sábado, 10 de outubro de 2020

Papa-Capim: HQ "Um indiozinho casca-grossa"


Mostro uma história em que o Papa-Capim teve que impedir um menino fantasiado de indiozinho de caçar os animais da floresta. Com 4 páginas, foi publicada em 'Chico Bento Nº 34' (Ed. Globo, 1988).

Capa de 'Chico Bento Nº 34' (Ed. Globo, 1988)

Papa-Capim está olhando um pássaro cantando, quando uma flecha quase atinge o pássaro. Foi tacada por um menino vestido de indiozinho, que reclama que errou o alvo. Papa-Capim fala que aquele é um dos pássaros mais raros da floresta e com canto mais bonito que se pode ouvir e que Tupã nunca o perdoaria por uma maldade daquela.


O menino resolve caçar outra coisa e Papa-Capim logo vê uma anta correndo. Ela se esconde atrás do Papa-Capim e o menino manda a anta do Papa-Capim sair da frente da anta. Papa-Capim fala que ela é só um filhote e tão inofensivo como o menino. Ele resolve atacá-la, alegando que se é "inofensiva como ele", seria perigosa, mas ainda assim Papa-Capim o impede de atacá-la e manda caçar outra coisa.

Depois o menino passa, então, caçar um jacaré. Papa-Capim impede, falando que jacarés estão em extinção e proibido caçá-los. O menino desiste e volta para casa que era perto da floresta e reclama com a mãe que tinha um índio chato que perseguia em todo lugar que ia. A mãe fala para ele se se arrumar que vai levá-lo ao parque de diversões. Papa-Capim olha e descobre que ele não era um indiozinho e precisa se preparar porque dará muito mais trabalho quando for adulto enquanto está junto com os bichos que salvou mais outros da floresta.

Uma boa história mostrando um menino vestido como indiozinho querendo brincar de caçar bichos em extinção na floresta e Papa-Capim impedindo. Tem uma boa mensagem de alertar sobre caça de animais silvestres extintos e preservação de natureza. Mensagem boa no final de que se o menino criança já estava com aquela índole ruim, ia piorar quando fosse adulto e se ainda morasse lá, Papa-Capim teria muito mais trabalho para salvar os bichos quando crescesse. 

Ele era bem perverso, sem pena nenhuma dos animais. Inclusive foi boa a comparação do menino não se achar inofensivo quando estava caçando a anta e reconheceu que era perigoso com suas atitudes. Interessante também nessa história ter uma família morando perto do início da selva do Papa-Capim e, com isso, mais fácil o acesso de "caraíbas" à aldeia. Mas muitas vezes era retratado como aldeia ser em lugar bem distante da civilização. O menino não teve nome e apareceu só nessa história. 

Impublicável hoje pelo tema de ter caça de animais selvagens mesmo que seja para ensinar alguma coisa, fora que não costuma mais ter personagens contracenando com esses animais selvagens, mesmo se não fossem maltratados. Palavra "Droga!" também proibido e menino chamar Papa-Capim de anta também não seria bem vindo hoje.

Além disso, linguagem informal como "deixe ela em paz", "caçando eles", hoje eles estão procurando colocar linguagens mais formais sem ser coloquial. O que é uma pena, gibis pedem linguagem informal, fora que em situações assim professores podem colocar como material de sala de aula com exercícios para alunos transcreverem diálogos com a norma culta. Os traços excelentes, tanto personagens como a floresta como um todo foram bem desenhados, dava gosto de ver traços assim. Como era bom ver Papa-Capim sem roupa como índio primitivo raiz, a partir deste ano, mudaram colocando o indiozinho com  roupa assim como os outros índios e deixando uma tribo de índios moderna, inclusive morando agora em casas simples em vez de ocas.

27 comentários:

  1. História e traços realmente excelentes! Como nessa época todos os desenhos eram realmente lindos! Concordo com vc, Marcos, essa ideia de colocarem roupas normais no Papa Capim e casas no lugar de ocas é totalmente desnecessário. Tira muito a essência e originalidade do personagem, também não gostei. Espero que revejam isso.

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    1. Muito lindos esses desenhos, sem dúvida. Nunca deviam ter mudado. E tomara que voltem como era sem roupa e tribo tradicional, mas é difícil MSP voltar atrás com as mudanças que fazem. Ultimamente quase nem tem histórias do Papa-Capim, acho mais fácil ele se tornar personagem esquecido a voltarem deixá-lo sem roupa. Vamos aguardar.

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  2. Marcos,depois que te mostrei as comparações na republicação de "Socorro,quero casar!",pensei que as HQs da turma do Papa Capim não fossem ficar piores que aquilo!
    Mas...estava enganado.

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    1. Conseguiram estragar com ele. Até que era um dos únicos que não tinha mudança por causa do politicamente correto, aí quando mudam é pra detonar.

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    2. Na vida real tá estranho também.Dia desses vi um vídeo de uma tribo Xakriabá,e não eram ocas,eram casas de alvenaria,e os índios estavam vestidos como gente da cidade!Mais pareciam os atuais quilombolas,que também se vestem como nós.
      Nem faz mais tanto sentido chamarmos essas comunidades com esses termos que remetem a selvas!

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    3. Há também um contrassenso na questão da atuação do politicamente correto no núcleo do Papa-Capim, se o mesmo defende o respeito às diferenças não era pra ter colocado neles vestes de caraíbas e mudarem suas residências, descaracterização tão gritante que o preconceito é evidente, nesse caso específico o politicamente correto deu um tiro no próprio pé. Se a FUNAI batesse o pé com a MSP provavelmente teria que rever essa questão, mantendo cobertos apenas seios e glúteos.

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    4. Seios femininos e glúteos?Pois no sexista Instagram sempre se mostraram glúteos,mesmo com a tal "política de nudez" duvidosa,e atualmente aparecem muitas mulheres sem sutiã por baixo das blusas,a fim de desmistificar o "farol aceso",além de buscarem mais conforto ao se vestirem.

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    5. Sim, Julio, mas se atendo ao caso do Papa-Capim com o politicamente correto o contrassenso é impressionante!
      Na Turma da Mônica indígenas não podem mais agirem como tais, a plenitude ameríndia se tornou algo incorreto dentro do universo lúdico de Mauricio de Sousa, com relação ao moralismo que é um braço forte do politicamente correto faz sentido tapar determinadas partes do corpo humano. Por pressão do politicamente correto Milena foi criada para reforçar a negritude feminina na Turma da Mônica e o núcleo indígena está fazendo o caminho inverso ao da novata personagem, está cada vez com menos identidade, cada vez mais mal representado, sendo que era para ser exatamente o contrário dentro da lógica do politicamente correto.

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    6. Zózimo,o que penso é que estamos em processo de evolução comportamental,e revisando atitudes que antes eram consideradas normais e aceitáveis,só que há um exagero,uma dosagem excessiva de politicamente correto,estamos nos tornando paranoicos e idiotas.

      Eu acho ótimo evoluirmos nas relações interpessoais,e também penso,por exemplo,que desenhos animados antigos de Pica-Pau e Tom & Jerry não sejam mais considerados infantis.

      Precisamos de um toque de bom senso e raciocínio para fazermos essas mudanças sociais necessárias.Hoje,mais do que nunca,as mamas femininas são crimizalizadas e tidas como "conteúdo adulto",mas ninguém para pra pensar que elas foram feitas justamente para as crianças!

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    7. Concordo com tudo dito por você, Julio, só estou atentando para uma questão de pauta identitária, as pautas identitárias estão avançando dentro da Turma da Mônica devido ao politicamente correto que apesar de ser muito nocivo para a mesma não é de todo ruim, os indígenas criados por Mauricio estão trilhando um caminho oposto ao das pautas, valorizou-se mais os negros, as mulheres, os portadores de necessidades especiais, fala-se em criar personagens homossexuais e os indígenas necas, estão cada vez com menos representatividade, sendo cerceados de sua autenticidade, de sua totalidade, abolir seios nus é o de menos, entendo a questão apesar de preferir como era antes, o problema é o descaso com esse povo ou povos genuinamente americanos por parte da MSP, está faltando grito ameríndio, o contrassenso é inegável, o politicamente correto está atirando pela culatra na questão do núcleo do Papa-Capim. O assunto é polêmico, melhor dar um basta, não é mesmo?

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  3. Então o indiozinho casca-grossa é fraude? O que me chamou atenção foi a tonalidade de pele, mesmo assim acreditei que fosse indígena visto que existem índios com peles mais claras, a mãe só pode ser hippie ou pelo menos foi quando jovem, deixar o filho criança entrar na mata sozinho e ainda pagando de indígena é coisa de filosofia hippie. É bem coisa de Baby Consuelo ou Baby do Brasil e Novos Baianos.

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    1. A cor de pele dele dava pra desconfiar, mas como as vezes os índios eram pintados assim mais claro, o Papa-Capim mesmo já foi pintado assim, aí pegou todos de surpresa ao ver que ele não era índio. Na época ninguém ligava de criança sozinha na mata, a vezes até Turma da Mônica também ficava na mata, hoje eles iam implicar com isso e não iriam aceitar uma mãe deixar filho na mata sozinho.

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    2. Tem razão, a MSP se tornou uma "censurófila", pode chegar ao ponto dos personagens crianças ficarem enclausurados dentro de suas casas sofrendo de síndrome do pânico. É certo que a clausura intelectual se abateu no(s) Estúdio(s) Mauricio de Sousa.
      O pseudoindígena pode ser uma criança cabocla ou mameluca visto que não tem a mesma tonalidade de pele da mãe. Chamei a mãe de (r)hiponga pelo fato do tamanho do menino que pode ter a mesma idade do Dudu, também pode ser um tampinha da idade do Papa-Capim, sendo a segunda opção libero a mulher da pecha de hippie.
      Marcos, como citei a cantora, há uma história do Papa-Capim onde no quadrão de abertura o mesmo canta um clássico dela todo feliz e saltitante, conhece?

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    3. Hoje seria bem mais normal terem histórias com os personagens em casa jogando no smartphone ou videogame em casa, seria mais a realidade atual ser e os pais aprovarem histórias assim, aí pra eles é perfeito.

      A criança não ter mesma tonalidade de pele da mãe não quer dizer nada, pode ter puxado ao pai ou avós. Mais importante seria que eles morem em frente à selva do Papa-Capim. Não lembro dessa história com música da Baby do Brasil.

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    4. É que imaginei o pai dele sendo indígena, se caso for, o menino não puxou o pai, não é hábil na caça.
      É uma onde Papa-Capim canta mais ou menos assim: "Todo dia era dia de índio...", só lembro deste detalhe, nunca esqueci pois achei cômico um índio cantando isto.

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    5. Pelo contexto o pai do menino não é índio senão ele teria mais respeito à natureza e ao Papa-Capim. A família mora ali perto por alguma razão que não deu pra mostrar por ser uma história curta e objetiva, aí fica na imaginação dos leitores detalhes maiores. Talvez essa história aí cantando seja da Ed. Abril, não lembro mesmo.

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    6. Tem razão! O menino é mimado e malcriado, deve ser filho do boto, a galega morando a poucos metros da floresta foi seduzida por um índio másculo que não passa de um golfinho de água doce, conhece a lenda? Em Chico Bento nº1 ou nº2 da Editora Globo o mito é abordado.
      A história do indiozinho cantarolando tem jeito de ser da Editora Abril, conheci em algum sebo folheando um almanaque que talvez fosse do Chico Bento.

      Era incessante a criatividade nos anos dourados da Turma da Mônica. Chico Bento de braços abertos anunciando seus produtos (que também ficam de braços abertos) é confundido com um deles, bom, o que importa é se pagou, pois gente distraída assim... O espantalho oficial da TM sempre foi o Zé Lelé, Chico também tem um "Q" de semelhança com o inimigo do Batman, quanto ao matuto cidadão que comprou o caipirinha: vai ser distraído assim na Tonga da Mironga do Kabuletê!! Gíria que virou música ou música que virou gíria e que faz referência a um pequenino país da Oceania, uma nação que tem até sobrenome e localiza-se nos cafundós do Judas.

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    7. Criatividade era alta mesmo, por isso que era bom. Sobre a história do boto é de Chico Bento nº 1 da Globo de 1987. Falei um pouco dessa história aqui:

      https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2017/01/edicoes-n-1-da-editora-globo.html

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    8. Olhei lá, Marcos, belo post! Edições de nº1 de 1987 são demais, mudança de editoras foi uma transição importante na trajetória dos quadrinhos da Turma da Mônica, da família Civita para família Marinho, a Panini que já era um fenômeno editorial em escala global já na década de 1980 não combinou tão harmonicamente com a Turma da Mônica quanto as anteriores que são nacionais e bem menores que a italiana, porém são gigantes em escala nacional.
      Marcos, a história do Papa-Capim "O animal desconhecido" é de qual edição?

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    9. A mudança da Abril pra Globo foi legal sem dúvida. "O animal desconhecido" é de Chico Bento Nº 28 de 1988. Mostrei essa aqui:

      https://arquivosturmadamonica.blogspot.com/2013/06/papa-capim-hq-o-animal-desconhecido.html

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    10. Bom saber que tem aqui, conheci em vídeo no início deste ano, até então não sabia que Papa-Capim teve um filhote de onça como animal de estimação. Cachorro que para nós é tão comum, para o índio foi uma baita surpresa conhecer um, ficou encantado com a habilidade de caça da espécie, dando um certo desprezo à oncinha que logo deu jeito de reverter a situação, história interessante!

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    11. Foi boa mesmo aquela. Para o Papa-Capim ver um cachorro foi novidade.

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  4. Eu gosto das histórias do Papa Capim,mas conheço pouco esse personagem,e nas histórias dele sempre tem aventuras.

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    1. Era bom, costumava ter aventuras e conscientização de preservar natureza.

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  5. Pois é, era bom quando dava pra ter reflexão nas histórias. E se nem nos livros se preocupam com norma culta, os gibis é que não devia mesmo. Eles até alteram nos almanaques quando colocavam algo mais informal nas originais, como aconteceu no último Almanaque Bidu e Mingau que comprei. Seria melhor não se preocuparem com isso, manter como era.

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  6. As histórias antigas do papa capim eram muito boas,as de hoje nem tem mais graça.Nem sei porque eles colocaram camisa nele,ficou muito ruim.

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    1. Não dá pra entender essa mudança tao ridícula. O os pais reclamaram de ficar aparecendo praticamente pelados ou MSP não quer mais retratar índios primitivos, querem mostrar os índios da atualidade. Se bobear, foram as 2 coisas.

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