sexta-feira, 28 de janeiro de 2022

Mônica: HQ "Sem torneirinha"


Em janeiro de 1992, há exatos 30 anos, era lançada a história "Sem torneirinha" em que a Mônica e a Magali desejam ter uma "torneirinha" igual aos meninos para fazerem xixi em pé. Com 10 páginas, foi história de abertura de 'Mônica Nº 61' (Ed. Globo, 1992).

Capa de 'Mônica Nº 61' (Ed. Globo, 1992)

Mônica e Cebolinha estão jogando peteca quando Cebolinha sai correndo apertado para mijar.Mônica fica atenta que o Cebolinha mija em pé. Depois voltam com a brincadeira e Mônica é que fica apertada e vai mijar. Só que ela se esquece que não tem torneirinha e acaba se mijando toda. 


Mônica vai para casa tomar banho, troca de roupa e quando volta para brincar, Cebolinha fala que vai embora, ela demorou muito e vai jogar bola com o Cascão. Em seguida, chega a Magali querendo brincar de peteca e a Mônica pergunta para a amiga porque elas não tem torneirinha. Magali pergunta se não tem torneira na casa da Mônica e ela diz que é a torneira que os meninos têm. 


Magali fala que elas não tem porque são meninas e se elas tivessem, seriam meninos porque só eles têm. Mônica fala que elas podiam ter torneirinha e não deixariam de ser meninas, uma a mais ou a menos não mudaria em nada e elas podiam fazer xixi em pé. Elas desejam ao "Papai do Céu" uma torneirinha, ficam esperando e nada de aparecer. Elas esperam mais um pouco e nada e Magali pergunta se Ele não ouviu e Mônica fala que a mãe dela disse que Ele está em todos os lugares e Magali deduz que Ele não quer dar.


Mônica resolve pedir para outra pessoa. Magali diz que na loja de construção tem bastante torneira. Elas vão até o laboratório do Franjinha, que dá gargalhada ao falarem o que queriam, e Mônica bate nele. Depois, elas fazem pedido a um poço dos desejos, que dá 2 torneiras para elas. Mônica fala que quer uma igual do Cebolinha e o poço dá gargalhada delas. Depois dessa, Magali se contenta que elas nunca vão ter torneirinhas e vai para casa para almoçar e Mônica vai para casa dela.


Em casa, Dona Luísa vê a filha chorando e pergunta o que houve. Mônica diz que ela não tem uma torneirinha como o do Cebolinha para fazer xixi em pé. Dona Luísa fala que só os meninos tem torneirinha. Mônica pergunta por quê, se ela tivesse não ia deixar de ser menina. Dona Luísa explica que quando a filha nascesse toda carequinha, enrugadinha e com torneirinha, o médico ia dizer que era homem, Mônica deduz que quando soubessem que ela era menina seria tarde demais. 


Dona Luísa pergunta o que faria com os carrinhos, bola de futebol e Mônica complementa que ela não ganharia o Sansão e que as meninas nascem sem torneirinha para não confundir os outros e Dona Luísa complementa que também por isso. Mônica estranha a mãe ter falado "também" e Dona Luísa diz que quando ela crescer mais um pouco ela explica.

No final, Mônica vai para o quarto brincar com o Sansão. Magali aparece depois lá e Mônica fala que é melhor não terem torneirinhas e convida a Magali para elas brincarem como duas meninas. Mônica diz que quer brincar de futebol, Magali fala que isso é coisa de meninos e Mônica pergunta por quê, começando de novo toda a dúvida de meninos contra meninas.

Essa história é legal com a Mônica querendo ter uma torneirinha para fazer xixi em pé como os meninos e ser mais prático, mas não sabia que era impossível ter. Foi bem engraçado ver a Mônica reparando no Cebolinha mijar em pé, Mônica se mijar,  todo o seu dilema de ter uma junto com Magali precisando pedir para Deus, Franjinha e até poço dos desejos, o trocadilho de torneirinha de "pinto" dos meninos com torneira de água, Franjinha rir e depois fica com dor após a surra, o poço rir da cara delas e toda a explicação da Dona Luísa sob a ótica de uma criança entender.

História mostra uma grande dúvida das crianças de querer saber por que os meninos tem pinto e as meninas não, por que meninos fazem xixi em pé e meninas fazem xixi sentadas e ensina as diferenças sexuais para as crianças de forma que elas entendam e sem deixar piegas.

Para a Mônica ter a torneirinha não faria diferença de ela ser menina, mas com a explicação da sua mãe viu que a torneirinha faria toda a diferença de identificar quem é menino e quem é menina. Não foi revelado o outro motivo da diferenciação em relação a sexo, só ficou a entender quando a Dona Luísa falou "também" em relação ao que ela falou. Ficou só subtendido, apesar das crianças que leram, ficarem com curiosidade de saber o outro motivo a qual se referia a Dona Luísa.

Também é discutido no final por que só meninos podem jogar futebol e as meninas não. Na época tinha o machismo e o conservadorismo de certas coisas serem feitas apenas por meninos e outras só por meninas. Tipo, tinham regras que meninas não podiam jogar futebol e meninos, sim,  meninas brincam de casinha e bonecas e meninos, de carrinho, meninas vestem rosa e meninos vestem azul. Seria um escândalo menino brincar de boneca, por exemplo. 

Hoje a sociedade mudou e não tem mais essas diferenças, tanto que nas histórias antigas só os meninos jogavam bola, com raras exceções de quando queriam abordar assuntos, mas mesmo assim, normalmente as meninas se davam mal jogando bola, eram mostrados os meninos com mais habilidade. Hoje eles colocam meninos jogando bola com as meninas normalmente sem distinção, assim como meninos e meninas frequentarem o clubinho que eram só dos meninos antigamente, por exemplo.

Prova também isso na parte de se Mônica tivesse torneirinha ao nascer e descobrissem que era menina anos mais tarde, que a mãe não saberia o que fazer com bola e carrinhos que tinha ganho porque as meninas não podiam brincar com essas coisas e não ganharia o Sansão porque menino não brinca com bichinho de pelúcia. Hoje Mônica poderia fazer tudo isso normalmente. Impublicável por mostrar um assunto assim de cunho sexual e acharem que é inapropriado para crianças e ordens do que é certo ou errado de meninos e meninas fazerem, fora aparecer Cebolinha e Mônica mijando no chão, envolver religião com "Papai do Céu" e Mônica surrar o Franjinha.

Na parte da Mônica trocar mesmo vestido após ter se mijado porque ela tem várias roupas do mesmo modelo no guarda-roupa. Era legal quando retratava isso em relação às roupas dos personagens e justificativa de ficarem sempre com as mesmas roupas.

Traços muito bons e caprichados. Pena as cores mais escuras como resolveram deixar nos gibis de 1992. Na capa do gibi, foi a estreia do "Mauricio de Sousa Editora" embaixo do logotipo da Editora Globo, em todos os gibis a partir de janeiro de 1992 passaram a ter esse selo para indicar que são gibis da MSP. De início ficava bem estranho, descobrimos que Maurício já tinha uma editora, depois se acostumamos, só ficou uma poluição a mais nas capas. Curiosidade que os gibis do 'Cascão Nº 130' e 'N° 131' daquele mês esqueceram de colocar ou porque não tinha espaço para colocar, mas a partir da N° 132' seguiu em todas as edições. Muito bom relembrar essa história há exatos 30 anos.

35 comentários:

  1. Tenho ou tive esse gibi e lembro muito bem dessa HQ de abertura.

    "Torneirinha" não é possível,mas hoje se tem um quebra-galho,um "Woman Free" da vida.

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    1. Deve ter ainda, tomara que sim, gibi muito bom esse. De fato quebra o galho mesmo.

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  2. Por detestar torneiras faltou Cascão no roteiro, renderia uma boa piada.
    As gargalhadas do poço dos desejos e do Franjinha são traduzíveis em "Sabe de nada, inocente!" - célebre frase de Compadre Washington.

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    1. O Cascão foi só citado, não apareceu nessa. Não seria ruim aparecer com o trocadilho da torneira, mas procuraram mais dar foco nas meninas. E rachei de rir com poço dos desejos rindo, absurdo muito bom, sempre rendiam histórias legais com poços dos desejos.

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    2. Primeira gag abordando ojeriza do personagem com torneiras está na capa de Cascão nº18 de 1983. Por algum tempo pensei que nessa capa não havia piada, a considerava óbvia, simplória para uma época de extrema criatividade, depois minha ficha desengastalhou, saquei a sutileza da gag, o negócio se resume à perspectiva, Cascãozinho diante de uma torneirona, fundamental a diferença entre os traços das duas partes do gramado indicando proximidade e distância.

      Os poços movidos à base de moedas são demais! O mais abrasileirado deles encontra-se em "Totalmente demais!" (Cebolinha nº6 1987), o guri pede fiado e o poço dos desejos atende, pocinho gente boa esse, "pendurar", "colocar no prego", "fiado", "verdeamarelismo" na veia, tem que ser tupiniquim ou extremamente simpatizante, fiado é coisa nossa.

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    3. Teve piada em Cascão 18, o medo de ver a torneira, mesmo estando distante, legal aquela capa. E muito boa a história de Cebolinha 6, tem que ser bem pobre pra não ter uma moeda de menor valor possível pra dar para o poço dos desejos.

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    4. Cebolinha está liso em "Totalmente demais!".
      Não sei qual postura é mais engraçada, fazer fiado ou devolver a moeda investida, é o que acontece na HQ de encerramento da última edição dele pela Editora Abril. "Satisfação garantida ou seu dinheiro de volta" é o lema daquele poço.

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    5. Fazer fiado acho mais engraçado, inimaginável essa atitude em primeiro momento. Mas devolver é bem legal também.

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    6. Também acho, mas devolver é mais nonsense, pois se desloca de onde está instalado, nem precisou de Cebolinha se dar ao trabalho de reclamar, tentar reaver a moeda, ressarcimento parte do poço dos desejos, pocinho honesto esse, pouco combina com nossa cultura onde tentativa de passar a perna é por metro quadrado.

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    7. Olhando por esse lado, concordo também. De qualquer forma, as 2 situações são bem engraçadas.

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    8. Mas continuo achando mais engraçado o que faz fiado. O que devolve consegue ser mais absurdo, acho até que considerando os níveis ético e moral do bendito, se a tenebrosa Samara de "O Chamado" morasse nele, dependendo do que aprontasse quando estivesse fora, provável que fosse atrás dela na tentativa de contê-la, é um poço que gosta de tudo nos conformes.

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    9. Verdade, tudo nos conformes para o poço.

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  3. Já vi história da Mônica batendo no Cebolinha por ele urinar na rua. Outra coisa politicamente incorreta foi o Cebolinha continuar a brincadeira com a peteca sem lavar a mão e a Mônica ainda pegar na peteca suja de mão de mijo do amiguinho.

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    1. Ah, e outra história com essa pegada de menina querendo ser menino foi na Mônica 80 da globo, de 1993, "Papai queria menino" onde a Mônica passa a se comportar que nem menino pra agradar o pai

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    2. Verdade, não tinha lugar pra lavar as mãos e acabavam não lavando mãos depois de mijar, iam achar bem errado. Teve história com Mônica batendo nele por ter mijado e muito boa essa história de Mônica 80 com ela se comportando como menino, gosto bastante dessa.

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  4. Essa história seria bem modificada hoje, sem dúvidas. Essas logomarcas da "Maurício de Souza Editora" só fui ver em julho de 1992, na edição 67 do Cebolinha que comprei naquela época. Eu ficava meses, às vezes quase um ano sem comprar um único gibi e depois de um tempo, comprava vários. Não sei se eu enjoava, mas eu perdia o interesse em comprar gibis em alguns momentos. Além disso, era caro e nem sempre tínhamos dinheiro para comprar. Isso acontecia com vc, Marcos?

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    1. Eu comecei a colecionar depois da logomarca nem conhecia essas sem só agora adulto

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    2. Ricardo, ela nem seria publicada e se ainda aceitassem o tema iam alterar toda, deixando didática demais. Interessante que você enjoava por um período as vezes, comigo nunca aconteceu de enjoar por completo, mas as vezes implicava com um personagem e ficava algumas edições deles e depois voltava. Agora sem comprar nada, não aconteceu, só quando acabei de colecionar de vez, mas aí porque já estava começando a ficar as histórias diferentes e também já era adolescente de 15 anos, o que influencia também no gosto.

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    3. Miguel, quem passou a colecionar nos anos 1990, aí é o contrário e estranha não ter o "Maurício de Sousa Editora" nas capas. O mesmo deve acontecer com você em relação aos códigos de barras, quando você começou a colecionar já tinha código de barras e não sabia que antes não tinha.

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    4. Pra mim código de barras foi inventado pros leitores de computador antes não havia e portanto não havia necessidade aliás nem imagino bancos sem computadores

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    5. Miguel, acho que foi mais pra organizar estoque, acho que foi mais válido pra alimentos industrializados e produtos de supermercado, por exemplo. Mas gibis e revistas acho desnecessário até hoje, servem só para os vendidos vem livrarias. Já em bancas de jornais nenhuma tem leitor de código de barras, vendem olhando só o preço.

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    6. Realmente mas é porque podem ser gebs8das qualquer lugar inclusive livrarias aí vai com o código

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    7. Miguel, com certeza foi pensando em livrarias e mercados pra incluírem códigos de barras em gibis e revistas.

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  5. Essa história e bem profundas.essa parte da torneirinha seria um preconceito com as pessoas trans...o mundo mudou bastante e o que era piada antes hoje é meio mal visto pra alguns..ainda sim realmente mulheres se sentem desvantagem de não poder fazer xixi em qualquer lugar igual homem....eu sempre fui um homem esquiausio criança gostava de fazer xixi na rua mesmo qdo mandava..faz aí....outra coisa é tirar camisa nunca gostei tb porque minha mãe falava que eu mal Posrurado corcunda..mais velho passei a gostar de ver os outros sem camisa maia já é outra história

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    1. Sim, mudou muito a sociedade, era bem machista e intolerante, o homem sempre ficava na vantagem na guerra dos sexos, se fizessem essa história hoje teria muito mimimi sem dúvida.

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  6. Nossa, realmente uma história inimaginável nos dias de hoje. Com certeza se "viralizasse" agorinha, amanhã já haveriam protestos na frente da MSP e o Maurício seria extremamente criticado e cancelado. Como alguns já fazem pelas situações que sempre foram comuns na turma. Incrível ver como as coisas mudaram, e infelizmente nem todas pra melhor.

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    1. Pois é, mudou muito. Hoje seria motivo de processo para o Maurício se publicasse essa história. Iam falar muito.

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  7. Verdade, a época era diferente. Aliás, na minha opinião, hoje em dia(na vida real) as pessoas deviam estranhar é a história de separar brinquedos por gênero. Eu sei que se eu tivesse filhos, não ia me importar com um filho brincando de boneca ou uma filha de carrinho. Só me preocuparia com o preconceito que um ou outro sofreria, tanto de outras crianças quando de adultos.

    Mas se a sua opinião é outra, tudo bem também.

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    1. Eu também não incomodaria com que filho ou filha estava brincando, acharia normal. A sociedade antiga é que implica, achando errado isso.

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    2. Quem é religioso diz que é sinal de filme dos tempos..que menino veste azul e menina rosa e no fim que devemos casar e ter filhos pra roda continuar girando

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    3. Pois é, Miguel, reclamam por qualquer bobagem, nada a ver essas coisas.

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  8. Eu me lembro que esses tempos quiseram criar um bafafá danado com essa história, dizendo que é apologia à transsexualidade pra menores, um negócio digno de Damares. Eu já tinha lido essa história e sacado o contexto, é uma curiosidade da criança. Lembro até de uma piada que tinha, que o menino e a irmãzinha são postos pra tomar banho juntos, e quando ele olha pra ela pelada ele diz "menina não tem jeito, vive perdendo as coisas!" Isso é a ingenuidade da criança falando, não tem nada de malícia. Por isso que existe aquela máxima, que quem vê maldade em certas coisas é porque procura a maldade.

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    1. Isso aí, foi criada exclusivamente pra tirar dúvidas das crianças, entrar no mundo delas. Povo hoje cria maldade em tudo onde não tem, é muito mimimi. Por isso o mundo está chato.

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  9. Por quê futebol também pode ser coisa de menina, como é mostrado na história?

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    1. Porque existem times de futebol feminino, não querem deixar como esporte só pra meninos, direitos iguais.

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