segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Papa-Capim: HQ "Programa de índio"

 

Mostro uma história em que Papa-Capim e Cafuné se assustam ao ver uma televisão pela primeira vez, achando que as pessoas estavam presas lá dentro. Com 7 páginas, foi publicada em 'Chico Bento Nº 81' (Ed. Globo, 1990).

Capa de 'Chico Bento Nº 81' (Ed. Globo, 1990)

Uma equipe de televisão está filmando a tribo do Papa-Capim para o programa "Brasil Indígena" e ao olhar a filmadora, Papa-Capim comenta que é cada coisa esquisita que carregam e Cafuné acha que eles são uns bobos, mais fácil ver a dança do Pajé sem aquele peso nos ombros. Papa-Capim acha que é um ritual deles e Cafuné diz que precisa ver o que tem na oca que o Cacique emprestou para os caraíbas e eles vão até lá. 

Chegando, Papa-Capim acha que são troços esquisitos, Cafuné diz que parecem inofensivos, mas alguns servem para nada como um óculos escuros, que coloca na frente dos olhos para ver tudo escuro e Papa-Capim encontra binóculos e acha engraçado que vê o Cafuné maior. Depois, Cafuné vê uma televisão, que diz que não tinha visto aquela caixinha e vai mexer. Aperta no botão sem querer e liga a TV na hora de um telejornal e eles se espantam que tem um homem lá dentro, veem e não acreditam e perguntam para ele se está bem e como foi parar ali dentro e acham que é um mal-educado que não responde.

Na notícia, o apresentador informa que a banca "Iutil" (U2) se apresentou ontem na capital e mostram a banda cantando. Os índios falam que tem mais gente lá dentro e que parecem que estão sofrendo por conta do grito que estavam dando. 

Papa-Capim gira o botão para tentar salvá-los e troca de canal, passando o programa "Brasil Indígena" e veem o caraíba que estava filmando a tribo, perguntam como ele foi parar ali e, ao verem a tribo dos Balacobaco na TV, acham que o caraíba é mau, que prenderam todos ali e que vão fazer o mesmo com eles e vão avisar ao Cacique, que vai à oca com outros índios a fim de libertar a tribo Balacobaco que pensavam que estava presa na televisão. 

Viram a televisão do avesso e quando Cacique está prestes a atacar um machado na TV, o homem aparece mandando parar e o Cacique diz que ele quer prendê-los na caixinha mágica como os outros e agora vai ter castigo. O homem ri, diz que tem ninguém preso na TV e mostra que é um aparelho popular entre o povo deles, basta girar botão para gerar imagens e virando outro botão pode trocar de canal e assistir futebol, novela ou desenho animado.

O homem coloca no canal que passava o programa "Brasil Indígena" e os índios confirmam que ele está falando a verdade porque não poderia estar ali e na TV ao mesmo tempo. Cacique pede desculpa, o homem fala que não podiam adivinhar e eles não podem assistir TV porque não tem energia elétrica, aquela funciona com ajuda de gerador e com ela poderiam assistir a mil aventuras sem sair da oca. No final, Cafuné pergunta ao Papa-Capim o que achou daquilo e ele diz que é interessante, mas prefere ele mesmo viver de verdade essas mil aventuras.

História legal em que Papa-Capim e Cafuné conhecem uma televisão e se assustam pensando que as pessoas estavam dentro dela e quando veem índios da outra tribo querem uma forma de como libertá-los de lá com a ajuda do Cacique. Descobrem o que era de fato uma televisão com a chegada do apresentador de TV na oca e Papa-Capim acha que é melhor viver as aventuras de verdade do que ficar assistindo sentado.

A inocência dos curumins era alta, não sabiam nem o que era filmadora, óculos, binóculos e televisão. Tudo era novidade, mexiam sem saber, descobrindo tudo pela primeira vez. De certa forma se tivessem visto depois o programa com filmagens das tribos deles, aí descobririam que eram eles que estariam dentro da televisão. Como estavam filmando, o apresentador tinha que informar para eles antes sobre o que é filmagem para televisão, foi como se filmassem sem autorização deles, nem iam saber que iam passar imagens deles na TV se Papa-Capim e Cafuné não tivessem descoberto na oca.

Foi engraçado Cafuné falar sobre a filmadora que podiam ver a dança do Pajé sem carregar peso nos ombros Papa-Capim dizer para o Cafuné foi coisa feia xeretar e Cafuné dizer que foi investigação para o bem da tribo, se entusiasmarem com óculos escuros e binóculos, dizer que botão de TV era rodela, o susto inicial deles de verem um homem na televisão foi hilário assim como pensarem também que "Iutiu" e os índios da outra tribo também estavam presos na TV, acharem que "Iutiu" estava sofrendo por conta dos gritos da cantoria e tentarem quebrar a TV com machado pra ver se soltavam os índios da TV. 

Foi legal a paródia da banda U2 como "Iutiu" e ainda mostrá-los cantando em Manaus, uma das raras que vezes que apareceram nos gibis e não só apenas sendo citados, e aparecer a Mônica como estavam assistindo desenho animado dela. Além da gente se divertir, ainda teve mensagem que em vez de ficar horas assistindo televisão, o ideal é viver as próprias aventuras, viver a própria vida real e não ficar escravo de televisão deixando a vida passar. Histórias do Papa-Capim costumavam muito ter filosofias assim de que a cultura indígena era melhor que a dos caraíbas.   

Era ótimo o recurso de personagens segurando quadrinho como foi o Papa-Capim no penúltimo quadro da 5ª página. Nesta história foi revelado que a tribo do Papa-Capim fica no estado de Amazonas já que foi transmitido "Jornal Amazonense" na TV, mas não era definida a localização padrão, cada história podia ser em um estado diferente. Cacique algumas vezes era o pai do Papa-Capim, nessa história não foi esse parentesco. Pena não mostrarem nomes dos apresentadores de "Brasil Indígena", eles apareceram só nessa história como de costume de personagens criados para aparição única.

Histórias do Papa-Capim giravam mais mostrando a cultura indígena ou sem eles saberem as coisas dos caraíbas, essas eram as melhores. Incorreta atualmente por não ter mais histórias com índios primitivos vivendo em ocas, carregando flechas, sem saber das coisas da civilização, que não sabem nem o que é  óculos escuros e televisão. Hoje a tribo do Papa-Capim é moderna com eles com roupa, morando em casas sem serem ocas, tem até televisão, não podem mais serem chamados de índios e, sim, de indígenas, além de implicarem com TV de tubo por não gostarem de coisas datadas, índia com seios de fora e também proibidas as palavras "xeretar" e "loucos".

Traços lindos demais, típicos da transição de anos 1980 para 1990, principalmente os da visão da aldeia do Papa-Capim e da selva, sempre eram muito caprichados. Teve um erro pequeno do brilho do cabelo do Cacique ficar branco em vez de azul no 3º quadro da penúltima página da história. 

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