domingo, 13 de julho de 2025

Cascão: HQ "Cascóquio"

Compartilho uma história de paródia de Pinóquio em que o Cascão é Cascóquio, que sofre sendo um boneco de madeira que nariz cresce cada vez que conta mentira. Com 17 páginas, foi publicada em 'Cascão Nº 68' (Ed. Globo, 1989).

Capa de 'Cascão Nº 68' (Ed. Globo, 1989)

Escrita por Rosana Munhoz, conta que o carpinteiro Pepeto, que construía bonecos de madeira, era solitário e conversava sozinho provocando risadas de quem passava na rua, sendo taxado de louco. Pepeto compra um gato e um peixinho, mas mesmo assim não tapou a boca do povo. Em um dia que se sentia mais solitário do que nunca, constrói o boneco de madeira mais perfeito que fez, resolve chamá-lo de Cascóquio e queria que ele fosse gente para conversar com ele.

Uma boa estrela no céu ouve, se transforma em fada-madrinha e faz Cascóquio a se portar e falar como  gente. Cascóquio não gosta que ela bateu na cabeça dele com a varinha de condão, a Fada acha que ele é malcriado e diz que vai continuar sendo boneco de pau até merecer ser gente, nariz vai crescer toda vez que contar mentira e deixa uma mosca falante com ele por não ter consciência e vai embora.

Cascóquio mostra a língua e chama a Fada de chata, a Mosca Falante lhe dá lição de moral e Cascóquio corre pela casa jogando inseticida na Mosca, acordando Pepeto, que fica feliz que seu boneco se mexe e fala, mesmo sendo de madeira e passa a conviver com Cascóquio, o gato e o peixe. 

Cascóquio só tem defeito de morrer de medo de água porque a madeira faz a madeira empenar e, depois de uns dias, apareceram manchas de sujeira nele e o cabelo pareceu impressão digital e passou a contar mentiras para o pai que tomava banho e lavava tudo, e seu nariz passou a crescer. Pepeto avisa que ele vai passar a ir para escola para aprender a ser asseado.

Cascóquio vai para a escola, com a Mosca falante a tiracolo e outras moscas se juntam a ela, ficam falando e ele manda se calarem. O lobo Lobórgio e o porco Torniquete veem o boneco de madeira falante, Lobórgio acha que pode ficar rico com ele e inventa que na escola tem mais de 20 banhos por dia ao saber que ele iria pra lá e que detesta banho e faz com que Cascóquio vá com ele para outro lugar. A Mosca tenta impedir, Lobórgio sopra, fazendo parar longe e Cascóquio vai com Lobórgio e Torniquete.

Na segunda parte da história, Cascóquio é levado para um circo, é vendido por Lobórgio e passa a ser  a atração de único boneco falante do mundo e o dono, Zé Trambolho, manda cantar e dançar. Cascóquio fica parado, com medo, a plateia reclama que boneco não se mexe e querem dinheiro de volta. Cascóquio começa a suar de nervoso, fazendo a plateia fugir por causa do mal cheiro.

Zé Trambolho expulsa Cascóquio, que fica triste perdido na rua, quando passa um trem da alegria e dos prazeres o chamando que ali criança se diverte sem pagar, sem trabalho, escola e responsabilidades. Cascóquio entra e depois vê que todas as crianças viraram porcos, inclusive ele. Era um trem mágico que crianças malcriadas viravam porquinhos e o maquinista as vendiam na feira.

Cascóquio salva todos, tirando os vagões do maquinista e promete voltar depois para fazê-los voltarem ao normal. Após dias de caminhada, ele consegue voltar para casa e tem a surpresa que estava vazia, Pepeto havia saído pelo mundo a procura dele, que começa a chorar, achando que foi um menino mal. A Mosca falante volta e avisa que Pepeto foi engolido por uma baleia, maior bicho do planeta e que vive no mar.

Cascóquio entra no barco com medo rezando para Fada Da Estrela que se sair desta, promete que vai ser um bom menino. Encontram a baleia, Cascóquio tira a pena do seu chapéu faz cosquinha no nariz da baleia, que espirra, jogando Cascóquio para longe e soltando Pepeto, o gato e o peixe. A baleia tenta pegá-los de novo, caem no mar e se afogam. Cascóquio diz que não sabe e nem quer nadar.

A Mosca Falante tem uma ideia e manda Cascóquio contar mentira atrás da outra. Ele conta, dentre outras coisas, que gosta de água, tomou 10 banhos hoje, que ele é mais bonito que o "Edson Celuloso", que o "Pato Ronald" é personagem do Mauricio de Sousa, o nariz cresce muito, fazendo uma ponte para Pepeto sair do mar junto com o gato e o peixe.

A Fada viu tudo e transforma Cascóquio em um menino de verdade como recompensa e faz a baleia voltar a ser uma menina gulosa, a Magali, que ela tinha transformado em baleia. Cascóquio pede para a Fada destransformar os meninos do trem que viraram porquinhos e ela realiza desejo dele. No final, Pepeto, antes solitário, passou a ter dois filhos, um sujinho e uma gulosinha, e todos viveram felizes para sempre.

História legal de paródia do filme Pinóquio, sem dúvida muito organizada, vários detalhes e reviravoltas e dividida em dois capítulos, em que uma fada faz o boneco de madeira Cascóquio criar vida só que por ter sido malcriado com ela, faz com que o nariz cresça toda vez que conta mentira. Cascóquio passa vários sufocos virando atração de circo por ser enganado por dois vilões, vai parar em um trem mágico virando porco que nem outras crianças que estavam lá e tem que salvar Pepeto que foi engolido por uma baleia. No final, a fada recompensa transformando Cascóquio em menino de verdade, a baleia em uma menina gulosa, fazendo Pepeto ter dois filhos que não tinha.

Pepeto poderia deixar os outros pensarem que era louco, ninguém tinha a ver com isso. Se não se importasse com o que outros pensavam, não teria criado o Cascóquio, mas também não conseguiria um casal de filhos no final, o chamado males que vem para o bem. A Fada foi bem esquentada, só porque Cascóquio reclamou da varinha na cabeça deu castigo nele. 

A Mosca Falante era toda correta para ver se Cascóquio se tornava obediente, ele não gostou da mosca a tiracolo. Se Cascóquio fosse obediente e fosse para escola como o pai mandou, não teria passado tanto sufoco. Foi muito inocente de não saber o que era escola e baleia, mas não tem culpa, afinal, ele antes era só um boneco inanimado sem conhecimento do mundo real, mas sabia que pena dava cócegas, oque ajudo a tirar seu pai e os bichos dentro da baleia. 

Uma surpresa a Magali ter sido a baleia por causa de castigo da Fada não ter gostado que era muito gulosa. Encaixou muito bem com ela já que ela come de tudo igual uma baleia. A Fada só fez voltar ao normal porque seria bom para o Pepeto ter dois filhos. História passou mensagem de forma divertida de não ser malcriado,  desobediente e não contar mentiras para não se dar mal na vida.

Foi engraçado ver Cascóquio jogando inseticida na mosca falante, as mentiras relacionadas a banho, plateia do circo fugir em disparada depois do Cascóquio suado, absurdo de peixe no aquário se afogando no mar, excelente paródia do ator Edson Celulari como "Edson Celuloso" e referência a Pato Donald como "Pato Ronald", personagem da Disney citado na mentira que ele era personagem do Mauricio de Sousa. 

Foi uma paródia do filme do Pinóquio de 1940, um clássico do cinema, adaptado para a personalidade do Cascão. Eles gostavam de fazer adaptações a fábulas famosas com os personagens do Mauricio e ficavam muito boas, muitas vezes ficavam até melhores que as fábulas originais. Antes da Magali ter revista, histórias de fábulas eram mais com o Cascão, tinham com outros personagens, mas a maioria era com ele. E curiosamente, o Cebolinha foi o que menos teve histórias assim. 

Comparando com filme, o Grilo Falante virou mosca, Gepetto se chamou Pepeto, as mentiras do Cascóquio foram relacionadas a banho e medo de água, a Ilha dos Prazeres virou Trem da Alegria e dos Prazeres e no filme, Pinóquio e crianças foram transformados em burros no filme e na HQ, Cascóquio e crianças, em porcos, e no filme a baleia era real e não era transformação de alguém. 

Traços ficaram excelentes, dava gosto de ver desenhos tão caprichados assim. O gato da história é o Mingau, foi a primeira vez que o Mingau apareceu em uma revista do Cascão. Presenças da Magali e do Mingau serviram para divulgar a revista da Magali lançada 6 meses antes desta história de agosto de 1989. Quem sabe a intenção inicial era o Pepeto ser o Tio Pepo no rascunho e desenharam errado até por ele não ser ainda conhecido,  pelo menos teve semelhança de nome e de ele criar brinquedos de madeira.

Muito legal também a citação de que cabelo do Cascão é impressão digital servindo como homenagem ao Sergio Tibúrcio Graciano que colocava suas digitais para criar cabelo do Cascão. Recurso de narrador-observador era sempre bom, no caso ele era roteirista da história. Teve erro da baleia com língua branca no último quadro da página 15 da revista.

É incorreta atualmente por mostrar desobediência, retratar que crianças não deve ir para escola e ter responsabilidades, maquinista do trem querer vender crianças transformadas em porcos na feira, o porco Torniquete levar pancada de bengala na cabeça, personagem como Magali ser vilã e engolir o Pepeto e os bichos como baleia, Cascóquio enfrentar baleia, ficar rodeado de moscas e ser chutado pelo dono do circo, além de palavra proibidas "louco", "gozado", "energúmeno", esta também pelo motivo de ser de difícil entendimento para crianças. Aliás, o filme Pinóquio seria cancelado hoje em dia. 

A capa da revista teve alusão à história de abertura o que era muito raro naquela fase de final dos anos 1980. Só histórias especiais e importantes que tinham capas com alusão, demais revistas prevaleciam as gags.

Essa história nunca foi republicada até hoje, poderia ter sido a partir de 2000 quando estavam republicando histórias de abertura de 1989 do Cascão com frequência, mas acabou não sendo. Podem inicialmente ter deixado reservada para algum futuro Almanaque Temático sobre fábulas e acabaram esquecendo, não republicaram nem em 'Coleção Um Tema Só Nº 49' da Editora Globo de 2006 que só tinham histórias de fábulas do Cascão, nem em outros temáticos e nem no título 'Clássicos do Cinema'   da Editora Panini, aí talvez porque acharam incorreta demais para republicação. Então, essa é rara e só quem tem a revista original que a conhece.

4 comentários:

  1. Que linda essistorinha, ja tinha isquicido de quais tudo cacontesse nela..Tivemo essa rivistinha né poca,., niciaumente foi minhª com prada ni banca d.e jornau e dpois pAssopra minhirmã,troqei cuela ni troca dalguma coiza;acho qëfoi puro otro jibi……..Brigada ô Marco p0r fazeufavõ de resgatà minhA memoria❕💞👏🏻🥲💛Fiqeité mei mossio nada……

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    1. Muito linda mesmo, encantadora, mesmo encarnando Pinóquio, seguiu a personalidade de Cascão, foi legal. Disponha, que bom que gostou, pena você não ter mais esse gibi, quem sabe consiga encontrar um dia

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  2. Que bronzeado o da fada, Deus do Céu! Queria vê-la numa HQ ambientada em praia e a dita-cuja de biquíni... Asas incetoides não impediriam que ficasse do jeitinho que o Diabo gosta... Em vez de "Cascóquio", fosse "Rolóquio", a "fada fatale" terminaria no papo e quase certo que o desfecho da trama ocorresse na Costa Azul*, que é logo ali do lado mesmo, afinal, assim como a história de Pinóquio se passa na Itália, com esta paródia não seria diferente e nem com Rolo no lugar do Cascão haveria de ser. Provavelmente colocariam um maiô nela, em vez de biquíni...
    *Côte d'Azur, a famosa Riviera Francesa, que inclui todo o território de Mônaco.
    Tive Cascão nº68 (Ed.Globo) e, nesta aventura, quem havia sumido da minha memória, foi a Magali, há muito não lembrava do desfecho.

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    1. A Fada ficou muito gata, e nem era branquela, foi uma cor boa. De seu comentário sobre Rolo, me fez lembrar de uma história em que uma fada bonitona ajudava o Rolo a arrumar uma namorada, no final depois de tantas tentativas fracassadas, ele acaba ficando com a fada quando percebe que é gata. Então, com certeza se o Rolo visse essa fada de Cascóquio, também ficaria com ela. É, o desfecho foi com a Magali sendo a baleia, bem inesperado, talvez foi isso que fez você esquecer do desfecho.

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