sexta-feira, 20 de maio de 2022

Papa-Capim: HQ "Um espírito está atacando o Sol"

Mostro uma história em que a tribo do Papa-Capim tiveram que lidar com um espírito que estava prestes a atacar o Sol. Com 6 páginas, foi publicada em 'Chico Bento Nº 31' (Ed. Abril, 1983).

Capa de 'Chico Bento Nº 31' (Ed. Abril, 1983)

Papa-Capim e Cafuné estão caçando peixes em uma canoa quando o Cafuné vê uma sombra no céu e acha que um espírito está atacando o Sol. Papa-Capim acha que o espírito é muito forte porque o Sol nem pode reagir e vão à tribo para pedir ajuda ao Pajé. Chegando lá, eles veem que os índios já sabiam, estavam chorando e apavorados que o espírito vai devorar o Sol e ficar tudo escuro.

Pajé tenta falar com Tupã para não deixar roubarem o Sol deles. Enquanto ele faz a reza, homens brancos que estavam explorando a selva veem de longe, achando engraçado os índios apavorados por nunca terem visto um eclipse e vão lá para acalmá-los. Pajé fala aos "caraíbas" que não podem ficar calmos, o mau espírito está vencendo o Sol. Tomás conta que é só eclipse e os índios acham que o nome do espírito é Eclipse.  

Caraíbas se afastam e ficam vendo os índios pedindo para o espírito se afastar do Sol. Fica tudo escuro com eclipse total e os índios se espantam que a noite chegou durante o dia e Tupã não escutou e acham que é um castigo dos céus. Eles vão às suas ocas para pegarem arcos e flechas e atacarem o mau espírito jogando flechas em direção ao Sol. Coincide com o final do eclipse, a penumbra vai saindo aos poucos e começando a clarear o céu.

Os índios ficam aliviados e comemoram que o ataque deu certo, querendo fazer festa na tribo. Os caraíbas vão embora, achando que os índios eram birutas e se sentindo heróis e ficam animados de contarem a  história para o pessoal da cidade. No final, foi revelado que realmente não era um eclipse, e, de fato, era um mal espírito, reclamando a palavrões que estava ganhando o Sol se não fosse o ataque, os índios é que tinham razão e o Sol rindo da cara dele.

História legal com Papa-Capim e sua tribo querendo afastar um mal espírito que estava atacando o Sol. A princípio seria um eclipse solar, que os índios não tinham entendimento do que seria e nem deram atenção aos homens brancos, achando até que o nome do espírito era Eclipse, mas no final vimos que os índios é que estavam certo e de fato era um espírito, saindo do Sol após os índios lançarem flechas até ele.

Eles gostavam de manter fantasia de uma cultura e por isso No final era um mau espírito mesmo, pra não tirar a fantasia dos índios, além de ter uma piada final, ficou bom. Gostava dessas personificações de astros celestes, como o Sol rindo, até mesmo em capas. O eclipse não foi mostrado didaticamente, apenas citado, o que foi legal para ter algo cômico e as crianças ainda podem pesquisar depois sobre o assunto se tiverem interesse. Papa-Capim acabou sendo figuração, os índios da tribo como um todo que tiveram destaque que ele. Não informaram nome do homem alto de bigode, apenas do baixinho Tomás, e só apareceram nessa história.

Mostra a cultura indígena primitiva, de não entenderem fenômenos astronômicos e apenas acreditarem nas suas crenças. Vimos a fé deles em Tupã, o Deus deles, assim como enfrentarem perigo com arco e flecha e até pescarem peixes com barco e lanças, termo "caraíbas" pra se referir a homens brancos. Eram boas as histórias do Papa-Capim mostrando o cotidiano e a cultura indígena, dava para ver como eram a vida deles e deixar leitores mais próximo deles, sem deixar didático. Inclusive apareceu índia de seios de fora, retratando os índios sem roupa. Normalmente apareciam com penugens como sutiãs, mas as vezes mostravam de topless como nessa. Atualmente tiraram essa ideia da tribo primitiva e todos aparecem com roupa, inclusive Papa-Capim com camisa, bermuda e chinelo. Virou uma tribo moderna.

Além de não poder mais ter tribo indígena primitiva, essa é incorreta atualmente também por ter religião indígena representado por Tupã, não pode mais ter Deus nos gibis, o desmerecimento da cultura deles pelos homens, achando que eram loucos, ter caça de peixes, índios com lanças, arco e flechas por armas serem proibidas, a índia de seios de fora e não pode também palavrões nem palavra "Droga!". 


Traços foram encantadores, ricos em detalhes da selva, arte-final de Alvin Lacerda, que sempre eram envolventes.  Papa-Capim e Cafuné apareceram com brilho de cabelo branco em vez de azul e o Pajé apareceu com cabelos pretos, já que ainda não tinha na época uma definição de traços e nem personalidade da Turma do Papa-Capim, que só passaram a ter histórias desenvolvidas depois do lançamento do gibi do Chico Bento em 1982 e ainda faziam experiências com esse núcleo. Antes, eles só tinham histórias de uma página nos gibis e bem raramente.

Foi republicada depois em 'Almanaque do Chico Bento Nº 12' (Ed. Globo, 1990). Termino mostrando a capa desse almanaque.

Capa de 'Almanaque do Chico Bento Nº 12' (Ed. Globo, 1990)

13 comentários:

  1. Lembro uma historinha parecidíssima com essa, publicado em algum gibi da editora Globo. O Piteco vê um eclipse acontecendo e, achando que é um dinossauro devorando o Sol, organiza a tribo para enfrentá-lo. Talvez seja coincidência, talvez seja inspirada na historinha do Papa.

    Mal compro revistas da Panini, então não sabia que o Papa-Capim atual precisa se comportar como homem branco. Entendo a MSP querer modernizar os personagens, mas essa mudança parece desrespeitar os povos indígenas e sua cultura histórica, para falar a verdade.

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    1. Não conheço essa do Piteco ou não lembro, provável que tenham se inspirado nessa do Papa-Capim, sim. Sei de outra do Piteco de 1 página em que o Piteco avisa a Thuga que vai ficar com ela até escurecer, só que escurece temporariamente do nada por causa de um eclipse, ele vai embora e quando o Sol volta, ela diz pro Sol que até ele está contra ela. Já postei essa aqui no Blog.

      Sobre Papa-Capim com roupa ficou um horror. Nem compro também dessas da Panini, folheando nas bancas, vi que fica muito estranho com roupas e chinelo e até as ocas mudaram pra casas simples. Certas coisas não dá pra modernizar. Vai que foi até próprios índios acharem que era ultrapassado, vai saber. Mas acho que mudaram mesmo pra não aparecem semi nus só com tanga, reclamações de pais.

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  2. Já vi outras HQs do núcelo indígena em que a lua ou Jaci era personificada.Era mais comum com ela,aliás.

    Há,hoje,índios de tribos que andam vestidos como "caraíbas",mas não é regra ou padrão.E entre essas ainda há cerimônias em que o "dress code" é de trajes tradicionais,com seminudez e sem maldade.

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    1. Sim, era mais comum a Lua (Jaci) personificada. A história que você viu deve ser uma de 1993 em que Jaci desce a Terra e conversa com o Papa-Capim. E existem algumas tribos que ainda ficam sem roupa, mas a maioria se modernizaram.

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  3. Há umas índias com "peitchucas" à mostra, bons temp... aliás, excelentes tempos...
    Que Lua mais escrota! É o nosso satélite natural flechado ou é espírito maligno mesmo que virou "tauba de tiro (flecha) ao (A)álvaro"?
    Traços e roteiro primorosos, e que formidável simbiose o núcleo indígena forma(va) acomodado no título do núcleo rural do MVT - Mauricio do Velho Testamento.

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    1. Sim,bons tempos sem maldade,sem conotação erótica como é até hoje nas sociedades indígenas,tanto no Brasil quanto na África,Oceania e Sudeste Asiático,onde os habitantes são muito parecidos fisicamente com os nossos índios.
      Vejam: http://ocdn.eu/images/pulscms/MTU7MDA_/31898f066cd3fcd24e094d11536be686.jpg

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    2. Zózimo, considerando eclipse seria a Lua, mas na história foi revelado que era mesmo um espírito maligno mesmo. Colocavam índias de topless e ninguém reclamava, assim que era bom. Tudo se encaixava na época, desenhos sensacionais, sem dúvida. Papa-Capim reinou nos gibis do Chico, combinou bem. Quase não tinham histórias dele nos gibis da Mônica ou do Cebolinha, era mais reservado pro Chico.

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    3. Verdade, Júlio César. Nem toda nudez é sexual. O programa Largados e Pelados, por exemplo. Contém nudez, mas não é de uma maneira sexual, é só pra aumentar a dificuldade do desafio.

      A sociedade devia parar de associar a nudez ao sexo, pessoas não ficam nuas só por propósitos sexuais.

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  4. Eu também vi essa primeiro no Almanaque. Muito boa. Estragaram com Papa-Capim, bem diferente, principalmente roupas e tribo diferente sem ocas. Chegou a ficar meses sumido provavelmente pra reformular em melhor e agora aparece de vez em quando, descaracterizado. Uma pena.

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  5. Marcos na sua opinião porque ocorreu o declínio nos gibis da msp pode ser o politicamente correto mas também outras coisas e também como seria se a coleção histórica não tivesse acabado não mudaria do 51 prá frente mas seria muito interessante se ela fosse até o 300 mas caso fosse até o 300 demoraria mais de 30 anos pra chegar lá pois ela era bimestral mas caso até o 300 a Mônica seria o 100 da Globo o Cebolinha seria o 132 o Cascão e o Chico seria o 186 e só a Magali seria realmente o 300 demoraria séculos mas acho que até o 300 seria ótimo

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    1. Declínio principalmente por causa do politicamente correto e também por terem passado a fazer os desenhos e letras digitais. Traços contam muito pra atrair interesse. Seria bom se a Coleção Histórica durasse até hoje, podia ser pra sempre, mas até 300 não seria ruim.

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  6. Essa história me lembrou uma outra do Papa-Capim, em que o Pajé conta pra ele e a Jurema a história de um monstro que quer ofuscar a lua e Tupã intervém pra derrotar o monstro, e no final o Pajé diz que é tipo a interpretação deles de um eclipse lunar. Não lembro de quando era, sei que eu li num almanaque do Chico Bento.

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    1. Não conheço essa, enredo semelhante, podem ter se inspirado nessa pra criar, as vezes nem lembrava que já tinha uma de eclipse antes

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