quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

Penadinho: HQ "Aqueles anos passados"


Mostro uma história de quando o Espírito dos Anos 1990 foi parar no cemitério do Penadinho por estar cansado dos problemas da sua década. Com 8 páginas, foi publicada em 'Cebolinha Nº 113' (Ed. Globo, 1996).

Capa de 'Cebolinha Nº 113' (Ed. Globo, 1996)

Nela, o Espírito dos Anos 1990 surge no cemitério do Penadinho revoltado,falando que desiste do mundo lá fora e pede demissão do cargo dele na Terra. Penadinho fala que ele devia ficar até o final da década e que o Espírito dos Anos 2000 não chegou ainda, mas mesmo assim o Espírito dos anos 1990 continua injuriado, que a sua década não está com nada e mostra ao Penadinho a situação da Terra, com muita poluição, engarrafamento, lotação de gente, assaltos, sequestros e tudo de mal. Fala ainda que bom mesmo devia ser há uns anos.


Penadinho resolve, então, mostrar a ele os espíritos as décadas passadas e o primeiro que apresenta é o Espírito dos Anos 1980, que estava cantando "Boys Don't Cry" da banda The Cure. Anos 1990 acha uma emoção conversar com seu antecessor em pessoa e o Anos 1980 corrige que é em espírito e hoje está aposentado. Eles relembram as coisas boas dos Anos 1980 como os cabelos espetados e se vestindo de preto, pessoal cuidar mais da saúde, movimento "Diretas Já", o despertar da informática e as músicas "Sonífera Ilha" dos Titãs, e "We are World", de USA for Africa. Só que os Anos 1980 lembra que vivia reclamando naquela época, mas apesar de tudo curtiu cada minuto, não se arrepende e sente saudades. Se despede cantando a música  "Me Chama" do Lobão.


O Espírito dos Anos 1990 acha estranho que era uma época tão legal e ele reclamava, quando aparece o Espírito dos Anos 1970, cantando "Night Fever", de Bee Gess, um grande sucesso da Era Disco. Ele se apresenta como espírito do progresso, da tecnologia e da grandeza, viagens espaciais, esportes, Brasil no futebol e Discoteca. Diz que curtiu muito aquela época, mas que reclamava de montão. O Anos 1990 pergunta por que reclamava e Anos 1970 diz que reclamava de bobo e viu que estava errado e vai embora.

Logo depois surge o Espírito dos anos 1960 cantando "All You Nedd Is Love", de The Beatles, e saudando "Paz e amor, bicho" e relembra as coisas boas como a revolução dos jovens, a força das mulheres, o nascimento das novas gerações, artes, músicas, muita esperança do futuro e a era de aquário. Só que lembra também que teve alguns problemas, mas são coisas do passado, só sente saudade e se despede cantando "Alegria, Alegria", de Caetano Veloso.


O Espírito dos Anos 1990 comenta com Penadinho que foram espíritos de décadas tão importantes e ainda assim viviam insatisfeitos nas suas épocas. Penadinho explica que o mesmo aconteceu com os espíritos dos Anos 1930, 1940 e 1950. Na época atual ninguém dá valor ao que acontece, só com os anos que vem o conhecimento.

Fala que o Espírito dos Anos 1990 reclama tanto, mas não vê os avanços da medicina, os cientistas descobrindo a cura, remédios, acordos de paz sendo feitos em vários países, consciência ecológica, avanços da informática, realidade virtual, tudo pertence a ele.


Espírito dos Anos 1990 se convence que estava reclamando por nada e vai voltar à Terra no seu lugar de honra. Ele se despede e então Penadinho comenta com os leitores que tem coisas que a gente só dá valor quando acaba e lembra que morre de saudade dos últimos anos, mas que temos que aguardar o futuro de braços abertos, já que ele será o passado daqui a alguns anos, mostrando o Espírito dos Anos 2000, bebê ainda e que ainda seria lançado na Terra depois de uns anos.


História bem legal, bem filosófica, com uma mensagem de que as pessoas só dão valor quando perde alguma coisa boa e dá noção de nostalgia, que é quando a gente sente falta ou saudade quando não tem mais o que tinha ou vê coisa pior na atualidade do que era no passado. Faz também uma crítica a quem reclama de tudo, quem acha o ano ou a década atual ruim e só o passado que era bom. Mostra que em qualquer época tem coisas boas e coisas ruins, nunca é completamente perfeito, e só deve ficar na lembrança as coisas boas que viveu. 

No caso, o Espirito dos Anos 90 cansou dos problemas que estava enfrentando na sua década e resolveu sair de cena ainda na metade, antes da década acabar, mas acabou sendo convencido pelo Penadinho e os espíritos das décadas passadas que cada tempo seus momentos bons e ruins. E de fato, o futuro também se torna passado como Penadinho mostrou o Anos 2000 que seria o futuro e hoje é o passado também.


A história ajudou a lembrar alguns acontecimentos ocorridos em algumas décadas do século XX, principalmente as coisas boas e excelentes referências musicais. Assim, permitiu  as crianças terem conhecimento o que aconteceu em cada década e os adultos relembrarem o que aconteceu. Interessante que não mostrou do que eles reclamavam em suas épocas, com exceção do Espírito dos Anos 90, ficando subtendido o que tinha de ruim em cada década. Provavelmente, problemas como poluição, saúde, pobreza, que sempre existiu em qualquer época e outros datados que aconteceram ficaria na imaginação dos leitores mais velhos, para eles próprios relembrarem o que tinha de ruim em cada época. De qualquer as coisas ruins não foram suficientes para se sobressair sobre as coisas boas.


Bem divertido ver cada espírito caracterizado no estilo de como prevalecia cada década e eles retratando o que aconteceu de bom.  Nas histórias do Penadinho, os anos e décadas são tratados como fantasmas. Quando o ano ou uma década, como nessa história, acabam. viram fantasmas e vão parar no cemitério do Penadinho e o que está pra nascer é representado como um bebê.

Tudo indica que foi escrita pelo Paulo Back, ele gosta de histórias assim envolvendo datas, quase certeza ser dele. Traços muito bons, característicos dos anos 90, com destaque das cores em degradê em todos os quadrinhos, como vinha acontecendo nos gibis de 1995 e 1996, sendo que em 1996 nem sempre todos os quadrinhos apareciam em degradê, mas nessa história acabou ficando.


Tem gente que considera que uma década começa em anos terminados em "0" e que acaba em anos  terminados com "9", já outros consideram que apenas começam em anos terminados em "1" e acabam em anos que terminam em "0". Como o sistema decimal começa com 1, então o certo é década começar em anos "1" e acabar com anos "0", assim como faz contagem de séculos. Ou seja, anos 1980 vai de 1981 a 1990; anos 1990 vão de 1991 a 2000 e por aí vai. E assim, a década de 2020 começaria só em 2021. Como a mídia mostra que começa com anos "0" acabou mais gente adotando assim, aí cada um segue como acha melhor.

23 comentários:

  1. Muito legal essa histórinha do Penadinho! Todas as décadas tem seus problemas,mas sempre tem alguma coisa boa pra aproveitar.

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    1. Sim, nada é perfeito na vida, sempre tem as coisas boas e coisas ruins, mas sempre na esperança das coisas boas prevalecerem.

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    2. E tomara que coisas boas prevaleçam esse ano.

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  2. Muito legal essa história. As histórias da turma do Penadinho tinham muito essa vibe filosófica, de fazer o leitor refletir sobre a vida e aprender a dar valor ao que se tem e vive. Uma pena que não se façam mais histórias assim com essa profundidade.

    As referências musicais também foram sensacionais, especialmente ao espírito dos anos 80 que, além de cantar uma música do The Cure, também se parece (ao menos o cabelo) com o Robert Smith, líder da banda.

    É por histórias assim - que fazem pensar - que sempre fui fã da turma da Mônica. Grande abraço.

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    1. Verdade, as histórias filosóficas eram profundas. Os campeões em histórias filosóficas eram Horácio, Chico Bento, Astronauta e Penadinho. Hoje em dia não tem mais histórias assim, uma vez ou outra com o Chico Bento, mas tudo bem simples sem essa profundidade. Gostam mesmo é de ensinar boas maneiras o tempo todo e aí são com todos os personagens.

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  3. Referências culturais e históricas... Que HQ bacana, Marcos. Abç

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    1. Excelentes referências sem dúvidas, sensacional essa história. Valeu por ter gostado. Abraço

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  4. Acho que já disse isso,mas hoje sinto nostalgia dos anos 90 duas décadas depois de terem passado,e passei a entender como,nos 90,a geração de meus pais sentiram a dos 70,na qual eu não era nascido.

    Tem gente que diz "no meu tempo que era bom",e eu entendo,mas discordo.Embora as décadas passadas guardem bons elementos dos quais nos lembramos,esse povo esquece dos ruins como bullying,discriminações de todos os tipos,sexismo(ainda visto hoje).Verdade que hoje está havendo uma quebra de valores morais pela mídia,felizmente questionado e combatido pela sociedade,mas antigamente a vida era mais dura,tanto no sentido do que já citei acima quanto na tecnologia que não tínhamos,inclusive a médica.

    De vez em quando vejo no YT e Face publicações de fotos de ruas e praias nas décadas de 1910 e 20,com muitos comentários dizendo que "naquele tempo era melhor",que queriam "se transportar para aquela época",que "não havia p*t*r*a como hoje",etc. aí eu lhes respondo que duvido eles quererem se vestir de terno e gravata ou vestido apertado no pescoço com espartilho por baixo embaixo do sol tropical do Brasil ou vestir "pijamas" listrados nas praias,e digo também que naquela época havia hipocrisia e vida de aparências,com muito racismo(pós-escravidão),sexismo,bullying,preconceito,etc.



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    1. Sim, sempre existiu isso, só que era encoberto, fingindo que não acontecia. E aí ficam lembrando das coisas boas e as ruins ficam pra trás, esquecidas e fica como se era tudo mil maravilhas.

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    2. concordo, as pessoas só lembram do que era bom e esquecem as coisas ruins, eu também vivi os anos 90 e lembro deles com muita saudade e carinho, mas eu não voltaria no tempo, pois cada coisa ruim que aconteciam naquela época, a intolerância era muito maior, fora que não havia internet. Eu acredito que com o avanço da tecnologia os elementos bons do passado, como culturais, serão cada vez mais lembrados e trazidos de volta. Acho que o correto é assim, reviver as coisas boas, mas com o espírito mais tolerante e justo atual.

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    3. Os elementos vão ser lembrados, dá pra relembrar com as imagens e vídeos na internet, mas não voltar a ser moda e uso frequente como era. Agora coisas ruins e intolerância sempre teve e sempre terá. Quanto a internet a partir do segunda metade dos anos 90 tinha, porém poucos tinham acesso e era bem limitada já que era discada.

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    4. Intolerâncias diminuíram muito nos últimos anos.

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    5. Será?... Eu acho que tão voltando a subir.

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  5. Eu tinha essa revista, era a mesma que vinha com aquela história-tributo aos Mamonas Assassinas (da qual você já falou aqui), que por sinal foram um capítulo marcante da cultura pop nacional nos anos 90.
    Eu sei que o certo é a década ser de 0 a 9, mas de 1 a 0 pra mim é preferência pessoal, pois considero meio que um oxímoro dizer que, tipo, 1990 fez parte da década de 80.
    E a propósito, confesso que sou saudosista dos anos 90, mesmo com a guerra no Iraque, a pindaíba da recessão e a morte do Ayrton Senna, também teve o Brasil tetracampeão, o duelo dos 16 bits e uma MTV que ainda tocava música. Até mesmo porque essa foi minha época de infância, eu assistia Power Rangers na TV Colosso, tinha um Tamagotchi, jogava Super Nintendo... e era leitor assíduo da Mônica. Não dá pra negar que bate a saudade, mas também sei que é pra viver o agora, afinal a única direção na qual o tempo segue é adiante.

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    1. No caso a década ser de 1 a 0 é mais certo por conta da numeração decimal começar por 1. Fora também que os anos terminados 0 é a cara do ano anterior. Tipo, o ano 1980 só vejo os costumes dos anos 70, não tinha nada de novo que marcou o que era a década 80's. O ano 1990 só costumes dos anos 80 e assim vai.

      Os anos 90 foram muito legais sim, curti bastante, tudo isso que vpc~e falou marcou bem. Claro que sempre vai ter fatos ruins que não devem ser completamente esquecidos, mas bom se apegar as coisas boas.

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    2. Fui postar e falei o contrário... Quis dizer que o certo é a década ser de 1 a 0, e 0 a 9 é que é preferência pessoal minha.

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    3. Matematicamente o certo é a década ser de 1 a 0, mas vai do gosto pessoal de cada um.

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  6. A história é boa, mas para ter ficado perfeita, poderia ter algumas menções de como eram a Turma da Mônica e o trabalho do Maurício durante as décadas passadas, como quando ele virou quadrinista e quando lançaram os gibis da Mônica. Nem que seja apenas uma pequena fala em forma de piada.

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    1. Ele quis dar um contexto global do Brasil e do mundo sem ser a metalinguagem dos quadrinhos senão teria que encaixar a Turma da Mônica em todas as décadas a partir dos anos 60. Por isso não colocou.

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  7. Confesso que eu adoro o saudosismo do passado, mas hoje nós temos a internet e bastante tecnologia avançada que não deixam nada cair no esquecimento, tanta coisa nostálgica é lembrada com força, então eu acho isso bom. Eu tenho bastante esperança de que a tecnologia vai avançar mais e mais e trazer tudo de bom que as décadas passadas tinham, quem sabe num futuro a msp relance alguns gibis antigos iguais como eram na época? sonhar não custa.

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    1. A coisa boa da internet que dá pra relembrar seja com imagens ou vídeos. Tipo, dá pra rever algum programa de TV que gostou, um clipe musical, etc. Mas voltar a atualidade os elementos, voltar a ser rotina como foram outras épocas acho muito difícil.

      Na MSP hoje tem alguns relançamentos de gibis digitais de aplicativos de celular, dá pra reler as histórias, mas não é a mesma coisa que manusear um gibi antigo como foi. Ou sejam sempre vai faltar alguma coisa.

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