sexta-feira, 29 de julho de 2016

Maurício: o Início - Os Primeiros Livros do Criador da Turma da Mônica


Nessa postagem faço uma resenha sobre o livro "Maurício: o Início - os Primeiros Livros do Criador da Turma da Mônica", lançado em 2015 pela Editora WMF Martins Fontes.

O livro é uma compilação de 3 livros infantis que o Mauricio lançou pela Editora FTD em 1965. Foi a primeira coleção de livros que ele lançou na carreira e por isso a importância histórica. Cada livro original tinha capa dura e era composto de 2 histórias, uma de cada personagem: no livro do "Niquinho e caixa da Bondade" tinha junto uma história do Chico Bento; o livro "O Astronauta no planeta dos homens sorvete" tinha também  "Zé da Roça... e o dragão que não existia"; e o do Piteco, tinha "Penadinho contra o Caçador de Cabeça". Todas as histórias foram roteirizadas e desenhadas pelo próprio Mauricio e arte-final de paulo Hamasaki.

Capas dos livros originais de 1965

Então, agora para comemorar os 80 anos do Mauricio, foi criado uma reedição desses livros, reunindo todos em um só, com processo de restauração para que o público possa ter acesso a esse material. "Mauricio: O Inicio" tem capa dura, papel de miolo offset, 212 páginas no total, com formato 19 x 27,5 cm, igual aos livros originais de 1965. A capa eles tiraram da contracapa que vinham nos livros originais, colocando agora um fundo azul.

Agora o preço que é muito caro, custando atualmente R$ 104,90. Na verdade, custava R$ 99,80 e teve esse reajuste depois de alguns meses. Eu só comprei agora porque consegui 50% de desconto, pesquisando na internet. Com isso, paguei R$ 52,45 pelo preço de capa mais um frete de R% 5,00. Sem desconto não dá para comprar com esses preços absurdos que insistem em colocar nesses livros.

Suporte da página traseira da capa dura

Cada livro original ocupou 32 páginas, mostrando para cada livro a capa original e logo a seguir sua história, seguindo a sequência de lançamento. Tipo, depois da história do Niquinho veio a do Chico Bento que pertencia ao livro original, e assim por diante. Infelizmente tiveram alteração de erros de cores e colocaram ortografia atual. Tiveram muitos erros primários como personagens com rosto laranja, amarelo, por exemplo. Apesar de nos "Extras" do livro, mostrar algumas imagens de erros de cores dos originais, ainda acho que deviam ter mantido todos os erros para gente ver exatamente como era que saiu.

O livro tem suporte nas capas duras mostrando tirinhas que sairam em jornais dos aos 60. Nos livros originais eram assim e preservaram isso agora.  abre com um prefácio escrito pela pesquisadora de quadrinhos Sônia Maria Bibe Luyten, falando sobre o livro e por ser a primeira coleção de livros infantis do Mauricio. Logo em seguida vem a reedição dos livros. cada um colocando a sua capa original e em seguida as histórias. Normalmente, uma ilustração gigante em cada página e um texto breve inserido, bem semelhante a livrinhos infantis comuns. Mas em alguns tiveram texto em uma página e ilustração na outra e em outros duas ilustrações em algumas páginas. Curioso também que palavras em aspas, colocavam o símbolo  "<<  >>." entre as palavras.

No geral, são histórias bem simples, de fácil leitura para crianças pequenas, seguindo o estilo do Mauricio de mostrar fantasias, imaginação e mensagens positivas em suas histórias. Muitos também serviram para apresentação de personagens, de conhecer personalidade de forma mais ampla, porque eles só eram visto brevemente em tiras de jornais na época.

Contracapa da edição

O livro do Niquinho é o mais interessante de todos, afinal ele é um personagem esquecido e que não vemos material dele por aí. Em "Niquinho e a caixa da bondade" descobrimos que ele é um menino muito pobre que mora em favela que pedia dinheiro na rua porque a mãe estava desempregada. Ou seja, um personagem politicamente incorreto e sem chance de ver em gibis infantis hoje em dia. Ele também gosta de praticar bondade com os outros, sempre pronto para ajudar. Mauricio não quis continuar com o personagem por ter achado muito sofredor.

Na história, enquanto o Niquinho pedia dinheiro na rua, ele encontra 2 bandidos que dão uma caixa velha para ele dizendo que tinha muita bondade nela. Mas, de repente tudo começa a dar certo na vida do Niquinho, desde que ele passou a ter posse dessa "caixa da bondade". Curioso que nos anos 60 já era discutido desemprego e pobreza e presença de bandidos, tudo de forma aberta em livrinho infantil. Outros tempos. O texto da história apareceu nas próprias ilustrações.

Trecho da HQ "Niquinho e a caixa da bondade"

Em "Chico Bento" mostrou o cotidiano do personagem, como era sua vida na roça e sua ida até a casa da Vó Dita para contar histórias de assombração pra ele. Uma típica de apresentação solo do Chico, para o público conhecer melhor o personagem, já que na época ele era coadjuvante nas tiras de jornais do Zé da Roça, que era o personagem principal do núcleo caipira. Texto apareceu em uma página e ilustração na outra. De curiosidade vemos que o pai do Chico se chamava "Nhô Zé Bento" e sua mãe, "Nhá Zefa". E teve um amigo negro chamado Jeremias, mas que não era o Jeremias da Turma da Mônica.

Trecho da HQ "Chico Bento"

"O Astronauta no planeta dos homens-sorvete" mostra uma história de um planeta com habitantes sorvetes e picolés que ficam ameaçados com a chegada de dois seres de fogo, que fazia derreter todos sempre que se aproximavam. Texto inserido nas próprias ilustrações, sendo que algumas páginas tinham 2 ilustrações. Vemos que o Astronauta era desenhado bem diferente e tinha cor de uniforme bem diferente do que se tornou a partir dos anos 70.

Essa história depois foi republicada, sendo redesenhada com estilo de gibis dos anos 70, que saiu em 'Mônica Nº 28', (Ed. Abril, 1972). Ou seja, uma história clássica do Astronauta.

Trecho da HQ "O Astronauta no planeta dos homens-sorvete"

"Zé da Roça... e o dragão que não existia", mostrou a história do zé da Roça e Hiro que viram um dragão na mata e eles mesmo ficam com dúvida se estavam vendo o dragão mesmo ou se era imaginação deles. Daqueles tipos de histórias que o Mauricio gostava de fazer de despertar imaginação, deixando dúvida se aconteceu mesmo ou foi tudo imaginação dos personagens, deixando o leitor fazer a sua própria interpretação.

É do tempo em que o Zé da Roça e o Hiro eram os personagens principais. vemos que o Hiro tinha camisa azul e se chamava Hiroshi, só algumas páginas que colocaram Hiro. Apareceu o pai do Zé da Roça nela, que se chamava "Nhô Nito". O texto foi inserido nas próprias ilustrações, sendo que algumas páginas tinham 2 ilustrações.

Trecho da HQ "Zé da Roça... e o dragão que não existia"

Em "Piteco", o povo da Aldeia passa fome e Piteco vai à caça de um dinossauro. No caminho, ele salva um dinossauro dócil com o pé cravado com espinho e ai o dinossauro agradecido o segue até à Aldeia, mas o povo cheio de fome quer comer o dinossauro. Os textos da história foi inserido nas próprias ilustrações, sendo que em algumas páginas tinham 2 ilustrações. De personagem fixo da Turma do Piteco, só a Thuga que apareceu. Interessante ver o Piteco e a Thuga com cores de roupas bem diferentes do que dos gibis. Mais tarde fizeram histórias parecidas nos gibis, com o Piteco adotando dinossauros que ele encontrava em suas caçadas. 

Trecho da HQ "Piteco"

"Penadinho contra o caçador de cabeça" vemos o cotidiano do personagem no cemitério, junto com seus amigos fantasmas e monstros e o perigo de um caçador de cabeça que queria a cabeça do Cranicola. Basicamente, a metade da história foi apresentação dos personagens, mostrando a origem e como foi que eles surgiram no cemitério e até algumas piadinhas em cima deles e a outra metade que mostrou a sinopse da história do caçador de cabeça. Curioso do Zé Vampir sendo apresentado como um garotinho. Texto em 1 página e ilustração na outra, com falas em balão na maioria das ilustrações.

Foi a primeira vez que personagens como Zé Vampir, Muminho, Cranicola e Frank apareceram em histórias do Mauricio. Depois nos gibis, quando tinha histórias do Penadinho, os monstros apareciam de vez em quando nos anos 70, sendo que prevaleciam histórias do Penadinho contracenando com fantasmas. Eles só passaram a ter características próprias, inclusive cada um protagonizando histórias solo com o lançamento do gibi do Cascão em 1982, quando a Turma do Penadinho passou a ter histórias frequentes nos gibis.

Trecho da HQ "penadinho contra o caçador de cabeça"

No final tem "Extras" mostrando algumas páginas dos originais escaneadas, mostrando alguns erros de cores que sairam, além de falar como foi o processo de criação do livro e uma entrevista com o Mauricio de como ele criou os livros na época e suas curiosidades e miniaturas das propagandas originais dos livros que sairam no suplemento "Folhinha de São Paulo".

Como podem ver, mesmo sendo livros infantis para crianças pequenas, tem muitas raridades dos primórdios da carreira do Mauricio, tudo produzido por ele, seguindo o seu estilo de histórias do estilo de despertar imaginação e mostrar uma mensagem positiva por cima delas. Para quem gosta de raridade e saber como foram os primeiros trabalhos do Mauricio, vale a pena comprar esse livro, mas claro pesquisando bem descontos na internet porque o preço é muito caro pra comprar em livrarias físicas.

14 comentários:

  1. Material muito legal, pena que o preço seja um roubo. Por mais raras que sejam as historias ainda assim é caro demais. A MSP atualmente so pensa mesmo em lucro. Tem que pesquisar mesmo, pois o preço original torna a compra inviável!

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    1. Pois é um absurdo o preço que eles colocam nesses livros. Pagar 104,90 nesse não dá. Mesmo sendo um material raro, não justifica um preço tão alto assim. O "Bidu Zaz Traz" também outro roubo de 102 contos. Se quiser ter, tem que pesquisar muito sem dúvida.

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    2. tenho esperança de que na bienal do livro vai estar mais em conta

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  2. "descobrimos que ele é um menino muito pobre que mora em favela que pedia dinheiro na rua porque a mãe estava desempregada. Ou seja, um personagem politicamente incorreto e sem chance de ver em gibis infantis hoje em dia.", Por que é politicamente incorreto algo que é real?Quantas vezes uma pessoa já não encontrou um mendigo na rua?Esta aí eu não entendi porque é politicamente incorreto. Ótima postagem Marcos!

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    1. Valeu Jota! Talvez me expressei mal, o que quis dizer é que hoje em dia a MSP não faz mais histórias mostrando realidade do mundo, mostrando sofrimento, tudo para não chocar as crianças. De fato, tem desemprego, pobreza, assaltos, etc, mas não querem mostrar isso nas histórias. Eles até apagam armas nas republicações das histórias pra se ter uma ideia.

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    2. quer dizer, querem colocar um mundo totalmente irreal pras crianças. Que bobagem. Assim eles perdem a oportunidade de fazer um pensamento crítico desde cedo nas crianças.

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    3. Eles fazem um mundo do faz-de-conta pra não chocar e traumatizar as crianças sem mostrar a realidade.

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  3. você vai fazer uma postagem sobre o niquinho nos "personagens esquecidos"?

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    1. Não, porque essa foi a única aparição do Niquinho. O Mauricio não continuou com o personagem.

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    2. foi mesmo? Eu pensava que haviam mais, pois sempre falam que ele era a antítese do Nico Demo, e vejo várias artes deles, como ele andando e um vaso prestes a cair na cabeça dele.

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    3. Essas são ilustrações que criaram depois pra falarem sobre o personagem porque não tinham material dele. As ilustrações originais são as que o Niquinho aparece com sujeiras no rosto como do Cascão.

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  4. Esse livro vale muito a pena pela importância história, mas realmente o preço é salgado.

    Só o comprei na Bienal do RJ do ano passado porque o stand da Martins Fontes estava com 30% de desconto em qualquer produto e podia parcelar. Mas o desconto que você conseguiu foi ainda melhor, Marcos.

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    1. Pois é, André, tive muita sorte conseguir esse desconto senão não sei se compraria agora. O do Bidu Zaz Traz que consegui 30% de desconto. O preço de capa podia ter sido bem mais barato.

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