quinta-feira, 4 de abril de 2024

Chico Bento: HQ "Lobichico"

Mostro uma história em que o Chico bento vira lobisomem após levar uma mordida no nariz de uma cadela. Com 8 páginas, foi história de abertura publicada em 'Chico Bento Nº 33' (Ed. Abril, 1983).

Capa de 'Chico Bento Nº 33' (Ed. Abril, 1983)

Chico Bento ouve um choro atrás da moita enquanto caminhava na chuva, vê que era uma cadela e a leva para casa dele. Coloca um cobertor na cadela para protegê-la do frio e lhe dá comida. Ela come tudo e dá uma mordida no nariz do Chico como forma de agradecer e ele diz que se estava ainda com fome, era só falar e não entende da cadela dar mordida e agradá-lo depois.

A chuva para e Chico sai para ir para o ensaio do coral da igreja e estava atrasado. No caminho, Chico coça o nariz com os pés e anda que nem um cachorro. Ele não entende por ter andado assim, tenta andar de pé e não consegue e vai pedir ajuda ao padre. Chegando na igreja, o padre reclama do atraso do Chico para o ensaio, manda colocar a roupa de coral e que não adianta vir com o rabo entre as pernas.

Chico caminha de quatro com rabo pela igreja, o padre quer saber por que foi fantasiado para o coral enquanto Chico vestia a roupa. Quando acaba de vestir, veem que o Chico se transformou em um Lobisomem. Todos saem correndo da igreja com medo, Chico tenta ir atrás, só que homens tentam atirar com espingarda no Chico, que foge deles. A cadela segura o Chico atrás da moita e consegue se livrar deles. Chico lamenta ter virado Lobisomem, nem os pais não vão querer saber dele, quando aparece a Rosinha, que desmaia ao vê-lo assim. 

A cadela, apaixonada, puxa o rabo do Chico para dar atenção a ela, Chico dar um chute nela, dizendo que estava cuidando da Rosinha e achando que ela era enxerida. A cadela morde o rabo dele e vai embora chorando enquanto o Chico volta ao normal. Enquanto corre, a cadela se transforma em em menina e Chico vê e descobre que era uma "lobismulher". Rosinha não entende e Chico volta para o coral da igreja. No final, já em casa, Chico fica uivando, olhando a menina que era cadela que estava em frente à casa, mas diz ao pai que é ensaio para o coral da igreja e Seu Bento acha que a música é esquisita.

História legal em que o Chico Bento se transforma em lobisomem (ou por que não "lobismenino") depois de levar uma mordida de uma cadela que era uma "lobismenina" e apaixonada por ele. Passa vários sufocos até voltar ao normal depois da cachorrinha dar mordida nele por não ter gostado de ser trocada pela Rosinha. Depois de ter descoberto tudo sobre a cadela, fica uivando para ela no final.

A cadela foi uma mistura de "lobismulher" com vampira já que a mordida que fez com que o Chico se transformasse em lobisomem e mordida no rabo o fez voltar ao normal. Mordeu como agradecimento do Chico a ter ajudado a sair da chuva e por ter gostado dele e seria melhor que ele fosse um lobisomem para que lhe fizesse uma companhia melhor. Deu uma pena dela no final, não se deu bem e só apareceu nessa história. Chico acabou traindo Rosinha vendo a menina bonita, na época, as vezes, ele tinha interesse por outras meninas mesmo a Rosinha já sendo sua namorada oficial.

Vimos que a transformação do Chico foi devagar, a princípio parecia um cachorro até transformar em um lobisomem de verdade na frente do padre. Engraçado ver o Chico coçando nariz como cachorro coça pulgas, andando de quatro, aparecer rabo, a reação do padre ao vê-lo como lobisomem, a fuga com os homens atirando, definitivamente Chico passou bastante sufoco.

Eram comuns histórias de personagens se transformando em alguma coisa nos anos 1980 e 1990, sempre eram divertidas e tinham um motivo diferente para tal transformação. O Padre Lino ainda não tinha nome nos primeiros anos dos gibis do Chico Bento, era chamado só de padre. Nessa, ele até teve traços do jeito que a gente conhece hoje, mas ele era desenhado diferente a cada história. Parece que depois gostaram mais desses traços do Padre Lino e permaneceu assim. E nota-se que ele era bem grosso e impaciente com o Chico, brigava com ele por qualquer coisa.

Deu para notar que o caipirês do Chico era diferente nos primeiros gibis do Chico, com destaque com palavra "mió" que depois mudaram para "mior" e palavras com gerúndios ele falava, por exemplo, "tremeno", "correno", "aconteceno", etc, que depois deixaram o gerúndio correto com terminação "-ndo". Adotaram caipirês a partir de 1980 e em 1983 ainda estavam fazendo experiências, ficou mais parecido com o que vemos atualmente a partir de 1985, mas ainda nos anos 1990 tinham palavras que eram diferentes do que vemos hoje. 

Os traços ficaram lindos quase parecidos com a fase consagrada a partir de meados de 1984 a 1985, com personagens ainda com bochechas mais curvadas. É incorreta hoje em dia, nem tanto pelo tema do Chico se transformar em lobisomem, mas por aparecer homens atirando com espingarda, Chico dar chute violento em uma cachorra, envolver namoro de crianças, padre com grosseria e a palavra "gozado" também é proibida atualmente nos gibis.

Propaganda inserida na história, muito comum na época, dessa vez foi do achocolatado "Toddy" só na primeira página. Na capa da edição da Editora Abril, logotipo cortado pelo selo de pontos da promoção da "Cartela Milionária" da editora, um terror depois de ter capa do gibi cortada por quem participava da promoção na época. Essa história foi republicada depois em 'Almanaque do Chico Bento Nº 15' (Ed. Globo, 1991).

Capa de 'Almanaque do Chico Bento Nº 15' (Ed. Globo, 1991)

12 comentários:

  1. HQs da MSP dos 1970, 1980 e 1990, gosto de tantas, tantas e mais tantas - coloca aí mais um "cadiquinho" de tantas - que não tenho essa de histórias preferidas, entretanto, se eu tiver que selecionar as "cinquenta mais" do núcleo de Vila Abobrinha, "Lobichico" (ou "LobiChico") entra na lista, comicidade desta história está num nível muito elevado.

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    1. História de alto nível mesmo, vê que é curtinha como de costume as da Editora Abril e com conteúdo excelente. E eu também não consigo montar um top 5, top 10 ou top 50 com as histórias que mais gostei, são tantas muitas boas que é difícil escolher.

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    2. Top 20, por exemplo, talvez, veja bem, talvez, BEM TALVEZ MESMO, eu arriscasse algo assim com HQs das antigas dos núcleos indígena, espacial, silvestre, jurássico, prafrentex, fantasmagórico, canino e pré-histórico, ainda assim, prefiro comodidade em evitar esse tipo de seleção por receio de ser injusto, leviano comigo mesmo e com os quadrinhos da casta mauriciana de que tanto admiro, já núcleos pilares como Vila Abobrinha e Bairro do Limoeiro, top 50, como mencionei, aí que não arrisco mesmo, pois são a nata da nata deste que é o principal segmento da MSP e, sem esta categoria, não existiriam TMJ, Geração sei lá das quantas, as (G)graphics, Mônica Toy, longas no sistema live-action e "otras cositas más"...
      Me encontro em uma altura da vida que, naturalmente e, sutilmente (ou seja, de maneira não aversiva), estou interpretando, ainda que de modo consciente, mas, com origem no subconsciente, favoritismo(s) como sinônimo de resumo(s), e isso, meu subconsciente lê como superficialidade, que culmina em uma espécie de "teto", isto é, uma forma de limitação. Todavia, tudo bem quem diz ter HQs preferidas da TM clássica antes de ser completamente adulterada oficialmente, há nada de errado nisso, não comungo desse tipo de preferência ou de ótica por apreciar inúmeras histórias setentistas, oitentistas e noventistas.

      Curioso roteirista optar por exibir somente de longe e apenas em dois quadros a versão humana da "lobismuié", o que em absolutamente nada deprecia a trama, pelo contrário, há certo charme neste detalhe exatamente pela perspectiva em que se apresenta, tanto que, de zero a vinte, dou nota trinta para "Lobichico" (ou "LobiChico"). Não obstante, eu, que sou um pouquinho detalhista e conto com "cadiquinho" de fertilidade mental, todas as vezes que leio ou simplesmente vejo esta história, penso na sina da misteriosa galeguinha, qual seria seu histórico familiar e por aí vai... Me pego conjecturando sobre uma personagem que, como humana, mal aparece, vai ter mente fértil assim lá na Cochinchina...

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    3. Acho que meu top 20 teria algumas histórias de outros núcleos de personagens, mas a maioria seria da turminha e do Chico. O que é certo é que teria nenhuma depois dos anos 1990, até tem algumas boas, mas não a ponto de serem as favoritas de todos os tempos.

      É, não mostraram por que a menina virou "lobismulher", a origem, simplesmente era e apareceu assim e pronto, como eles gostavam na época, de ficar na imaginação. Até porque se explicassem precisaria de mais páginas e o formato do gibi não dava pra alongar muito. Acabou a forma humana dela aparecendo pouco, pelo menos o suficiente pra entender e dava para ver, mesmo de longe, que era uma menina bonita.

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    4. Top 20, da forma que referi, não seria misturado, seriam "tops 20s", isto é, vinte melhores do núcleo espacial, vinte melhores do prafrentex e assim por diante... Já top 50 do núcleo conhecido por Bairro do Limoeiro, daria para misturar, contendo HQs dos quatro principais em meio a de outros como Franjinha, Humberto, Titi, etc e, Bidu, entraria no ranking com devido critério, histórias com presenças de Manfredo e Bugu não participariam, entre outras contendo características exclusivas do núcleo canino, como Bidu de ator-patrão, faceta essa que é razão da existência do Manfredo e "otras cositas más" que são atípicas ao que tange o Limoeiro, mesmo que às vezes o bairro seja cenário, como naquela HQ natalina de Cebolinha nº168 (Ed.Abril) contando com presença do cão amarelo. Problema de elaborar ranking, seja por seleção pessoal ou por consenso (como se a MSP publicasse algo assim, por exemplo), com melhores HQs do núcleo principal, é que excluir Bidu seria injusto, dado que ele e Duque fazem parte da turminha, ao passo que Manfredo e Bugu estão em outra esfera e, Dona Pedra, sem querer fazer chiste com poema de Drummond, essa fica literalmente "no meio do caminho" que separa esses núcleos imbricados, pois tramas que Bidu dialoga com objetos e elementos da natureza, dependendo, podem contar com pequenas participações (ou nem tão pequenas) de Franjinha, Dona Elza, Mônica, etc, etc.

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    5. Entendi, seria bom um ranking para cada núcleo. Tem que considerar gosto pessoal, não as que mais marcaram a história da MSP, que aí já seriam outras histórias. Com Bidu histórias com ele participando com a turminha do Limoeiro, tinha que ser com este núcleo, já histórias como ele protagonista com crédito no título como ator, com metalinguagem, com Bugu, Manfredo, conversando com objetos e até mesmo contracenando como cachorro só com o Franjinha são consideradas histórias do Bidu.

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    6. Núcleos menores, núcleos maiores... Menores ou subnúcleos englobam personagens como Chovinista, Sansão, Maria Cebola, Dr. Olimpo, Seu Sousa, Quinzinho, Louco, as gêmeas Clotilde e Cremilda, Dudu dos primórdios, Seu Juca, Maria Cascuda, Tia Nena, etc, pois compõem as órbitas dos quatro principais e todos os citados fazem parte de um núcleo maior: Bairro do Limoeiro... Manfredo, Dona Pedra, Duque, Bugu e até mesmo, em certa medida, Franjinha e seus pais, não são parte de um subnúcleo ou núcleo menor, porque, embora não seja pilar como Vila Abobrinha e Limoeiro, o núcleo do Bidu é deveras expressivo, conta com envergadura, equiparável com todos os grandes da TM clássica, sejam os periféricos, sejam os dois pilares, e intensamente entrelaçado com Bairro do Limoeiro, a ponto de parte dos limites entre os dois serem demarcados por linhas muito tênues.

      Isto que é um susto no capricho, de arrepiar até as "zoreia"... Último quadro da penúltima página e três primeiros da última, Rosinha está sem os brincos.
      Outrossim na penúltima, estão brancos os dedos da mão esquerda do Chico e, ademais brancas, as pálpebras da cadelinha, terceiro e quarto quadros.

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    7. Todos esses fazem parte do bairro do Limoeiro, só que com o Bidu é independente quando não contracena com a turminha, apesar de morar e suas histórias solo serem ambientadas no Limoeiro. Não tinha reparado nesses erros sendo que dedos branco do Chico não encontrei.

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    8. Dedos brancos estão no quadro em que a cachorrinha puxa-lhe a cauda, e um quadro antes, o pedacinho que representa o laço posicionado acima da orelha esquerda da Rosinha, também está branco.

      O clássico recurso dos incontáveis pontinhos juntinhos, cujo propósito é obter a cor cinza, foi aplicado com certa fartura em "Lobichico", ocupando fundos de sete quadros e nas crianças do coral enquanto paradas e reunidas.

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    9. Agora que vi os dedos brancos, não dava pra ver de cara mesmo e principalmente o laço da Rosinha. Teve bastante desse recurso, ficou bom, nas crianças assim parece que foi pra mostrar que o local estava pouco iluminado.

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  2. Eu gostei muito dessa historinha, poderia até expandir mais com uma continuação ou referência a essa versão lobisomem em uma historinha mais recente. Hoje em dia com certeza essa história seria proibida (ou censurada) e criticada pela galerinha do "politicamente correto" por causa da cena do Chico em forma de lobo chutando a cachorrinha e no final mostrar que ela é uma menina.

    Imagino também uma historinha nova com o Lobichico se encontrando com o Lobi da turma do Penadinho (um crossover que eu gostaria de ver rsrsrs). Enfim, adorei a historinha!

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    1. Muito legal essa, não seria ruim uma continuação se fosse bem produzida. Com certeza iriam criticar demais, principalmente Chico chutando cachorrinha e os homens atirando nele. E daria um encontro bom entre Lobi e o LobiChico.

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