Em julho de 1989 chegava nas bancas o gibi 'Chico Bento Nº 66' pela Editora Globo. Nessa postagem faço uma resenha de como foi esse gibi.
Uma capa muito divertida com Rosinha dando migalhas do seu pão par aos peixes enquanto o Chico fica entediado de não conseguir fisgar nenhum na pescaria. Era só ele olhar para trás para ver o motivo de não pescar nada.
O gibi teve 6 histórias no total, incluindo a tirinha final. Era de costume nos gibis do Chico Bento ter história com secundários só com o Papa-Capim, e nesse não foi diferente. Uma curiosidade que em 1989 os gibis do Chico bento tiveram bastante histórias, envolvendo fábulas e fantasias, com Chico contracenando com fadas, bruxas, extraterrestres. Aliás, os gibis da turma no geral tiveram bastante histórias de fábulas naquele ano. Nesse gibi do Chico teve 2 histórias místicas: a de abertura e a de encerramento.
A de abertura foi
"Lendas, Mitos e Confusões", com 11 páginas no total, uma de terror em que o Chico e Zé da Roça voltam de uma pescaria ao anoitecer e por estar tarde resolvem cortar caminho pela fazenda do Coronel Rodovalho. Zé Calunga avisa para eles não irem para lá porque o Coronel Rodovalho se tornou Lobisomem.
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Trecho da HQ "Lendas, mitos e confusões" |
Ele explica que o Coronel sempre foi um grande caçador, com várias cabeças de bicho como troféus na sala, e que um dia resolveu caçar em noite de Lua Cheia de 5ª para 6ª feira e do nada voltou para casa todo esfolado e desde aquele dia ouve uns gemidos na casa dele, nunca mais saiu para caçar e tem gente que vê uma figura peluda vagando por lá. O povo acha que no dia que o Coronel foi caçar, ele foi atacado por um Lobisomem e quem não morre com a mordida, se transforma em Lobisomem.
Chico e Zé da Roça cortam caminho pela fazenda do Coronel Rodovalho, apesar do Chico ficar com medo e no caminho ouvem uivos vindo da casa do Coronel. Chico pensa em voltar, mas continuam o trajeto até que veem um vulto peludo uivando e perguntando quem está ali. Chico e Zé da Roça se assustam e entram na casa do Coronel pela janela. Eles acendem a luz e se assustam com as cabeças de bichos e pele de onça morta da sala de troféus e logo veem que o Lobisomem está querendo entrar na casa e se escondem.
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Trecho da HQ "Lendas, mitos e confusões" |
O Lobisomem chega e vê o Zé da Roça atrás da cortina e o Chico sai correndo desesperado para a mata dentro da pele de onça onde estava escondido. Zé da Roça descobre que o Lobisomem era o Coronel Rodovalho, que explica que naquele dia foi caçar um viado, e acabou caindo em um precipício, se esfolou todo rolando abaixo e terminou em um espinheiro, logo depois tropeçou e caiu no lago e a umidade atacou o reumatismo dele, que faz gritar de dor e na friagem piora, que por isso usa capote de pele. Os empregados o abandonaram não aguentando os gritos e ele acha que foi castigo por ter caçado tantos animais. Zé da Roça avisa que agora que sabe de tudo , vai contar pra todo mundo e os empregados vão voltar.
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Trecho da HQ "Lendas, mitos e confusões" |
Na noite seguinte, Zé da Roça conta tudo ao Chico, que diz que ficou gritando com um couro de onça nas costas à toa e que por isso vão cortar caminho pela fazenda de novo. No caminho, Zé Calunga diz que para eles não irem para lá, dessa vez não por causa de lobisomem, que descobriram que é mentira, mas por causa de um Homem-Onça, metade menino, metade onça que foi visto de noite gritando e uivando de dar dar medo e que era feio que dói e come gente, terminando assim.
Uma história muito divertida, que mexe com fantasia de lenda de lobisomem, com Chico e Zé da Roça pensando que tinha um lobisomem na região, engraçado eles pensarem que realmente existia um. Várias cenas incorretas como caçar bichos, mostrar cabeça deles como troféus, mostrar armas de fogo, tudo isso completamente impublicável hoje em dia. Os personagens Zé Calunga e Coronel Rodovalho só apareceram nessa história, sendo que o coronel atualmente das histórias é o Genésio, pai do Genesinho de forma fixa.
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Trecho da HQ "Lendas, mitos e confusões" |
Em seguida vem Papa-Capim com
"Quando um guerreiro sente fome", de 4 páginas. Nela, Papa-Capim está com fome e Janaína convida pra comer beijus na oca dela. Papa-Capim não aceita porque ele é um grande guerreiro e vai conseguir seu alimento sozinho. Ele tenta pegar frutas na árvore, mas acaba mexendo com uma colmeia e as abelhas avançam. Eles correm e entram no lago pra fugir delas. Como já estava lá, Papa-Capim resolve pegar peixe, mas acaba encontrando piranhas e corre delas. Depois, resolve caçar onça, que acaba avançando neles. Então, no final, Papa-Capim acaba comendo frutas na oca da Janaína, falando que um grande guerreiro tem direito de filar boia de vez em quando.
Mais uma vez com tema de caça em um mesmo gibi, era muito comum isso. Dessa vez apareceu uma índia diferente contracenando com o Papa-Capim, a Janaína, hoje em dia, aparece mais a Jurema de forma fixa.
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Trecho da HQ "Quando um guerreiro sente fome" |
Em
"Condução difícil", de 5 páginas, Rosinha não quer ir à quermesse a pé e o o Chico Bento arruma um burro para eles irem. Quando ela monta no burro, cai no chão. Depois o burro acelera tanto que ela cai de novo. No caminho, o burro para em uma ponte e a Rosinha resolve descer e acaba caindo no lago. Ela chora, pede desculpa ao Chico pela mania de grandeza. Rosinha troca de roupa e eles vão à quermesse a pé. Eles demoram tanto que quando chegam, a festa tinha acabado e então Chico pega o violão de um repentista e toca com a Rosinha dançando, com eles fazendo a sua própria festa sozinhos. Histórias com burro servindo de carga são evitadas hoje em dia e era comum ter quermesse com Chico Bento sem ser em gibis de junho. Podia ser em qualquer época do ano.
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Trecho da HQ "Condução difícil" |
"O Trabalhador", uma história muda de 2 páginas com o Chico fazendo o seu trabalho na roça, como tirar leite da vasca, pegar ovos da galinha, dar comida para os bichos, consertar telhado, entre outros. Depois que acaba o serviço, ele vai se encontrar com a Rosinha e acaba dormindo de tão cansado e a Rosinha diz que não é vantagem de namorar um rapaz tão trabalhador. Impublicável hoje em dia por mostra ro Chico trabalhando pesado na roça e o politicamente correto não permite criança trabalhar. A seguir a história completa:
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HQ "O trabalhador" |
O gibi termina com
"O príncipe das águas", com 6 páginas, que mostra a história de um boto-rosa que costumava se transformar em um príncipe para jogar seu charme e levar mulheres para o fundo das águas e nunca mais são vistas. Então, Rosinha fica à beira do riacho e aparece o boto transformado em um menino de príncipe, se apresenta como Arquibaldo e começa a fazer charme para ela. Chico Bento aparece, vê os dois de mãos dadas e fica com ciúme. Rosinha não aceita de deixar de conversar com o Arquibaldo e Chico vai embora triste.
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Trecho da HQ "O príncipe das águas" |
No caminho, ele chora e encontra um senhor e conta a história para ele. O senhor diz que tudo indica que o Arquibaldo é um boto-rosa, como ele leu no início da história, e fala para ver o reflexo dele na água. Chico volta e briga com o Arquibaldo e vê o reflexo do boto no lago. O boto vai embora e Rosinha agradece o Chico ,falando que não era para acreditar no boto. Logo depois ouvem um canto à beira do lago e era uma sereia querendo encantar o Chico e Rosinha o puxa pela camisa, falando para eles irem embora.
Foi uma histórias mística do Chico, misturando folclore, lendas e fábula, que eles estavam investindo nisso na época. Interessante ter um prólogo no início, contando a história do Boto levar mulheres para o lago antes da história propriamente dita começar. E engraçado o senhor falar que leu a história em que eles estavam vivendo, mostrando uma piada metalinguística.
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Trecho da HQ "O príncipe das águas" |
Tirinha final com Chico ouvindo rádio com chiado, como se tivesse dormindo, então ele bate no rádio e realmente o locutor estava dormindo e acorda com a batida do Chico. Tirinha envolvendo absurdos que eram comuns e agente gostava muito.
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Tirinha da edição |
Como pode ver foi um gibi prevalecendo histórias do Chico com Rosinha e histórias místicas como a de abertura e a de encerramento, que eram bem constantes nos gibis da época. Não podia faltar também as cenas incorretas que predominavam em todos os gibis e tornavam mais divertidos. Os traços em todas muito bons também, cada uma seguindo o seu estilo da época. Enfim, um gibi padrão para sua época e muito legal que vale a pena.
Sim, todas muito boas e são incorretas que as tornam melhores ainda.
ResponderExcluirJanaína(ou Jurema?),uma menina índia que não usa top para cobrir os seios que não possui.Normal em 89.Hoje em dia,com toda essa chatice falso-moralista do politicamente correto(na verdade,incorreto),não sei como está!
ResponderExcluirParece que ainda não cobrem o top das meninas índias, apenas das mulheres. Das meninas as vezes colocam colares pra disfarçar.
ExcluirSim,tem histórias republicadas que foram editadas.
ExcluirNa "Socorro,quero casar",que eu vi em Almanaque do Chico Bento 20,Globo,dez./92,a indiazinha que queria o Papa Capim foi crescendo e os seios aparecendo até a idade adulta,sem nenhuma censura!
A HQ foi re-republicada em Almanaque Papa Capim e Turma da Mata 4,Panini,out/2011,e ela foi coberta por colar de penas ao começar a crescer.
Lamentável,isso não é evolução,é retrocesso(se é que no passado havia tanta censura)!
Lamentáveis essas alterações bobas. Põe retrocesso nisso
ExcluirExatamente!Nem seios tinha.Mas até as que tinham não eram censuradas nas histórias da TM,felizmente.
ResponderExcluirHoje em dia qualquer mínimo indício de mamilo FEMININO que venha a aparecer timidamente é altamente criminalizado,quando deveria ocorrer o oposto,evoluir!
No mesmo 1989,Cassia Kiss apareceu de seios nus para a didática e necessária campanha do câncer de mama,mas parece que não aprendemos nada com isso e andamos para trás!
Agora que reparei que nem todos os gibis tem o logo do Estúdio com o Bidu. A partir de que ano que começou a ter?
ResponderExcluirParece que 1992.
ExcluirSim, foi a partir de janeiro de 1992
ExcluirTenho essa na coleção e essa HQ de abertura quando li a primeira vez..achei o máximo!! ;)
ResponderExcluirLegal que vc tem esse gibi. essa história de abertura é demais, muito criativa.
ExcluirNa de abertura a parte incorreta é caça, armas de fogo, aparecer cabeças de bichos, até a pele de onça morta que o Chico colocou nas costas. Se republicarem, teriam muitas alterações. Aliás, nunca vi essa história republicada nem em almanaques da Globo. Deveria ser em 2001, mas não vi. Acho que nunca foi republicada.
ResponderExcluirDo Papa-capim a caça, com ele enfrentando onça, piranhas e Janaína sem top não seria bem vindo, assim como a do Chico trabalhador e do boto vilão levando mulheres para o fundo do mar. Acho que a única que republicariam hoje em dia seria a Condução difícil, apensar da Rosinha sofrer um bocado.
No primeiro filme da Thainá ela felizmente não vestiu top!
ResponderExcluirNão aprendemos nada com os índios?
Pelo visto não :(
ResponderExcluirEu amo os gibis do Chico Bento. Acho que já comentei que o primeiro que comprei foi dele, edição 149 de outubro de 1992. Que saudade.
ResponderExcluirEu amo as histórias que aparecem personagens de folclore. Ótima escolha, Marcos.
Esse gibi do Chico é muito bom. Também gostava de hqs com folclore, apesar de não ser minhas favoritas. Legal que gostou. Valeu
ExcluirA capa é semelhante à de Chico Bento nº 3, da primeira série da Panini (2007), mas neste caso é o Zé Lelé que está alimentando os peixes. Não sei se você já tinha colocado isso nas publicações de capas semelhantes, por isso estou comentando aqui! Abraços
ResponderExcluirVerdade, já coloquei aqui em seção de capas semelhantes
Excluirhttp://arquivosturmadamonica.blogspot.com.br/2015/08/capas-semelhantes-parte-12.html