho que criaram o Monicão porque deviam receber cartas que todos tinham bichinhos de estimação menos a Mônica. Apesar de eu preferir ela sem bicho de estimação de verdade, mas tenho nada contra ela ter um cachorro fixo, só acho que podia ter uma personalidade melhor, histórias dela com Mônicão acho bobas, lembrando que as dos anos 1990 não eram bobas, ele quase não aparecia, daí você o ter visto como figuração, essa personalidade e cachorro bagunceiro foi adotada a partir dos anos 2000.

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    6. Sou por fora da atual Turma da Mônica clássica, o que sei é que não chega aos pés do que foi no passado, e pelo pouco que tenho acesso percebo que Chovinista parece pior que o próprio dono.

      Confesso que sempre gostei da Mônica desprovida de animal de estimação, diferencia(va) dos demais, sem contar que Monicão, além de inexpressivo, tem um visual pouco (ou nada) atrativo, possuindo algumas características físicas da dona, e tanto em aparência quanto em personalidade, a criatividade passou longe na elaboração desse cãozinho, e é muito, muito diferente mesmo da formidável semelhança entre a barbicha do Bidu e a franja do dono dele, felizmente Franjinha e seu cão não são fisicamente parecidos, assim como Chovinista, Mingau e Floquinho também não têm características físicas baseadas nas de seus respectivos donos, ainda bem. Relação umbilical da Mônica sempre foi, é e sempre será com o coelho de pelúcia, relação com esse abestado cachorrinho é morna, não há química positiva entre eles, em nada concatenam, Monicão só faz volume, personagem monótono por mais hiperativo que seja, só serve para espantar passarinhos e pombos, um espantalho vivo.

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    7. Zózimo, o Monicão poderia ter tido traços diferentes, a justificativa de ele ser assim foi porque o Cebolinha deu o Monicão de presente de aniversário para Mônica no Parque com intenção de sacaneá-la por ver um cachorro com a cara dela em uma loja. O que seria só zoeira, a Mônica se apaixonou e ficou com o cachorro, desbancando o plano do Cebolinha. Deu impressão que o Monicão inicialmente apareceria só nessa história do Parque da Mônica, mas depois viram que dava pra ele ser cachorro fixo, aí colocaram algumas aparições esporádicas nos anos 1990 como um cachorro mais brabo e defendia a Mônica atacando quem a perturbava e as vezes como figuração para o pessoal ir se acostumando e adotaram característica de cachorro hiperativo bobinho a partir dos anos 2000, por causa do politicamente correto.

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    8. Muito bem lembrado! Às vezes esqueço desse detalhe, Monicão é fruto da perseguição que Cebolinha tem com a Mônica, aí já melhor explica algumas semelhanças físicas entre o cão e a guria. Como acho esse personagem deveras bobo, costumo pensar que isso se deu de modo gratuito, mas não, essa de se parecer fisicamente com ela, de fato, tem fundamento.

      Reparando na roupa da mulher de cabelos pretos com coque que aparece no quarto quadrinho da quarta página e nos dois primeiros da quinta (páginas 6 e 7 da edição), vestido branco com bolinhas vermelhas, mesma roupa da que aparece ao lado do pai do Chico, ou seja, trata-se de uma sósia (pelo menos avistada de longe) da Dona Cotinha, o que não há é uma plausível justificativa para aparição do Seu Bento, está claro que não participa do banquete por não se manifestar sobre a impactante revelação de quem é o substituto da aclamada Gumercinda.

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    9. Pois é, tem seu fundamento, mas ainda assim ele era desenhado melhor nos anos 1990, agora parece com cara mais redonda, sei lá rs.

      A mulher do coque, de fato, não é a Dona Cotinha. O desenhista quando viu o esboço do casal entrando na igreja, deve ter pensado que era a Dona Cotinha, no esboço provavelmente tinha mulher com coque e aí desenhou como se fosse ela e colocou o Seu Bento ao lado dela. Definitivamente os pais do Chico não parecem na história.

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    10. O que diz faz todo sentido, é o que chamo de uma boa leitura de bastidor, parabéns, Marcos! Certeza não temos, mas é muito, muito provável que o motivo de inserir equivocadamente Seu Bento tenha se dado exatamente por isto, sua hipótese é bastante plausível.

      Quanto ao porquinho entrar na igreja, considero que está longe de pertencer aos absurdos do lúdico universo da TM, pois cresci ouvindo que "cachorro entra na igreja por encontrar a porta aberta", metáfora que não entendia quando guri. Torresmo não é cão, porém, é de estimação, no rastro de Chico Bento o animal desemboca na "Casa do Senhor", lembrando que está localizada em Vila Abobrinha, pequena e pacata cidadezinha interiorana, ou seja, totalmente possível algo assim acontecer em pequenas cidades da vida real, e não somente as que pertencem ao território brasileiro.

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    11. Valeu! É que roteiristas criam histórias já com esboço dos desenhos pronto para desenhista fazer desacordo como estão no esboço, por isso deduzi isso do erro. E concordo, não considero absurdo do Torresmo estar na igreja nessa condição de seguir o dono, cidade pequena mais fácil ainda.

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    12. Tanto que, com base nos dotes culinários do Chico, o próprio vigário leva um suíno para a sacristia. Sendo autoridade religiosa, e com a visão extremamente puritana do turbinado politicamente correto, para o atual padrão sócio-religioso o ato do padre no final da HQ pode ser facilmente tachado como sacrilégio. Volta, Gumercinda, volta!... Que falta faz a gourmet de Vila Abobrinha, mais apropriado que o nome da bendita fosse "Gurmecinda", com o "R" saindo da quinta para terceira posição.
      Outro detalhe que merece ser ressaltado é o aparelho telefônico da igreja, design centenário para o padrão dos 1980.

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    13. Verdade, seria sacrilégio o que ele fez com o porco, povo ia implicar. Aquela feijoada que estava preparando seria só pra ele e para os meninos vestidos de anjos, que deixaram claro que não iam comer. Quem sabe o Padre Lino marcou outro almoço de confraternização outro dia já com a Dona Gumercinda curada, fica na imaginação. E o telefone que o padre Lino usou já não era utilizado nos anos 1980, era modelo de início do século XX, no máximo. Talvez pra mostrar que a igreja era de construção antiga e pobre sem poder comprar um modelo de telefone atual.

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    14. Fica na imaginação a possibilidade que você aponta, Vila Abobrinha não deve ter passado o ano de 1985 em branco quanto ao famoso almoço anual proporcionado pela paróquia do Padre Lino. Com a saúde da cozinheira profissional recuperada, o evento provavelmente foi remarcado.
      Já que é para ficar na imaginação, que fim levou a deliciosa feijoada do Chico? Teria agraciado alguma comunidade carente? Além do povo, o padre também acredita que foi feita na base da total imundície, mas como termina a trama tentando reproduzir a "receita", imagino que a preparada por ele não tenha sido descartada, no entanto, é um baita caldeirão cheio até o talo, será que foi totalmente consumida? Em momentos de indecisão como o do quinto quadrinho da última página é que Magali faz falta.

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    15. Acho que o Padre Lino comeu um pouco a feijoada do Chico e depois doou para uma comunidade carente, já a que o Padre fez, deve ter jogado fora, viu que ficou uma porcaria. Se Magali tivesse lá, comeria, sem dúvida.

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  2. História maravilhosa! O Chico da era Abril tinha tanta personalidade!

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    1. Verdade, o Chico tinha personalidade forte, era muito bom :D

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  3. Esse era o legítimo Chico Bento: ingênuo, simples e engraçado! Srmpre tinha uma boa dose de humor nas histórias, bem diferente de hoje em dia. Realmente essas histórias da Editora Abril são fantásticas, uma melhor do que a outra!

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    1. Quando Chico era Chico. Adorava quando ele era ingênuo fazendo piadas em cima do que não sabia. Muito mais engraçado, nunca deviam ter mudado.

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  4. Marcos Seria Legal Se A Coleção Histórica Fosse Mensal E Tivesse 460 Edições Aí A Primeira Edição Seria Lançada Em Outubro de 2007 E A Última Em Janeiro de 2046 Aí As Edições 460 Na Verdade Seriam :
    Mônica 14 de 2008
    Cebolinha 46 de 2010
    Cascão E Chico Bento 346 de 2000
    Magali 57 de 2011

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    1. Seria bom, mas resolveram cancelar pra ter a Biblioteca do Maurício de luxo.

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