sábado, 30 de setembro de 2023

Bidu: HQ "Vida de cachorro"

 

Mostro uma história em que um cachorro de rua queria ser o novo bichinho de estimação do Franjinha no lugar do Bidu. Com 8 páginas, foi publicada em 'Mônica Nº 198' (Ed. Abril, 1986).

Capa de 'Mônica Nº 198' (Ed. Abril, 1986)

O cachorro Carlito assiste a frangos assados na padaria, o dono o expulsa de lá com medo do cachorro espantar os fregueses. Carlito consegue fugir e fala que o espetáculo dos frangos não estava mal, mas abriu o apetite dele, que o problema de ser cachorro sem dono é que nunca se tem uma hora certa para comer e decide arrumar um dono para ele ou não se chama "Carlito Viralatex da Silva".

Carlito encontra a casa do Franjinha, vê dando comida para o Bidu e escolhe Franjinha para ser seu dono. Carlito toca a campainha, mostra placa para adotá-lo e que se chama Carlito e Franjinha o acolhe, dizendo que vai cuidar dele e vai buscar comida para ele. Carlito pega a comida do Bidu, que estava na coleira e reclama, e Carlito diz que ele almoça todo dia e não vai lhe fazer falta. Franjinha volta com a comida do Carlito, que come tudo, dando raiva no Bidu e Franjinha fala para ele não ser guloso que já comeu todo o almoço dele.

Franjinha diz que não pode ficar com dois cachorros e vai buscar um novo dono para ele. Carlito fala ao Bidu que ele vai ter que sair. Bidu diz que foi com ele que o Franjinha falou e que sempre foi dele. Carlito fala que Franjinha enjoou do Bidu e que tomou a decisão quando encontrou outro bichinho simpático e inteligente como ele. Bidu acredita, fica triste e diz que não aguentaria ser mandado embora pelo Franjinha. Carlito o solta da coleira e Bidu vai embora.

Carlito fala que tinha que ser um deles, aproveita que agora ele vai ter comida quente e abrigo. Franjinha volta, pergunta pelo Bidu que sumiu e depois vai procurá-lo, só que antes, cuida do Carlito, lhe dando bando, leva para tomar vacina, o deixa na coleira e leva a Dona Gertrudes para ser a nova dona dele, junto com seus 15 gatos.

Carlito acha que aquilo não é vida para ele, se solta da coleira e vai atrás do Bidu. Carlito diz que é para ele voltar para casa, o Franjinha está morrendo de saudades, se enganou sobre ter enjoado dele e disse que é o melhor cachorro do mundo, um verdadeiro amigo. Bidu volta, Franjinha fica feliz e percebe que o Carlito fugiu e diz que vai ver que ele não gostou de lá. No final, Carlito diz que ainda não está preparado para essa vida, quem sabe no dia que se cansar de aventuras, mas, por enquanto, prefere curtir a sua vidinha sem dono, mesmo que, as vezes, de barriga vazia.

História legal em que Carlito procura ser adotado, cansado da vida de cachorro de rua, e escolhe o Franjinha para ser seu dono, só que ele já tinha o Bidu e podia ficar só com um cachorro. Carlito finge para Bidu que Franjinha enjoou dele para ele sumir, mas quando Carlito ver as  desvantagens de ser um cachorro doméstico, resolve voltar para rua. 

Se fosse só pela comida, Carlito ia adorar, mas vendo que tinha que tomar banho, vacina, ficar em coleira e possibilidade de morar em casa com 15 gatos, achou melhor ficar na rua. O Carlito foi mal com o Bidu só porque queria ficar no lugar dele, pelo menos se redimiu e foi buscá-lo de volta, quando desistiu de ser cachorro doméstico.

Foi legal ver o Carlito assistindo frangos assados como se fosse uma TV de cachorro, coisa que era bem retratado nos gibis, ele falar todo o seu nome, "Carlito Viralatex da Silva" com destaque era cachorro vira-lata, além do absurdo do Carlito tocar campainha, escrever e mostrar placas que era para adotá-lo e mostrando seu nome. Ele apareceu só nessa história, como de costume de personagens secundários criados para só uma história.

História do estilo do Bidu apenas como cachorro do Franjinha. Mostra comparação das vidas dos cachorros de rua e dos domésticos, alerta de adoção e reflexão de bichos morando na rua e os perrengues que passam, principalmente em passar fome, só que dessa vez na visão do próprio cachorro de rua, que, mesmo que passe fome, acha a vida na rua melhor por ter liberdade e por isso pode acontecer da pessoa adotar um cachorro e depois ele fugir porque preferiu a rua.

É incorreta atualmente por mostrar problemas de cachorros de rua, fazer o Bidu fugir e Franjinha ficar sem ele, tudo que dá ideia de dar pena nos leitores, traumatizar, é proibido nos gibis atuais. Esse final de cachorro voltar pra rua por achar que é melhor, dar ideia de que tomar vacina é ruim, assim como tomar banho também é errado. Se fosse hoje, certamente colocariam Milena na história, cuidando do cachorro com sua mãe veterinária e ele ficar feliz com o novo dono que ela arranjasse.

Os traços muito bonitos, típicos dos anos 1980, teve erro do Bidu falar de boca fechada na 5ª página da história (página 38 do gibi). Foi republicada depois em 'Almanaque da Mônica Nº 47' (Ed. Globo, 1995). Termino mostrando a capa desse almanaque. 

Capa de 'Almanaque da Mônica Nº 47' (Ed. Globo, 1995)

22 comentários:

  1. Por ser um cão vadio, não foi aleatória a escolha deste nome, está clara a referência ao principal personagem de Charles Chaplin, Carlitos é um "maior abandonado", classificado socialmente como vagabundo. "Mendigo alinhado", e isso é tanto por conta do padrão do vestuário masculino de sua época, quanto pelo fato dos rigorosos invernos típicos da Europa. Para o modelo social brasileiro, sejam de qualquer altura do século XX e também da atualidade, mendigos europeus parecem cidadãos de classe média baixa.

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    1. Interessante, nem me liguei a essa associação ao Chaplin, faz todo sentido. O Carlito não deixa de ser um mendigo cachorro assim como o Chaplin.

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    2. Outra característica interessante é que, apesar de "Vida de cachorro" ser creditada ao Bidu, o protagonista é o Carlito. Outrossim é considerável que Bidu divida protagonismo com ele, contudo, não é uma divisão igualitária, pois o foco do roteiro consiste num cão vadio cuja resolução é sair de tal condição e para isto conta com sua capacidade de persuasão, aplicando-a de maneira vil e o próprio destino se encarregando de corrigi-lo, fazendo com que o perfil libertário do vira-lata fale mais alto que o estômago e o anseio por aconchego.
      Maioria dos cachorros que têm donos não desfruta(m) de liberdade, minoria consegue ter as duas coisas. Tive como vizinha uma cadela assim, a vira-lata tinha autonomia para ir e vir. Muitas vezes saía de manhã e dava as caras só à noite, saía de casa desacompanhada dos donos com alta frequência, às vezes mais de uma vez por dia. Quantas e quantas vezes, ao voltar, deu com focinho na porta, pois esses meus vizinhos de outrora não ficavam por conta dessa regalia do animal de estimação deles, quando isso acontecia (e também era frequente), ficava em frente à residência duas horas ou mais até alguém aparecer, era o preço que pagava pelo privilégio que tinha, e que precinho camarada, porque, cães não carecem de privacidade para determinadas necessidades fisiológicas, daí, qualquer lugar é W.C., além de que vira-latas domésticos em comparação com raças que possuem o tal do pedigree lidam muito melhor com a fome quando não podem dar vazão assim que seus estômagos começam a roncar.

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    3. O protagonismo maior foi do Carlito, mas como o Bidu é personagem fixo e conhecido aí a história foi creditada a ele. Infelizmente tem pessoas que tem animais e não sabem cuidar, deixam soltos demais ou deixam presos e eles ficam tristes por isso. Deixar totalmente preso ou maltratar acho pior, se for pra isso, melhor nem ter.

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    4. Essa cachorra que foi minha vizinha já era velha quando a conheci. Animal safo, bem tratado e querido na vizinhança. Como a velhice não abateu o vigor do bicho, faleceu ativa, apareceu morta em algum lugar nas redondezas aonde frequentava. Eu já contava que poderia ter o fim que teve, certamente os donos também não descartavam essa possibilidade.
      Às vezes me coloco na ótica canina para tentar compreender como os cães interpretam as coisas, daí, de acordo com esse sofrível exercício mental, acho que essa cadela aproveitou bem a vida de cão.

      Por mais de trinta e cinco anos acreditei que o principal cachorro da Turma da Mônica fosse um exótico vira-lata, descobrir que é um tipo de schnauzer foi algo que na época me surpreendeu.
      Como somos um povo que padece do complexo de vira-lata, não considero que foi falsa modéstia e sim sensatez por parte do Bidu manter oculto seu pedigree por tanto tempo, do contrário, poderia não cair nas graças dos leitores brasileiros.

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    5. Ela aproveitou a vida, menos mal. Eu também pensava que o Bidu era vira-lata, depois mostraram que era um schnauzer. Ainda assim, tiveram histórias o retratando como vira-lata, então você não esteve totalmente errado esse tempo todo.

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  2. Tenho o almanaque olhei aqui... entrou na coleção recentemente... e não o li ainda, rsrs

    http://blogdoxandro.blogspot.com/

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    1. kkk. Pelo menos tem na coleção, aí quando der, só ler, vai gostar desse almanaque.

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  3. Muito boa! Nota-se também a inspiração na fábula do cachorro e do lobo, em que o lobo se cansa de viver como selvagem e de passar fome, pois que precisava caçar para comer, e a caça não era garantida. Então vai procurar um dono, e aí encontra um cachorro de um fazendeiro, que lhe explica como a vida é boa, com mais de uma refeição por dia, amor e carinho. O lobo só vê as vantagens e se empolga para se apresentar ao fazendeiro, quando percebe que o cachorro está amarrado. Ele pergunta o que é aquilo, ao que o cachorro responde que é uma coleira. Espantado com o fato de que o cachorro vivia preso, o lobo desiste da idéia, afirmando "preferir a magreza de homem livre à gordura de escravo".

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    1. Certamente foi inspirada nessa fábula, os roteiros se encaixam perfeitamente. Ideia que queriam dar que liberdade era mais importante, mesmo que tenham algumas desvantagens.

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  4. Bem que eu conhecia essa historinha! Tenho-a no Almanaque mostrado.

    Adoro a piadinha de capa da revista de 1986!

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    1. Sonho compartilhado é o que há nesta piada de capa.
      Talvez seja possível duas, três ou mais pessoas sonharem com a mesma coisa, agora, sonharem concomitantemente, aí, só no lúdico, só como ficção mesmo.

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    2. Pedro, legal que conhecia essa pelo menos no almanaque. A piadinha da capa de 1986 foi ótima, bem absurda, típica de histórias em quadrinhos, o que vale é se divertir.

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  5. Bidu e Franjinha completam 65 anos em 2024, mas quase certo que não vai ter publicações especiais sobre isso. Abraços.

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  6. Sim, vai ter relançamento de Mônica Especial de Natal #16 e vai estar as #16 e #17 disponíveis nas bancas em novembro. Abraços

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  7. Essa história é sensacional! Criativa e bem desenvolvida, esse cão Carlito teve um papel destacado nessa história, saiu-se muito bem! E esse gibi 198 da Mônica da Abril então, é bom demais! Consegui adquirir esse gibi há uns 2 ou 3 anos atrás, um gibi que desde criança eu queria ter. E esses traços são lindos,, como gosto dessa fase final da Editora Abril, são meus gibis favoritos.

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    1. Pois é, bem cativante essa história, mesmo o Carlito sendo mal com o Bidu, não se saiu um vilão, só estava defendendo seus interesses. Traços maravilhosos. Sem dúvida foi uma excelente fase deles em tudo, legal que conseguiu esse gibi, são esses que valem a pena adquirir.

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  8. O quão fortes serão as mandíbulas do Carlito, se ele consegue cortar cordas com uma dentada só?😋

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    1. Verdade, ele cortou a corda do Bidu e a da própria coleira. O almoço deve ter fortalecido rs.

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  9. Eu lembro dessa história de quando era criança. Eu lembro que ficava com pena do Carlito, de barriga vazia no começo, mas ainda via ele sendo malvado com Bidu e mudei de idéia, quase pareceu um cachorro valentão, deu raivinha nessa hora. Aquela parte que ele chora por tomar banho e depois por tomar vacina, achei bem merecido. Fiquei com peninha do Bidu, não merecia ser tratado daquele jeito (mas ao mesmo tempo, achei ele meio ingênuo demais em acreditar que o Franjinha simplesmente enjoou dele assim, como se não tivesse fé no amor do dono de anos). Ainda assim uma boa história com um final felizinho. E espero que o Carlito ainda viva muita coisa antes de decidir ser cachorro de alguém de novo, esse aí tem muito que aprender e também merece mais!

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    1. É, a gente senta pena e raiva do Carlito na mesma história, sendo que deu maus pena do Bidu, principalmente quando sai de casa. Bidu também não devia acreditar em qualquer coisa, podia ter se livrado se não creditasse. Bem merecidos os castigos do Carlito, fazerem coisas que ele não gosta. Um dia o Carlito ia querer um lar, naquele momento só queria curtir a vida.

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