segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Cascão: HQ "Quem acredita em futebol?"

Em homenagem à Copa do Mundo que se inicia, mosto uma história em que o Cascão tenta convencer todo mundo a voltarem a acreditar em futebol e em novas conquistas da Seleção Brasileira. Com 8 páginas, foi história de encerramento de 'Cascão Nº 117' (Ed. Globo, 1991).

Capa de 'Cascão Nº 117' (Ed. Globo, 1991)

Cascão diz para o Cebolinha que quando crescer quer ser jogador de futebol e trazer a Copa do Mundo. Cebolinha fala que não acredita no futebol do Brasil, o pai que já viu o Brasil ser campeão 3 vezes. Cascão diz que viu em fotografias do Pelé, Garrincha e Félix e Cebolinha conta que tudo são fotografias velhas que até duvida que são verdadeiras. Cascão fala que ele pode tirar fotos dele quando for campeão e Cebolinha responde que melhor ele ser jogador de vôlei ou basquete que terá mais chance.

Cascão joga a bola com a mão se perguntando se ninguém acredita no nosso futebol e Jeremias gosta do passe, Cascão faz umas jogadas e embaixadinhas de futebol e Jeremias vai embora porque estava pensando que ele estava jogando vôlei. Cascão grita que ele só joga futebol e uma velha dá guarda-chuvada nele, dizendo que é um menino malcriado que fala palavrão por aí.

Franjinha aparece e Cascão pergunta o que aconteceu com o nosso futebol. Franjinha não sabe o que é, já ouviu falar em algum lugar, o negócio dele é xadrez. Cascão pergunta quem não se emociona com as bandeiras tremulando, as redes balançando e Franjinha, não. Cascão pergunta se não acredita em futebol e Franjinha diz que só em coisas mais plausíveis como Papai Noel e Coelhinho da Páscoa e vai embora.

Em seguida, surge uma lágrima gigante, Cascão desvia para não se molhar e era do Leitor, que conta que não aguentou, ficou triste lendo a história e não pôde conter a lágrima que queria cair desde aquela última partida da Seleção Brasileira. Cascão diz que quando for jogador de futebol, vai trazer o tetracampeonato. O Leitor fala que não é para falar bobagem, ele é um personagem de história em quadrinhos e nunca deixará de ser o Cascão e joga a real de que Cascão não pode viver de sonhos e ele não pode viver de passado. Cascão fala que no mundo dos quadrinhos, tudo é possível e o Leitor manda acabar a história para ver como termina.

Assim, Cascão faz embaixadinhas, um treinador olha e o chama para ir para o time dele. Já adulto, é jogador da Seleção Brasileira, que está na final da Copa do Mundo. Cascão faz gol, o Brasil é tetracampeão e ergue a taça. Cascão conversa com o Leitor, falando que é campeão do mundo, e ele reconhece que no mundo dos quadrinhos, tudo é possível. Os amigos, que desacreditavam no futebol na infância, comemoram, falando que ele é o maior e que sempre acreditaram nele, terminando a história no gibi. Fora dos quadrinhos, o Leitor acha que foi uma bela história e fala para os leitores reais que agora precisamos fazer a nossa história e é tão simples.

Uma história legal em que todos estavam desacreditados em futebol e na Seleção Brasileira já que muito tempo não era campeão da Copa do Mundo, a ponto de pensarem que futebol não existia e velhinha achar que futebol era palavrão, mas Cascão provou para o Leitor e para todos que duvidavam que era possível, pelo menos no mundo dos quadrinhos, onde tudo pode. 

Foi uma crítica à Seleção Brasileira que estava desde 1970 sem ganhar Copa do Mundo, ou seja, 21 anos sem título até então, todo mundo já estava desacreditado, principalmente depois do fiasco da Copa de 1990, sendo eliminada pela Seleção Argentina nas oitavas-de-final. Além disso, independente de futebol, quis mostrar também mensagem da gente acreditar nos nossos sonhos, por mais impossível que seja, não acreditar de ser possível de realizá-lo apenas em histórias em quadrinhos, só correr atrás que consegue seu sonho. No caso, a fala final do leitor da história quis mostrar que agora os jogadores da Seleção Brasileira têm que fazer a parte deles para conquistar a próxima Copa do Mundo e também da gente correr atrás para conseguir o sonho impossível desejado.

Foi legal também ver a metalinguagem do Leitor e Cascão conversando, um passando motivação para o outro, lágrima cair na página, quase molhando o Cascão, gostava dessa interação de ficção e realidade. Teve ainda o leitor retratado na história conversando com o leitor da vida real, no caso, a gente, o que reforçou ainda mais a metalinguagem e se tornou mis diferente. Os traços ficaram muito bons, típicos de histórias de miolo da época, e quando mostravam personagens adultos, sempre eram desenhados diferentes, de acordo com cada desenhista. Dessa vez, destaque maior ao Jeremias adulto gordo para diferenciar.

Mesmo que a MSP não goste de mostrar mais absurdos, até que essa teria chance para republicação em almanaques por causa da mensagem e lição de moral, talvez alterariam partes que o Brasil ganhou Copa três vezes para cinco vezes e "tetra" por "hexa" para ficar atual e mudariam a parte da guarda-chuvada da velhinha no Cascão porque não pode mais mostrar violência assim nos gibis, assim como alterar a palavra "gozado" por ser proibida atualmente.

Depois dessa história, o Brasil voltou a ser campeão de Copa do Mundo em 1994 e 2002, voltando a ser acreditado pela população e a ter gosto de assistir futebol. Hoje em dia chega a ser semelhante a situação, já são 20 anos que o Brasil não ganha uma Copa do Mundo, está desacreditada pelo povo que vai conseguir título na deste ano, se não ganhar, vai alcançar a maior marca de 24 anos, no mínimo, sem título de Copa, aumento o descrédito do povo. 

Após o Pelezinho teve seu gibi cancelado em 1982, histórias de futebol ficaram com o Cascão, com maestria, foram tantas que não é a toa que depois fizeram vários Almanaques Temáticos sobre futebol. Com o Cascão ainda teve vantagem de incluir seu medo de água e de tomar banho, sempre que davam, ou simplesmente, apenas tema de futebol como um todo. Por exemplo nesta história, teve conversa inicial do Cascão falando pro Cebolinha que não seria maluco de tomar banho quando crescer e fugindo da lágrima do Leitor que caiu na página lendo o gibi.

32 comentários:

  1. Adoro esses estilos de histórias retratando alguns acontecimentos de determinada época, são geniais!

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    1. Eu também gosto, tem todo um valor histórico de ver os fatos e a realidade de uma época como eram de fato. Muitos ficam datados com o tempo, mas essa sem querer acabou sendo bem atual, antes era sufoco pra conseguir o tetra, hoje o sufoco é pra conseguir o hexa.

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  2. Interessante que na época a descrença do povo com o Brasil em (C)copas do (M)mundo era tipo hoje em dia depois da derrota humilhante que a seleção alemã nos impôs, e acho até que essa poderosa adversária sentiu pena de nós, se quisesse, teria tranquilamente enfiado mais uns três ou quatro.
    Até o ano desta história o Brasil havia conquistado três vitórias, sendo a terceira em 1970, depois disso passaram-se cinco mundiais com a Seleção Canarinho sem novas conquistas, digamos que Pelé deixou a nação mal-acostumada. Em 1994 a crença por parte do povo finalmente é retomada.
    Brasil pode finalmente ser hexacampeão? Sei lá, não faço ideia por não acompanhar como está nossa atual seleção, mas, pela tradição, tendo a acreditar que está entre as mais capacitadas para abocanhar o caneco, mesmo sabendo que o futebol brasileiro não se encontra mais no auge, e esse processo de derrocada começou bem antes da fiasqueira de 2014.

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    1. Pois é, a descrença já estava há muito tempo antes de 2014 devido a eliminações frustrantes, mas depois do 7 X 1, situação foi pior. Mesmo se ganhar este ano, acho que ainda não vai convencer, não será como a crença de 1994. Se não ganhar, vai aumentar a impopularidade da Seleção com mesmo tempo decorrido até chegar ao tetra.

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    2. Já são 20 anos de jejum,chegando perto das espectativas do tetra de 94.
      Perdeu-se aquela tradição de enfeitar as ruas para a Copa.

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    3. Julio Cesar tá bem perto do tempo que foi em 94, se não abrirem olho pode até passar. E não tem mais tradição de enfeitar ruas, não fazem mais isso e diferencia pra pior de 90 e 94 que enfeitavam, mesmo com Brasil desacreditado.

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    4. A grande diferença, Marcos e Julio Cesar, é que embora o jejum de cinco copas consecutivas (1974-1990), o Brasil teve alta qualidade futebolística durante esse período. O que ocorre de 2002 para cá é completamente diferente, depois do penta a qualidade do futebol brasileiro durou mais alguns anos, Brasil encerra década de 2000 decadente nesse esporte e permanece assim até os dias atuais.

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    5. Sim, Zózimo, tanto que a Seleção de 1982 é bem reverenciada até hoje, mesmo não ter ganho Copa. Depois de 2002 nenhuma tem lembrança que empolgou de alguma forma, ficando cada vez mais desacreditada.

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    6. Exatamente! Os (C)canarinhos de 1982 são inesquecíveis.
      Já se perguntaram há quanto tempo que Neymar está sozinho?

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    7. O futebol brasileiro se consagra como um colosso a partir de 1958 com a conquista do primeiro título mundial realizado na Suécia, durante todo esse tempo o Brasil nunca passou um período, por menor que fosse, contando apenas com um grande jogador, Pelé contou com outros grandes, mesma coisa com Sócrates, mesma coisa com Zico, com Romário foi assim também, como outrossim com Ronaldo e Ronaldinho Gaúcho e tantos outros do naipe desses caras. Primeiro grande jogador brasileiro solitário é Neymar, o cara deu muito azar em não poder dividir peso.

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    8. É, mesmo se não ganhassem, mas se pelo menos tivessem jogadores de alto nível, que fizessem jogadas espetaculares e não ganhassem por falta de sorte, aí dava para se levar. Cada ano piora, aí mais difícil ter êxito, ganharia mais por sorte de pegar adversários piores do que qualidade de jogo.

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  3. Marcos Eu Suponho Que As Profissões dos Personagens Quando Crescer Serão.:
    Mônica Professora
    Cebola Carteiro
    Cascão Advogado
    Magali Médica

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  4. Muito bom... tenho essa na coleção rs! ;)

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  5. Eu vou fazer uma previsão. Na final de 18/12, o Brasil vai jogar na final contra a França e vencerá de 3 a 0.

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  6. Quase certeza que o leitor retratado nessa história era um dos roteiristas. Já vi esse mesmo personagem em outras histórias.

    Se republicassem, seria interessante ou manter como no original, para preservar o registro histórico, ou se atualizassem o texto colocarem uma nota explicativa sobre o verdadeiro contexto dessa história, fazendo o paralelo com a situação atual (20 anos sem copa, seleção desacreditada, etc.)

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    1. Talvez. Ou quem sabe seja algum amigo ou parente do roteirista. É que não tem muito a ver com caricatura dos roteiristas da época, no caso, Robson ou Rubão. o leitor torcedor seria um pouco mais parecido com o Robson, só que mais novo do que era. E também acho que se republicassem, deveriam manter as falas originais por causa do registo histórico, mas, infelizmente, a MSP costuma alterar nos almanaques fatos históricos assim ou anos originais para se manter atual, o que é acho que é uma bobagem.

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    2. É o Hamilton Yokota. Ele é desenhista, e quando tava na MSP ele tinha esse costume de se inserir nas histórias. O traço dele é bem característico (apesar de ser relativamente simplificado), dá pra você identificar pelas poses de ação.

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    3. Interessante, Andrey. Não seria o próprio roteirista, mas alguém da MSP. Eles gostavam de inserir funcionários da MSP nas histórias, não necessariamente só os roteiristas.

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    4. Tem uma história do núcleo do Penadinho que ele desenhou, que é sobre um cara que vai a um restaurante e pede tudo que é coisa com carne de porco: feijoada, torresmo, etc. e no final mostra que ele é um lobisomem e aí ele sai correndo atrás dos três porquinhos. Em todos os painéis longos ele inseriu a si mesmo almoçando numa mesa ao fundo, é uma cameo bem engraçada.

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    5. Lembro dessa, bem engraçada mesmo.

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  7. Acho um tanto forçado e absurdo essa da velha bater no Cascão por falar de futebol. Ainda bem que isso hoje não acontece mais nas HQs atuais.

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    1. No caso, ela comparou futebol a palavrão, como se Cascão tivesse falado um palavrão. Isso não tem mais hoje nos gibis, sem chance.

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  8. Poderia falar sobre a história "A arte", que também é dessa edição?

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    1. Dá sim, quando der eu falo, muito engraçada essa.

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    2. Por falar nisso, bem que você podia falar dela quando chegar abril! Aí, ficaria tudo bem. Seria ótimo.

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    3. Não sei quando vai dar pra falar, não será em abril.

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