sexta-feira, 30 de novembro de 2018

Cascão Nº 99 - Editora Abril



Em maio de 1986 chegava nas bancas o gibi 'Cascão Nº 99'. Nessa postagem faço uma resenha de como foi esse gibi.

Tem uma capa muito engraçada e criativa com a sombra do Cascão desviando  da poça d'água desesperada para não se molhar, ou seja, nem a sombra do Cascão pode se molhar. Interessante que sempre gostavam de colocar Sol, passarinhos ou outros bichos rindo ou interagindo com a piada mostrada. Detalhes que faziam a diferença. 

O gibi teve 7 histórias no total, incluindo a tirinha final. Como histórias de secundários nessa edição apenas do Penadinho. Dessa vez não teve Bidu como era de costume. Inclusive, em 1986, estavam tendo histórias do Bidu nos gibis do Chico Bento no lugar do Papa-Capim, como forma de experiência, mas logo voltaram ao tradicional de forma fixa, com Bidu e Penadinho com Cascão e Papa-Capim com Chico Bento.  

Abre com a história "O plano infalível agora é do Cascão", com 7 páginas. Nela, Cascão tem uma ideia de um plano infalível contra a Mônica do nada quando estava conversando com o Cebolinha e resolve pôr em prática. Cebolinha, a princípio não gosta porque é ele quem sempre bola os planos, fala que não dá certo porque o Cascão sempre estraga tudo no final, mas quando o Cascão diz que vai ter as glórias sozinho, Cebolinha acaba resolvendo participar, apesar de achar que não vai dar certo, e então, Cascão conta o plano para ele. 


Trecho da HQ "O plano infalível agora é do Cascão"

Em seguida, eles põe o plano em prática. Cebolinha ignora a Mônica quando ela estava brincando com o Sansão e Mônica toma satisfação do por quê do Cebolinha não falou com ela. Cebolinha diz que ela não é sua amiga porque amigos não batem nos outros e ele se cansou. Mônica diz que bate porque provoca e já que não ser que eles sejam amigos, ela tem o resto da turminha. 

Depois, aparece o Cascão que também ignora a Mônica, falando que não que ninguém quer amizade dela porque fica batendo nos outros e com toda a arrogância dela o destino é crescer só em amigos e os meninos vão embora, com Cascão pedindo pro Cebolinha pagar sorvete pra ele e Mônica triste e com peso na consciência.


Trecho da HQ "O plano infalível agora é do Cascão"

Mônica vai atrás deles, fala que deve ser muito ruim envelhecer sozinha e não vai saber ficar sem brincar com eles e promete não bater mais neles. Então, Cascão faz assinar o termo de que ele é o novo dono da rua. Mônica assina e eles cantam vitória. Cebolinha dedura que quem diria que um plano do Cascão daria certo, bem na frente da Mônica e então só restou ela bater nos meninos e assim plano infalível fracassando de novo, dessa vez não por causa do Cascão, e, sim por causa do Cebolinha.

História muito legal invertendo os papeis do Cascão bolar plano infalível e o Cebolinha dedurar no final. Eles eram bem perversos com a Mônica nos planos infalíveis antigos, o que rendiam histórias muito boas. Traços excelentes, muito caprichados, tudo indica que seja desenhos e roteiro da saudosa Rosana Munhoz. Cascão falou a palavra "azarar" quando o Cebolinha não levava fé que ia dar certo o plano infalível, palavra hoje proibida nos gibis atualmente e fariam alteração se republicasse hoje em dia. 


Trecho da HQ "O plano infalível agora é do Cascão"

Em seguida, vem "Fugindo da briga", com 4 páginas, em que Cascão e o menino Zé Carranca brigam feio na rua e falam um ao outro que a briga não acabou, quando se encontrarem novamente eles se acertam. Cascão vai para casa e logo a sua mãe pede para que ele vá na venda comprar uma dúzia de ovos. Cascão diz que não pode e a mãe estranha porque não está chovendo e Cascão diz que é porque se encontrar o Zé Carranca na rua o "pau vai quebrar". Dona Lurdinha exige que ele vá à venda, falando que quando um não quer, dois não brigam.

Trecho da HQ "Fugindo da briga"

Cascão vai, mas cheio de artimanhas para não encontrar o Zé Carranca. Ele anda de joelhos, se esconde em postes, se esconde em baixo da batina do padre para desviar da turma do Zé Carranca, percorre um cano na rua, até que chega na venda, compra os ovos e na saída fica na companhia do seu pai, Seu Antenor, que passou em frente a venda por coincidência, até chegar em casa. No final, mostra que o Zé Carranca estava em casa o tempo todo com medo de sair e se encontrar com o Cascão. Ou seja, um estava com medo do outro e Cascão não precisava daquela artimanha toda pra comprar ovos.

História legal, mostrando brigas de meninos típicos na idade deles, sendo que hoje em dia é impublicável histórias assim por estimular violência. Zé Carranca só apareceu nessa história, como de costume histórias com figurantes.


Trecho da HQ "Fugindo da briga"

Depois tem "Na outra margem", uma história muda de 2 páginas, em que Cascão tem que se encontrar com a Cascuda na outra margem do rio e a cascuda dá ideias de como ele pode passar sem se molhar. Cascão é pessimista em cada caso, dando uma desculpa que poderia dar errado e ele se molhar. Cascuda, então, resolve, nadar até onde Cascão estava e quando ele vê a Cascuda toda molhada, acaba correndo desesperado, acabando assim o encontro deles.

Histórias mudas eu gosto rápidas e sem enrolação. essa foi bacana, ainda mais mostrando a característica do Cascão com medo d'água e destaque de ele segurar as bordas dos quadrinhos, com uma piada metalinguística, que apesar que era bem usada para os personagens fugirem do perigo, sempre se tornava engraçada.


HQ "Na outra margem" (completa)

Penadinho, tem a sua história "Perdendo a cabeça", de 4 páginas, em que vê o o Cranicola triste e ele diz que é porque vive o tempo todo em cima de uma pedra, lavando sol, chuva, vento e que é de cortar o coração. penadinho, então, resolve, ficar com a cabeça na pedra, enquanto que Cranicola passeia com o seu corpo. Em seguida, Frank resolve sentar na pedra, mas Penadinho o morde  por estar na pedra. 

Trecho da HQ "Perdendo a cabeça"

Frank o chuta forte e Penadinho vai parar em cima de uma lama. Nisso, chega um cachorro querendo mijar em cima dele e Penadinho impede xingando e mandando sair fora. Um passarinho caga na cabeça do Penadinho e ele chora. Cranicola volta e Penadinho com pena do sufoco que o amigo passa, acaba colocando o Cranicola no seu ombro  e passeiam juntos pelo cemitério.

Muito boa essa, além dos absurdos dos quadrinhos de Penadinho soltar a cabeça e o corpo andar normalmente, ainda tem uma bonita mensagem no final de ser solidário com o sofrimento dos outros. Ele sentiu o que o Cranicola passa parado o tempo todo na pedra. Incorreta parte do palavrão e do cachorro mijar no penadinho como se fosse poste, hoje em dia não pode mostrar cachorros mijando na rua e em postes nos gibis. E esse cachorro, aliás, ficou muito parecido com o Duque, amigo do Bidu. Já o Frank era desenhado diferente a cada história que aparecia na época.


Trecho da HQ "Perdendo a cabeça"

"Cola Tudo!", com 4 páginas, mostra o sufoco do Cascão de ter quebrado o vaso de estimação da sua mãe e ele tem que consertar e colocar no lugar antes que sua mãe perceba. Ele monta o vaso com cola os pedaços no chão e ao tentar colocar de novo na mesa, o vaso fica colado no chão e não consegue tirar. Dona Lurdinha aparece e ele diz que estava vendo como fica o vaso no chão e ela pede pra deixar o vaso na mesa para não quebrar. 

Trecho da HQ "Cola Tudo!"

Mônica aparece e Cascão diz que duvida que coloque o vaso em cima da mesa. Mônica pensa que se  é truque e Cascão responde que pode da ruma surra se for. Mônica consegue deixar na mesa e com a empolgação da Mônica ter conseguido, acaba fazendo o vaso cair e se quebrar e a Dona Lurdinha aparece dando bronca que sabia que ele ia quebrar o vaso, terminando assim.

É boa essa história, mostra as artes das crianças comas coisas dos pais e tentar se livrar da situação antes que percebam. Tem momento que Cascão fala "Droga!" e por ser palavra proibida nos gibis, atualmente isso seria substituído por "Bolas!" ou outra coisa qualquer.

Trecho da HQ "Cola Tudo!"

A história de encerramento é "Lar, doce lar", com 7 páginas, em que o Cascão foge de casa, cansado com as broncas da mãe mandando limpar os pés antes de entrar em casa, lavar as mãos antes de comer, arrumar quarto, saber quando vai tomar banho.

Na rua, Mônica vê o Cascão com a trouxinha na mão e diz que está fugindo de casa. Mônica diz que não é pra voltar tarde porque a mãe dele vai ficar preocupada e Cascão responde que quem foge não volta pra casa nunca mais e vai embora.

Trecho da HQ "Lar, doce lar"

Assim, Cascão fica feliz e se sente livre, sem precisa fazer nada, sem obrigação de arrumar o quarto, escovar dentes e principalmente não tomar banho e acha que isso que é um "vidão". Ele passa o dia todo jogando futebol com os meninos, até de noite, quando eles vão embora, pois as mães deles estão esperando e Cascão diz que bateu uma fome e espera que a mãe tenha feito o jantar. Aí se toca que fugiu de casa e olha para o bairro e comenta que o pessoal do timinho de futebol deve estar antando numa boa.


Trecho da HQ "Lar, doce lar"

Cascão resolve dormir no mato mesmo atrás de uma moita, quando ouve um barulho assustador. Era uma coruja, mas ele se assusta assim mesmo. Ele tenta dormir em um local mais adiante, mas acaba tropeçando em uma pedra e caindo em um barranco e cai em uma entrada de uma caverna cheio de morcegos, que acabam perseguindo o Cascão. Ele consegue fugir dos morcegos e aí bate mais fome, medo e ainda acha que tem a possibilidade de chover e não resta outra alternativa dele voltar para casa. No caminho, Mônica pergunta se ele está de volta e Cascão fala pra não amolar.

No final, já no dia seguinte de manhã, Dona Lurdinha vê que o Cascão arrumou todo o quarto enquanto que ele está no lado de fora da casa e beija e abraça a casa, falando "lar, doce lar!", como que é o melhor lugar para se viver e arrependido de ter fugido de casa.

Mostra uma bonita mensagem dos filhos que se queixam que os pais ficam cobrando tudo, mas apesar disso tem que dar valor porque eles querem só o bem dos filhos, além de que estar em casa é sempre uma proteção contra tudo.

Trecho da HQ "Lar, doce lar"

Na tirinha final, Cascão tenta cortar o balão do Cebolinha para voar no alto, mas para sua surpresa acaba é o balão caindo no chão ao invés de subir. Muito boa.


Tirinha da edição

Como pode ver um gibi padrão da época da Editora Abril. Histórias curtas, direto ao ponto sem encheção de linguiça e várias situações incorretas deixadas de lado atualmente. traços diferentes em todas as histórias e todas muito bem desenhadas a seu estilo. Dessa vez praticamente não teve histórias envolvendo banho e o medo de água do Cascão, apenas a história muda com a Cascuda que foi o foco principal e em algumas que foi apenas citado isso como na da briga com o Zé Carranca e na de encerramento. Algumas edições o foco de banho e sujeira eram poucas, mas quando acontecia, na edição posterior voltava com tudo. 

Destaque também que a mãe do Cascão teve bastante presença nesse gibi, aparecendo em 3 histórias. Uma grande coincidência, apesar do gibi ser de maio e poderia ser isso em homenagem ao "Dia das Mães", mas como a data do expediente é de 22 de maio, já havia passado o "Dia das Mães". Enfim, um gibi muito bom e vale a pena ter na coleção.

19 comentários:

  1. Um detalhe interessante:essa HQ intitulada "Na outra margem", ganhou um "remake " nos anos 1990,já na fase da Editora Globo, com o título de "Um rio entre nós! ". Diferente da versão da Abril, a versão da Globo tem diálogos, e é contada em três páginas. Só não me lembro em que edição esta história foi publicada.

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    1. Interessante. Não lembro dessa dos anos 90, talvez os diálogos fizeram diferenciar mais. São as famosas histórias semelhantes que ate já mostrei algumas aqui no Blog.

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    2. Está história foi publicada originalmente no gibi Cascão nº55 , em dezembro de 1992.

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    3. Vitor, Cascão Nº 155 vc quer dizer

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  2. Essa capa me remete a uma HQ de anos mais tarde,na Globo.É a "Sequinho como uma sombra".Cascão toma uma fórmula criada por Franjinha,e se transforma numa sombra,para poder nadar no rio sem se molhar.

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    1. Lembro dessa, muito boa. É de Cascão Nº 136 de 1992.

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  3. Muitas hqs eles se baseavam nas situações dos cotidianos das crianças, por isso a identificação ocm os personagens, Os pais da turminha só se tiveram nomes definidos na Editora Globo. Assim, os nomes deles: Sousa/ Luísa (pais da Mônica), Antenor/ Lurdinha (Cascão), Seu Cebola/ Dona Cebola (Cebolinha), Carlito/ Lili (Magali), Antonio Bento/ Cotinha (Chico Bento)

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  4. Marcos,você falou em traços diferentes nas HQs,dependendo do desenhista,aí lembrei que o personagem que mais apresentava diferenças de traços era o próprio Maurício!E eram diferenças gritantes!

    Dia desses eu li uma matéria sobre o Pica Pau,mostrando,na década de 1940,as diferenças de traços do pássaro que eu não notava,na fase "biruta"(1940-43),quando tinha olhos azuis grandes e vesgos,barriga vermelha e pernas peladas!Na verdade,diferenças de traços nele existiram em todas as temporadas de seus desenhos!

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    1. Em todos segmentos de quadrinhos e desenhos animados, eles mudaram traços ao longo dos anos, foram se aperfeiçoando. Pica-Pau mudou bastante mesmo.

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  5. Esse gibi é bom demais, como você disse: época de histórias mais simples, mais curtas, sem enrolação e sem diálogos chatos e cansativos como hoje. Fora os traços, que antigamente eram infinitamente melhores. Olha a cara da Mônica no último quadrinho da página 7: Sensacional! Isso sim, eram traços e expressões bem feitas. Apesar de eu ter vários gibis da Editora Abril na coleção, é uma pena eu não ter esse. Espero um dia encontrar para comprá-lo.

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    1. Pois é, isso que se tornava bom nos gibis antigos. Além dos traços excelentes, não tinha enrolação de hoje, tratam apenas como se tem obrigação de colocar gibis nas bancas e fazem de qualquer jeito. Tomara que vc consiga esse gibi um dia, muito bacana mesmo.

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  6. Bom dia, queria saber se alguém aqui está usando o app da turma da mônica para ler as revistas? Se sim, o que vocês acham deles não seguirem a ordem cronológica das publicações?

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    1. Eu não uso esse aplicativo, se alguém usa, aí comenta aí. Acho que deviam ter uma ordem cronológica.

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  7. Eu tenho essa edição. Muito boa mesmo. Adorei o review detalhado. Abraço

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    1. Valeu! Que bom que gostou. Guarde bem essa edição, é uma relíquia além do conteúdo excelente.

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  8. Marcos, só agora pude comentar. Esse gibi é nostálgico para mim. Tive um problema na perna aos meus 5 anos de idade. Passei 9 meses sem andar. E aprendi a amar gibis. Cascão 99 foi um dos primeiros que ganhei. Linda capa. Uma vez te pedi para resenhar ele. Obrigado por ter feito. Abraço!

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    1. Eu lembro do seu pedido, aí eu fiz agora. Torna-se bem nostálgico mesmo e os gibis daquela época eram excelentes, valia a pena. Que bom que gostou da postagem. Abraço

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