terça-feira, 17 de maio de 2022

Cascão: HQ "A ovelha suja da família"

Em maio de 1992, há exatos 30 anos, foi publicada a história "A ovelha suja da família" em que o Cascão vai passar uns dias na casa dos tios com mania de limpeza. Com 13 páginas, foi história de abertura de 'Cascão Nº 139' (Ed. Globo, 1992).

Capa de 'Cascão Nº 139' (Ed. Globo, 1992)

Nela, conhecemos os tios do Cascão, Zuleika e Gualberto. Zuleica está limpando a casa, chegando a limpar almofada dez vezes, bem ansiosa com a chegada do seu sobrinho Cascão que não o via desde recém-nascido e vai passar uns dias com os tios enquanto os pais viajam. Zuleica reclama com Gualberto não ler jornal empoeirado no sofá, nem colocar os pés no chão e ele pergunta se pode respirar. Em seguida, toca a campainha. Era o Cascão, mas ela pensa que é um mendigo e fala que o caminhão de lixo não passou lá e bate a porta na cara dele.

Cascão toca de novo a campainha e fala para tia Zuleica que é o sobrinho. Os tios se espantam, Zuleica pergunta o que aconteceu com ele para estar naquele estado e Gualberto pergunta se ele sofreu algum acidente e Cascão responde que não que ele lembre. Zuleica acha que Cascão está com amnésia e um banho resolve e ele diz que não vai, nunca tomou banho na vida e o tio comenta que percebe pelo fedor saindo.

Cascão pergunta se pode sentar um pouco porque está cansado. Zuleica não deixa sentar no sofá, nem na cadeira e nem no puff e o coloca para sentar em uma caixa de sabão vazia. Enquanto Cascão toma suco e tio Gualberto faz cara de nojo, telefone toca e era a Dona Lurdinha querendo saber se o filho chegou e se tem problema de ele ficar lá durante a viagem e Zuleica fala para irmã que é trabalho nenhum, será um prazer, fazendo cara de nojo e ao desligar o telefone, reconhece que é falsa.

Zuleica pergunta onde está o Cascão e veem que ele está brincando na lama no quintal. Zuleica reclama que a irmã não teve pulso firme com o Cascão, ela nunca deixaria filho chegar a esse ponto, e com 1 semana lá, vão conseguir modificá-lo, ensinando hábitos de higiene a ele. Cascão volta do quintal sujando a casa com lama, vai ao banheiro e suja privada, toalha e pia, precisando os tios limparem tudo por onde ele passou e depois Cascão vai ao quarto deitar na cama deixando os tios desesperados e Zuleica avisa ao marido para lembrá-la de queimar os lençóis amanhã.

Depois, Zuleica chama Cascão para almoçar, demorou porque tiveram que fazer faxina na casa. Ela fala que precisam ter conversa séria e Cascão prefere contar piada do pinguim resfriado. Zuleica quer falar de coisas importantes como banho, limpeza e higiene. Cascão faz cara de nojo e fala para não dizer isso na hora do almoço porque estraga o apetite e eles estão com fome: ele e o sapo Paulinho. Ao mostrar o sapo, os tios saem da mesa enjoados a ponto de vomitarem e Cascão avisa ao Paulinho que não deve falar coisas nojentas na hora do  almoço.

Depois, enquanto Cascão passava de um lado para o outro, Zuleica limpava logo atrás. Gualberto pergunta até quando eles vão ficar assim e Zuleica diz que é até a semana acabar. Gualberto resolve falar com o sobrinho e o encontra em cima da lata de lixo no quintal tomando banho de sol e sua muito no calor, ficando fedido.

Gualberto põe um pregador no nariz e conta para o Cascão uma história de um menino que não tomava banho, todos fugiam dele até que um dia ficou com muita coceira, resolveu tomar banho e gostou. Cascão sai, dizendo que detesta histórias com finais tristes. Já dentro de casa, Gualberto se cansa  e intimida o Cascão que se ele quiser ficar na casa deles, vai ter que tomar banho.

Cascão pega a sua trouxa para ir embora, aí Gualberto diz que eles querem só o bem dele e se tornar um menino limpo. Cascão diz que igual a eles e discursa sobre a apologia a sujeira, que os tios ficam sempre limpando tudo preocupados com a sujeira e depois vão ter que limpar tudo de novo porque a poeira nunca vai parar de se acumular como teia de aranha e sujeira debaixo do tapete, cada vez que chover vai formar lama porque estão no planeta Terra.

Gualberto conta que se não limpar, vira bagunça, sujeira acumulada provoca doenças, tem que preservar a natureza, fora que a Terra tem três quartos de água. Cascão diz que o que pode fazer se não consegue mudar e Zuleica diz que tem uma solução e em um ponto ele está certo.

Depois de uma semana, os pais do Cascão voltam da viagem e vão buscá-lo na casa dos tios. Dona Lurdinha comenta com Seu Antenor que foi boa ideia de deixar o filho com a Zuleica, em matéria de higiene foi grande influência para o Cascão.  Quando chegam, tem a grande surpresa de ver Zuleica e Gualberto sujos e a casa imunda e Zuleica conta à irmã que enquanto Cascão estivesse morando lá não valia a pena limpar a casa.

História muito engraçada com o Cascão visitando seus tios com mania de limpeza e que não o viam desde que era recém-nascido e não sabiam que ele era sujinho e nunca ter tomado banho, causando muita confusão e constrangimentos para os tios.  No final, descobrimos que foi plano da Dona Lurdinha de fazer viagem e deixar o filho na casa da irmã para ver se ela influenciava a tomar banho, mas não contava que foi o Cascão influenciou os tios que não é problema conviver com a sujeira.

Dona Lurdinha poderia ter avisado a irmã que o Cascão não tomava banho e ajudasse a convencê-lo a ter higiene e também ter levado o filho até a casa da irmã, aí não teria a sua surpresa de descobrir só na hora que chegou. Muito legal ver o espanto dos tios ao saber que Cascão era sujinho, tendo nojo dele e comparando a mendigo, não deixar sentar no sofá, cadeira e puff, a falsidade da Zuleica no telefone, sapo no almoço, Zuleica limpando tudo onde Cascão passava e até mandar queimar lençóis de cama onde ele deitou, o discurso do Cascão de que não adianta limpar as coisas se vai sujar de novo e os tios sujos no final aderindo a filosofia do Cascão. 

Tem até julgamento da educação da Lurdinha com a fala da Zuleica de como ela permitiu Cascão não tomar banho até hoje, não ter sido firme com ele e que nunca criaria filho assim. Irresponsabilidade dos pais permitirem isso, tinham que impor o filho até por causa de doenças que podiam causar sem banho. Só que como são histórias em quadrinhos, nada importa a realidade, vale que Cascão não toma banho e pronto para ficar divertido. 

Histórias com os personagens com seus parentes, principalmente tios distantes sempre eram divertidas, todos os personagens já tiveram histórias assim. Nessa, Cascão teve tios Zuleica e Gualberto, sendo a Zuleica, tia por parte de mãe, irmã da Lurdinha, e o Gualberto tio de consideração por ser casado com a Lurdinha. Eles só apareceram nessa história como de costume de parentes distantes da turminha. Cascão mesmo teve outros parentes de uma história só. Tem até uma semelhança com Cremilda e Clotilde, mas preferiram colocar parentes com essa característica de mania de limpeza para diferenciar.

História serve também como crítica a pessoas com mania de limpar casa toda hora, para maneira, tudo em excesso faz mal. Mostrou também o verdadeiro Cascão dos velhos tempos que era capaz de sair da casa dos tios para não tomar banho. Impublicável por mostrar Cascão com apologia à sujeira, fazendo até seus tios aderirem, com direito a brincar na lama, ficar em lata de lixo, tudo mal exemplo e inaceitável para o politicamente correto. Fora tios com nojo dele por causa disso, achando que era mendigo, Cascão sendo abusado e respondendo os tios, mexendo com sapo sujo. Se fosse hoje, eles iam conseguir pelo menos fazer Cascão lavar as mãos. Curiosamente, até a expressão "Meu Deus" é proibida hoje em dia, não se pode mais falar nome de Deus nas histórias por causa dos ateus, não pode mais envolver religiões e crenças de qualquer espécie. Sempre alteram em almanaques atuais quando tinham "Meu Deus!" nas histórias originais.

O título foi baseado na música "Ovelha negra" da Rita Lee, com letra de "ovelha negra da família", até nos títulos eles eram criativos, encaixou bem a comparação com ovelha suja. Os traços muito bem caprichados, gostava quando personagens apareciam com dentes expostos quando ficavam assustados. Só não gostei da Dona Lurdinha aparecer sem lábios e batom, desenhavam mães assim quando queriam dar mais humor a elas e esse estilo de mães sem lábios foi mais frequente em outros estilos de traços adotados a  partir de 1993. Muito bom relembrar essa história há exatos 30 anos.

25 comentários:

  1. A tia começa como se fosse irmã das gêmeas Cremilda e Clotilde, e ela e o marido terminam como seguidores do Capitão Feio. "Se não pode vencê-lo, junte-se a ele" ouvi muito na infância, é o lema do final da HQ.

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    1. Com certeza, não iam conseguir convencer Cascão na higiene, que deixe então rolar a sujeira livremente. O lema caiu como uma luva. Zuleica ia se dá muito bem conhecendo Cremilda e Clotilde.

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    2. Como se fosse irmã de Cremilda e Clotilde e prima do Dr. Olimpo!

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    3. Tive esse número do Cascão e lembro que,na época,achei uma das capas menos inspiradas do sujinho.Mal sabia eu que,anos mais tarde,seria pior.

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    4. O gibi não me pertence e nem pertenceu, mas lembro bem desta capa enquanto a edição estava em vigência nas bancas de jornais. Também acho bem pouco inspirada.

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    5. Sim, daria pra ser prima do Doutor Olimpo, tranquilamente, iam se identificar bastante. Na capa, o cascão adotou um cactus como peixe, até que não achei ruim, mas tiveram melhores. Ainda assim, essa infinitamente melhor que a dos gibis novos, sem dúvida até as menos inspiradas da Globo eram melhores.

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    6. No primeiro quadro da segunda página (pág.4), Zuleica diz para o esposo não deixar o jornal empoeirado sobre os móveis, mas, em qual móvel estava? Na poltrona ou no movelzinho ao lado? No terceiro quadro da página inicial, o marido está com o braço esquerdo esticado como se estivesse colocando ou pegando algo, e no quinto quadro da mesma, os personagens estão inteiramente visíveis e o jornal não aparece, entretanto, não considero como um erro, muito provavelmente está ocultado entre a coxa esquerda de Gualberto e a lateral interna do braço esquerdo do sofá, visível somente para os tios do Cascão, fora do nosso alcance visual - fora da perspectiva dos leitores.

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  2. Verdade, eles tinham bem afinidade com os leitores de qualquer idade, eram mais humanizados, víamos mais o cotidiano. Uma ou outra educativa pra diferenciar até seria válido, mas o tempo todo fica cansativo, gibi é pra ser cômico, entreter, não cartilha educativa. Sem dúvida eu não desfaço dos meus da Globo nem Abril. Cascão virou outro personagem, qualquer personagem que protagonizasse as história snão faria diferença no roteiro, perdeu sentido ele ter revista.

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  3. Sinto saudade de quando o Cascão era um "porquinho". Nas histórias de hoje em dia ele mal tem medo de água, parece outro personagem.
    E inacreditável não poderem mais mencionar Deus nas histórias, sendo que personagens como o Anjinho e o Penadinho existem. Fora toda a religiosidade nas velhas histórias do Chico Bento...

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    1. Cascão porquinho era bem melhor, hoje é o contrário, usam o personagem pra dar ser representante da limpeza e da higiene. Estragaram com ele. Fica meio contraditório ter Anjinho e Penadinho e não querer ter religião. Nas antigas, podiam, agora, não. Histórias do Penadinho são mais bobinhas, muitas até agindo como crianças, e o Anjinho só protege as crianças da turma e tudo bem bobo também com ele com a Mônica pedindo pra ajudar em coisas banais ou ajudando bichos como o Monicão.

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  4. História muito boa, este sim era o legítimo Cascao, sujinho e sem frescura. Isso rendia roteiros muito engracados. Nunca mais teremos o personagem desta forma, infelizmente. Sobre esse comentário de não poder ter a expressão "Meu Deus " nas histórias é o cúmulo do absurdo. O fato de existir ateus invalida a fé em Deus ou determina os costumes de outras pessoas? Como assim? O que uma coisa tem a ver com a outra? Isso é patético, em que mundo a MSP está vivendo?

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    1. Pois é, esse Cascão nunca mais veremos. Mais fácil vê-lo tomando banho do que assim. Triste realidade. Sobre "Meu Deus", cada vez a paranóia está pior. Já vi algumas vezes essa expressão mudada em Almanaques novos, até porque era bem falado isso nas revistas antigas, eles falando só Deus é mudado. Parece que não querem envolver religião e fé nenhuma ou, quem sabe, não colocar nome de Deus em vão, mas é uma expressão tão comum no dia a dia, absurdo tirarem, nem chega a ter relação a religião. Muita bobeira deles.

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  5. É curioso essa pira de não utilizar a expressão "Meu Deus", visto que ela não é nada religiosa. É simplesmente uma expressão popular usada em qualquer momento!!
    Dá pra ver que eles estão ficando loucos! Percebi que na última edição da Turma da Mônica n° 15 (depois de muito tempo eu terminei comprando a desse mês), na HQ de abertura tem uma cena que o Xaveco e seu cachorro se ajoelham e juntam as mãos (posição clássica de oração), mas usam a palavra torcer ao invés de rezar! . No entanto numa edição do Chico Bento que vi nas bancas de uns dois meses atrás aparece a dona Maricas se ajoelhando e rezando em frente a cama! Parece que no Chico Bento não tiraram isso.

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    1. É, não dá pra entender implicarem até com expressão popular, apesar de ter nome de Deus não é religiosa. Na verdade, nada a ver Deus ser proibido nos gibis. Muito absurdo isso de nem palavra rezar pode, mas podem fazer gestos rezando. Em relação a cena da Marocas que você disse, dá pra entender que eles podem rezar, não é restrito só a Turma do Chico Bento, mas não dizer que é uma reza. Bizarro. Cada vez pior.

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  6. Marcos se o politicamente incorreto não tivesse acabado algumas cenas seriam diferentes hoje ?

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    1. Se não tivesse acabado, aí histórias seriam iguais a antigamente, sem censuras.

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  7. História bem boa! Hoje em dia, turma da Mônica só em sebo mesmo...

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    1. Só em sebo, não adianta. E nem almanaques novos valem a pena porque eles mudam histórias todas a favor do politicamente correto.

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  8. Embora a esposa de Gualberto seja extremamente neurótica para manter onde moram um brinco, isto é, tudo brilhando devido à mais perfeita limpeza, não está nem um pouco errada em chamar o marido na chincha por colocar os pés com sapatos sobre o assento do sofá, afinal, a casa é da (T)tia Zuleica, não da (M)mãe Joana.

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    1. Concordo, foi falta de educação que ele fez. Zuleica exagerava na limpeza, a ponto de paranoia, mas nisso ela estava certa.

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  9. Essa é, sem dúvida, uma das histórias q mais representa a sujeira do Cascão. E pra pessoas mais cultas, podem levar a questionamentos perturbadores: Como por exemplo, quando o Cascão vai fazer número 2, será q ele fica mais de meia hora no banheiro limpando a nojeira com o papel higiênico? E se o Cascão do velho testamento adorava sujeira e odiava limpeza, será q ele tinha fetiche de ver pessoas defecando? (Peço mil perdões por encher vossas cabeças com esses questionamentos traumatizantes. Prometo, se possível, q isso não voltará a ocorrer)
    Mas tái uma coisa q eu não sabia. Como assim "as histórias não podem ter a expressão Ai Meu Deus por causa dos ateus"? Eu tenho alguns parentes ateus na minha família e mesmo assim eles não se importam em falar Ai Meu Deus. Será q a geração tóxica atual chegou realmente a esse nível? (p.s.: eu tenho 16 anos, será q vivi a mesma época da geração tóxica?

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    1. Difícil saber como Cascão se comporta nisso, mas acho que ele ia gostar de limpar cocô e manusear papel higiênico com cocô dele. E bem ridículo não poderem falar "Meu Deus", muita bobeira se for por causa de ateus. Chegam a mudar as falas nós almanaques quando tinham. Cada vez pior o politicamente correto.

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    2. Pois é. Mas ainda temos q juntar nossas esperanças, pois o mês LGBT vem aí. E se o tão esperado personagem Gay não vir agora, não vem nunca mais. Essa é a cartada final pra q Maurício possa se redimir dessas desgraças q aconteceram. Se essa não é a melhor ocasião pra q o personagem homossexual apareça, então eu vou dizer q o comunismo funciona!
      E sobre o lance das fezes, creio q me equivoquei, pois na história "A Nova Babá", Cascão deixa claro seu desgosto ao descobrir q mulheres também possuem a habilidade de defecar. Tudo bem q essa história é meio "Recente", pois foi publicada no final dos Anos 90/Início dos Anos 2000, se não me engano. Mas devo lembrar q essa história foi roteirizada pelo FREAKING Emerson Abreu, o mesmo cara q roteirizou a polêmica história "Tem uma estranha no meu banheiro". E se o FREAKING Emerson Abreu não fez um Cascão gostando da sujeira de fezes, então podemos ter certeza q nosso amigo porquinho não era tão antihigiênico assim, mesmo nos tempos do politicamente incorreto.

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    3. Personagem gay, se vier, pode vir em qualquer mês, mas não seria ruim em um mês de junho pela data. Basta eles quererem.Na fase clássica não lembro Cascão gostar de fezes, na verdade, sem mencionar se aprova ou não. Emerson já começou a mudar personalidades dos personagens, aí não seria parâmetro pra comparar.

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