sábado, 12 de novembro de 2022

Chico Bento: HQ "O brilho do poder"

Compartilho uma história em que o Chico Bento encontra um diamante no roçado e faz de tudo para escondê-lo de todo mundo para ficar com a riqueza só para ele. Com 10 páginas, foi história de abertura de 'Chico Bento Nº 69' (Ed. Abril, 1985).

Capa de 'Chico Bento Nº 69' (Ed. Abril, 1985)

Chico Bento está trabalhando na roça e reclama que só tem trabalho, escola e mais trabalho. Lembra que viu na cidade todos com carrões bonitos e comendo em lugar chique e não davam duro que nem ele, só vivem no bem-bom. Seu Bento interrompe, reclamando se o filho vai ficar muito tempo pensando na vida e têm que trabalhar.

Chico, bem brabo, volta a reclamar que é só trabalho que se faz na vida, bate enxada em uma pedra e quebra. Ele vai verificar, acha bonita, brilha muito, não parece vidro, esmeralda nem turmalina e descobre que era um diamante. Ele corre pra contar para os pais, mas no caminho pensa que todos da vila ficariam encantados com o diamante, que mudariam a vida deles e esqueceriam que a pedra era dele.

Com isso, Chico disfarça, que não escutou gritaria, escondendo o diamante dos pais e vai embora, pedindo licença que tem outras coisas para cuidar. Ninguém vai tirar diamante dele e vai na joalheria do Nhô Tonho para avaliar quanto vale, mas chegando lá, vê que tinha o Padre, Nhô Lau, Rosinha e Professora Marocas em frente a joalheria.

Como conhece todo mundo, Chico pensa que não iam querer tirar dele, mas logo prevê na pedra o padre falando que por penitência de ser moleque travesso, vai reformar a igreja, vão construir outro altar com a pedra, Rosinha vestida de noiva querendo casar porque ele ficou rico e está muito tempo cozinhando o galo, e vai comprar 300 vestidos e 500 blusas, Nhô Lau querendo Chico pagar todas as goiabas que roubou disputando com a Professora Marocas querendo pagar o sacrifício o que é ensinar para ele.

Chico grita que diamante é dele, chama atenção dos que estavam em frente a joalheria e ele foge para loja do Nhô Tonho, que estava fechada e ele foge para bem longe sem ninguém ver o diamante. Chico vai pra casa, não consegue dormir e resolve enterrar o diamante embaixo de uma pedra em local bem longe, só que tem medo de alguém ter o seguido e, então, dorme, ao lado da pedra até amanhecer, quando acorda com a buzina do carro do Nhô Tonho.

Mandando pessoal na rua  irem embora, Chico entra na joalheria, quer saber quanto vale o diamante e  Nhô Tonho diz que vai fazer teste se é mesmo um diamante riscando um quadrado no vidro da estante, se for, vai cortar como manteiga. O vidro não corta e Nhô Tonho diz que ele só tem uma pedra de cristal sem valor. Chico fica triste e joga o diamante no ribeirão, se conformando que não ia se acostumar com a vida de rico. Nhô Tonho fecha a loja para tomar um refresco com o Chico no bar do Seu Joaquim e quando fecha a porta e sem eles verem, o vidro da estante se quebra, confirmando que era um diamante que o Chico jogou fora.

História muito legal em que o Chico Bento encontra um diamante enquanto trabalha na roça e não quer dividir a riqueza com ninguém, escondendo de todo mundo, inclusive dos pais dele. Ao passar sufoco, precisando enterrar debaixo de pedra e dormir em frente à pedra até amanhecer para ver quanto vale na joalheria, Nhô Tonho acha que não é diamante porque não cortou o vidro da estante, mas foram só eles saírem para o vidro cortar e Chico perdeu chance de ficar rico.

Vimos o Chico ganancioso, egoísta, não confiar nos seus próprios amigos e nem familiares, ele já tinha desejo de ficar rico para não trabalhar mais, só que a pedra tinha poder de deixar pessoa gananciosa e com ela em suas mãos queria o poder só para ele. Foi muito engraçado ver o Chico pensar que as pessoas ricas da cidade não precisaram de trabalhar pra ter carros luxuosos e comer em restaurantes chiques, falar sozinho, as previsões do futuro do que o povo da roça ia reagir se visse com o diamante, principalmente a professora Marocas achar que devia ficar para compensar o sacrifício de ensinar um aluno burro como ele. 

O final ficou em aberto, permitindo ao leitor imaginar a sequência de quando Nhô Tonho voltou pra joalheria, o que fez quando viu o vidro da estante cortado e se Chico voltou junto, também qual foi a reação dele de ter perdido oportunidade de ficar rico, se tentou procurar no riacho. Era comum histórias com finais em abertos para o leitor imaginar. Interessante que além de se divertir bastante, leitores ainda aprende que pra saber se é um diamante, tem que cortar vidro, ou seja, dava para aprender se divertindo nas histórias antigas, sem deixar didático. 

É toda incorreta atualmente por causa do tema de ganância, de egoísmo, sem querer dividir riqueza com os outros, fora ser totalmente proibido mostrar Chico trabalhando na roça, sair de madrugada para enterrar diamante e dormir no relento, além de palavras proibidas como "droga", "diacho" e "roubar" (hoje colocam que eles não roubam goiabas, e, sim, que eles pegam goiabas). O Padre ainda não tinha nome nem traços definidos ainda na época, só depois que passou a ter nome fixo como padre Lino. E o joalheiro Nhô Tonho apareceu só nessa história.

Os traços muito bons, já no estilo de desenhos da fase consagrada dos anos 1980. Era legal os pensamentos retratados com efeito de colorização azul e nessa até teve uma colorização laranja no primeiro quadrinho, pra demonstrar riqueza do povo da cidade. Cabelo da Rosinha com brilho azul porque era característica dos gibis de 1985 personagens com brilho azul no cabelo em vez de branco. Teve erro Nhô Lau sem bigode, poderia ser até um visual novo de ter tirado bigode, mas ele apareceu com bigode em um quadrinho, apontando erro, então.


A capa teve piadinha normal, sem relação à história de abertura, mas teve anúncio do título da história, um recurso que gostavam de colocar nas capas da Editora Abril, mas que ficava meio poluído de alguma forma  Nas propagandas inseridas na história, dessa vez foi só na lateral direita da primeira página das canetas hidrográficas Colorella, da "Pelikan". Foi republicada depois em 'Almanaque do Chico Bento Nº 29' (Ed. Globo, 1995).

Capa de 'Almanaque do Chico Bento Nº 29' (Ed. Globo, 1995)

24 comentários:

  1. E aí direto lembrei da música do Dilsinho: "Conhece alguém que jogou fora um diamante?/Loucura, né? Mas eu joguei".

    Já li.

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    1. Kkk. Muita loucura. Se o Chico tivesse guardado o diamante, estaria rico como desejava.

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  2. Precipitou em desfazer da joia com apenas um teste de avaliação (de efeito retardado), que azar! Se bem que, com o tormento que passa em posse do diamante, fico em dúvida se foi mesmo azarão. Considerando o tamanho da população de Vila Abobrinha, Nhô Tonho deve ser o único joalheiro da pacata cidade, e ainda usa óculos*, ou seja, recorta o vidro e diz que nem arranhou. Azar foi não recorrer a um segundo avaliador por provavelmente o coroa não ter concorrente no segmento comercial que atua.
    *Também deve haver nesta cidadezinha apenas um médico oculista (oftalmologista) e um comerciante dono de ótica, podendo ainda ser menos de dois indivíduos, dois em um, isto é, médico comerciante, um doutor que vende óculos.

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    1. É, tinha que ter guardado. O vidro arranhou, o joalheiro que não reparou, precisava de óculos mesmo. Era a única joalheria da vila, nem tinha como o Chico ir em outra a não ser quando fosse a cidade quando fosse visitar o primo Zeca. Acredito que não tenha oftalmologista nem ótica onde o Chico mora, só posto médico pra emergência, pra irem a oftalmologista, teriam que ir pra cidade.

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    2. O joalheiro precisava mesmo é de um oculista para trocar os óculos "estilo Tio Patinhas" de que faz uso, e é só mesmo o modelo que parece, pois os que o sovina pato velho usa funcionam muito bem, não é trilhonário por acaso, pato com visão de águia, ainda que seja uma águia "quatrolho".

      "Fruitas", que Nhô Lau da imaginação do Chico pronuncia, não soa como erro, é só uma variação da palavra pertencente ao caipirês.
      Rosinha da imaginação dele pronunciando "você" e "ocê" no último quadrinho da quinta página (pág.7) já é um errinho bem sutil, e outro, também da cachola do protagonista, que destoa um pouquinho mais é o "olhem" proferido por Dona Cotinha, o que combina com falantes de caipirês é o clássico "óia", e ainda que de vez em quando use o plural adequadamente em meio à "caipirofonia", o que a meu ver não a descaracteriza nem um pouco (nem ela e nem aos outros que se expressam assim e que de vez em quando pluralizam), no entanto, pela lógica deveria dizer "olha", visto que quem porta o diamante já olhou, foi o primeiro a olhar, restando Seu Bento para se encaixar na palavra que deveria estar no singular já que não foi "encaipirada" ou "acaipirada".
      O "reamente", localizado no quarto quadro da penúltima página é o único que não tem escapatória, pois não há como atribuir ao caipirês devido ao personagem não se expressar por meio dele, caso se expressasse desta forma até dichavaria como variação de "rearmente".

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    3. Poderia trocar por um óculo normal cobrindo todos os olhos pra ver se enxerga melhor. Sobre as palavras, só "fruitas" que pode não ser considerada erro, já as outras, sim, sejam por falta do caipirês como "você" e "olhem" ou erro total como "reamente". "Óiem" seria o mais correto, mas lembrando que não tinha caipirês fixo ainda na época e certas palavras variavam ainda pra fazerem experiências.

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    4. O (primeiro) nº68 de Chico Bento é consecutivamente anterior à edição cujas HQ de abertura e capa estão neste tópico, gibi cujo conteúdo não conheço, assim como não conheço o que contém no nº69, exceto esta trama que conheci por meio da internet há mais ou menos dez anos.
      Pois bem, sobre a edição cujo número inicia este comentário, é a piada de capa que me encafifa um pouco. Chico alvejado na cabeça por algo gosmento, que a princípio parece ovo, observando a casca da parte que está no chão, parece fruta, e não consigo identificar qual é, seria um maracujá? Um kiwi? Pêssego passado, bem molengão? Não parece ser uma goiaba passada, prestes a apodrecer ou apodrecida. Como está próximo a um espantalho, o autor do certeiro(?) arremesso só pode ser um pássaro que o confunde com o inanimado vigilante de palha, que, por sua vez, exibe um contido sorriso, denotando achar graça da situação, ou pode ser de alívio por se safar da agressão, dado que o arremessador erra(?) o alvo, e pela expressão na face do boneco, indica que, "inanimado"... uma vírgula!
      O que consegue extrair dessa gag, Marcos? Qual sua interpretação, sua leitura a respeito dela? Gostaria de saber sua opinião.

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    5. Tenho esses 2 gibis, todos muito bons. Acredito que seja goiaba por causa da gosma rosa. Interpreto que o espantalho criou vida e tacou uma goiaba quando Chico estava de costas e depois virou à sua posição normal como desentendido.

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    6. Será? É que Chico tende a ser confundido com espantalho, e parece que a fruta veio de longe, de uma altura considerável, cogito até ser um mico o arremessador. Teria o espantalho visto o guri como concorrente? Mas, aí, já meio que beira ao conto de fadas e longa cinematográfico 'O Mágico de Oz', como que o boneco de palha consegue tal feito? Sei lá, me parece obra da fauna local, e o espantalho com expressão de que segura o riso ou se sentindo aliviado por ter se safado, por não ser alvejado. Pode ser o que diz, Marcos.
      Só sei que é uma gag das boas, bem ao estilo dos anos 1980, tempo em que os leitores eram mais safos, até mesmo as crianças, para interpretarem piadas desse tipo.

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    7. Não foi mostrado uma árvore ali perto então deduzo que foi o espantalho que arremessou e o Chico estava olhando pra ele. De qualquer forma ele tinha vida por estar tipo segurando riso.

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    8. Sim, sua interpretação é boa, e para surtir efeito cômico temos que considerá-lo territorialista, enxergando o guri como concorrente invasor, focando na clássica característica em que Chico Bento e Zé Lelé volta e meia são confundidos com espantalhos, agora, se o acerta com objetivo de pregar peça, o identificando como o humano que é, não o enxergando como um semelhante, aí, já não consigo encontrar sentido na piada.
      O efeito hilariante também funciona se caso foi alvejado por algum membro da fauna local. Algum pássaro é no que aposto primeiramente, mico e algum roedor silvestre (do tipo que reside em árvores) seriam segunda(s) opção(ões).

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    9. Sendo isso, objetivo seria esse de pregar peça no Chico. Daria certo se fosse um animal tacando a goiaba como pássaro.

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  3. Bem que eu tinha lido,um tempo atrás,que diamante era usado para fabricar agulhas de toca-discos.

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    1. Interessante, não sabia dessa, por isso eram caros então.

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  4. Com o perdão do trocadilho, essa história é brilhante. Toda criança sonha com riqueza, então foi criativo mostrar uma pessoa humilde como o Chico sendo corrompido pela perspectiva de opulência.
    Muito raro encontrar histórias com páginas de 12-13 quadrinhos, mas aqui o recurso é genial. Encaixa muito bem com o Chico ficando rapidamente paranoico e fazendo uma jornada absurda para esconder o diamante.
    O plot twist no final é hilário, imagina a reação do Tonho quando vir que o vidro realmente foi riscado.

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    1. Maravilhosa, brinca com esse desejo de crianças de se tornarem ricas. As partes com Chico caminhando e enterrando diamante preferiram colocar vários quadrinhos em cada linha para não ocupar tantas páginas no gibi. Foi bom porque se tornou ágil, se fosse hoje colocariam enquadramento normal de 2 quadrinhos por linha pra enrolar e forma de história ocupar mais páginas de propósito. Também fico imaginando o Nhô Tonho voltando e encontrando o vidro cortado, provando que era diamante mesmo, capaz até de ele ter nadado no ribeirão pra ver se encontrava, quem sabe só afundou, sem correnteza ter levado e ele ter ido embora da Vila Abobrinha rico.

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    2. Se caso entrou no ribeirão e foi bem-sucedido na busca, não seriam só os óculos que apresentariam semelhança(s) aos do pato gringo, a personalidade do joalheiro também se assemelharia à do Tio Patinhas.

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    3. Zózimo, acho que não seria difícil encontrar o diamante lá por ribeirão ser pequeno e grande chance de ter só afundado. Personalidade também parece com o Tio Patinhas, sim.

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    4. Se parece com personalidade do personagem da Disney caso tenha mergulhado caçando a pedra preciosa.
      Diante de situações como esta, poderíamos fazer o mesmo que se imagina que o joalheiro deva ter feito, porque existem Tios Patinhas dentro da maioria das pessoas, e há aquelas que conseguem fazer com que eles (os Patinhas) assumam positivamente os comandos de suas vidas financeiras, e infelizmente, mas muito, muito infelizmente mesmo... não é meu caso.

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    5. Se ele mergulhou, fica só na imaginação da gente. Ideal seria isso de assumir positivamente os comandos da vida financeira, aí não teria erro.

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  5. Mesmo não gostando desse tipo de traço, confesso que os quadrinhos que mostram o Chico com bolinhas brancas nos olhos são sensacionais. Também era ótimo quando ele era desenhado de narigão.

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    1. Muito bom olhos com bolinhas brancas demonstrando que brilhou ao ver o diamante. Adorava o Chico de narigão, combinava muito mais com ele, sem dúvida.

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  6. Esse gibi original da Editora Abril consegui adquirir há uns 30 anos, na época que eu garimpava pelos bairros próximos em sebos e bancas (na ocasião ainda tinha muitos) por gibis mais antigos. História muito boa, mexia bastante com a imaginação das crianças esse lance de encontrar um diamante perdido e ficar rico: qual criança nunca pensou nessas coisas?

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    1. Verdade, era um assunto bem frequente pelas crianças, gostavam de mostrar a realidade delas. E naquela época ainda era fácil encontrar revistas da Abril em sebos por causa do pouco tempo decorrido, o que foi bom pra você conseguir, pena que hoje é mais raro.

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