Nessa postagem falo do Zé Fuinha e Zé Furão, uma dupla de personagens pertencentes à Turma da Mata que também foram para o limbo dos personagens.
Zé Furão e Zé Fuinha |
Zé Fuinha e Zé Furão, também conhecidos como "os pilantras da mata", foram criados nos anos 60 em tabloides de jornais. São uma dupla que vivem de dar golpe nos personagens da Turma da Mata para conseguir alguma coisa deles para ficarem ricos. Seguem a linha de dupla de bandidos que eram muito comuns nas histórias da MSP, onde tinha um líder que planejava os planos e o outro que era mais atrapalhado e entregava tudo. Eles nem eram considerados bandidos, apenas queriam dar golpe em cima dos outros, jogarem suas lábias para ficarem ricos, embora já teve história com eles agindo como bandidos.
Como os seus próprios nomes diz eles são uma fuinha e um furão. No caso, o Zé Fuinha era alto, magro e o líder da dupla de pilantras, quem armava os planos. Já o Zé Furão era baixinho, gordo, burro e quem entregava os planos. Normalmente se fantasiavam de alguma coisa para fingir que era alguém importante para levar alguém na conversa e tirar proveito de alguma coisa e, logicamente, sempre se dando mal no final. Às vezes nem precisava o Zé Furão entregar tudo, já que o plano era tão banal que tava na cara que era golpe e então o personagem se passava por inocente, fingindo saber de nada. Ou ficava a dúvida se não sabiam que estavam sofrendo golpe.
No início, eles só perturbavam o Jotalhão. Depois passaram a dar golpe também a outros personagens como o Rei Leonino e Coelho Caolho. Suas aparições não eram frequentes, apareciam de vez em quando, as vezes demorando alguns anos para voltarem a aparecer até sumirem de vez em meados dos anos 80.
A estreia deles nos gibis foi em 1970 na história "Caçadores de marfins", publicada em 'Mônica Nº 3' (e republicada em 'Mauricio 30 Anos', de 1990). Uma história curta de 3 páginas em que Zé Fuinha e Zé Furão armam um plano para arrancar os marfins do Jotalhão para ficarem ricos produzindo estatuetas, bolas de bilhar, teclas de piano, entre outros. Zé Fuinha aparece para o Jotalhão falando que desde que conseguiu um talismã de marfim teve um azar danado, que tudo deu errado na vida dele, que quebrou a perna, destroncou o rabo, terminou com a namorada, teve intoxicação com queijo, mas desde que jogou fora o talismã tudo passou.
Jotalhão fica impressionado e Zé Fuinha e Zé Furão chegam a pensar que ele ia arrancar os marfins por causa disso, mas Jotalhão diz que está livre desse perigo de azar, já que ele colocou uma ponte de porcelana no lugar dos marfins, arrancando e segurando na mão para eles verem, deixando Zé Fuinha e Zé Furão passados.
Tem a curiosidade de no título chamar "Raposão" e ele nem aparece. Era comum isso acontecer nas primeiras histórias deles, visto que ainda não existia o temo "Turma da Mata" e o Raposão devia ser o protagonista do núcleo. Interessante também eles falarem a palavra "azar" abertamente, já que hoje em dia essa palavra está proibida, evitando mostrar histórias sobre esse tema e quando precisa substituindo "azar" por "má sorte" ou "falta de sorte".
Trecho da HQ "Os caçadores de marfim" |
Outra história de destaque com Zé Fuinha e Zé Furão foi uma sem título, apenas "Jotalhão", que saiu em 'Cebolinha nº 43' (Ed. Abril, 1976). Nela, Jotalhão cai em um buraco e fica entalado. Zé Fuinha e Zé Furão ouvem os gritos dele e como reconhecem que ele é o elefante que faz propaganda na TV, eles providenciam arrumar uma barraca e anunciar para todo mundo verem o elefante da TV para eles ganharem dinheiro e ficarem ricos. Eles atraem uma plateia de ratos para assistirem o "elefante mais famoso da TV". Nesa hora, Jotalhão afunda do buraco e vai cair no inferno. A plateia fica uma fera que o Jotalhão sumiu e correm atrás do Zé Fuinha e Zé Furão tacando pedras neles e querendo o dinheiro do ingresso de volta.
Foi só uma participação, pois do nada a história toma outra rumo quando o Jotalhão cai no inferno e a partir daí tem que provar aos diabos que está vivo e caiu por engano. O chefe dos diabos pega a ficha do Jotalhão e vê que ele é um elefante muito bom e ordena que volte para a superfície. No final, Jotalhão tapa o buraco que caiu, dizendo que não quer ver mais um diabo na sua frente, só que vê um filho do Coelho caolho disfarçado de diabo e sai correndo.
Trecho da HQ "Jotalhão" |
Em "Jotalhão e o pote de ouro", publicada originalmente em 'Cebolinha Nº 88' (Ed. Abril, 1980) e republicada em 'Almanaque da Mônica Nº 19' (Ed. Globo, 1990), um duende tem que levar um pote de ouro até onde começa o arco-íris para enterrar, só que fica cansado no meio do caminho e dorme. Como ele é invisível para os olhos dos humanos e bichos, Jotalhão vê o pote de ouro e pensa que está abandonado. Zé Fuinha e Zé Furão vê o Jotalhão ao lado do pote e tentam dar um golpe para poder levar o ouro do Jotalhão, com eles falando que são da "Companhia de Transporte de Valores da Mata" e que precisam levar o ouro e que eles passam a ser os responsáveis pelo pote e carregam para longe.
O duende acorda assim que eles vão embora e percebe que levaram o pote. Ele se torna visível para o Jotalhão e pergunta o que ele fez com o ouro. Jotalhão diz que 2 caras da "Companhia de Transporte de Valores da Mata" levaram. O duende vai atrás deles. Zé Fuinha e Zé Furão enterram o pote, prometendo voltar dentro de 3 meses para pegar de volta. Só que eles enterraram bem no local aonde começa o arco-íris e o duende fica até agradecido porque fizeram todo o trabalho para ele e depois vai pegar o pote de volta para levar até a outro arco-íris.
Trecho da HQ "Jotalhão e o pote de ouro" |
Depois voltaram na história "A roupa mágica", original por volta de 1982 e republicada no 'Almanaque do Cebolinha Nº 7' (Ed. Globo, 1989). Agora já com traços diferentes, típicos dos anos 80, Zé Fuinha e Zé Furão se vestem de alfaiates para dar um golpe no Rei Leonino, dizendo que vão fazer uma roupa com um material mágico e precioso para ele com uma linha de costura tão fina que só um grande rei consegue ver e um tecido com fios de sabedoria que só os inteligentes conseguem enxergar. Tudo custando a metade da fortuna do reino. Rei Leonino, muito esperto, diz que não vai precisar dos serviços deles. Eles falam que se for pelo preço, eles fazem por um terço da fortuna real. Mas Rei Leonino diz que não porque ele já está usando uma roupa mágica e pergunta se eles não estão vendo. Lógico, que ele não estava usando roupa invisível nenhuma, só estava dando o troco a eles.
Trecho da HQ "A roupa mágica" |
A última história que apareceram foi em "Babás exemplares", original de 'Cebolinha Nº 155' (Ed. Abril, 1985) e republicada no 'Almanaque da Mônica Nº 27' (Ed. Globo, 1991), dessa vez com eles tentando dar golpe no Coelho Caolho e com o Zé Furão estragando o plano. Nela, eles se passam por babás recomendadas pelo Rei Leonino para cuidarem dos filhos do Coelho Caolho enquanto sai com a esposa, com intenção de aproveitarem quando os filhos estiverem dormindo para levar tudo da toca do Coelho Caolho. Só que chegando lá, descobrem que são 300 crianças em vez de 2 ou 3 como pensavam. Zé Fuinha, então, fala para o Zé Furão limpar a casa enquanto o Zé Fuinha vai colocá-los para dormir.
Depois de um tempo, eles se encontram na sala, com Zé Fuinha exausto de tanto contar historias para dormir, balançar berços e cantar canções de ninar e o Zé Furão com um saco cheio. Zé furão pergunta se eles não tinham que esperar o Coelho Caolho e sua esposa e Zé Fuinha diz que não porque o trabalho está feito. No final, Coelho Caolho e a esposa voltam para casa, admirados que a casa estava muito limpa e admirando que as babás nem esperaram o pagamento. Então, é descoberto que o Zé Furão arrumou a casa e o que tinha no saco era só lixo em vez de ter levado os objetos da casa, deixando Zé Fuinha inconformando, chorando muito.
Trecho da HQ "Babás Exemplares" |
Após essa história os personagens foram para o limbo do esquecimento. Inicialmente, deve ter sido por circunstâncias de criarem várias histórias e acabarem esquecendo de criar com eles até sumirem. Com o politicamente correto adotado na MSP anos mais tarde, de não ter mais histórias com bandidos e envolvendo golpes e trapaças, aí ficou de vez descartada a volta deles.
Porém, depois de muito tempo sumidos, fizeram uma participação na história "Todos os Zés", de 'Mônica Nº 234' (Ed. Globo, 2005), 20 anos após as suas últimas aparições. Nessa história metalinguística e informativa, foram mostrados os personagens da MSP que tem "Zé" no nome, como Zé Luis, Zé da Roça, Zé Lelé, Zé Vampir, Zé Finado, etc. E o Zé Fuinha e Zé Furão apareceram nela, em 4 quadrinhos: em 3 apresentando os personagens, e em outro quadrinho mais adiante, junto com todos os outros personagens "Zés". Após essa aparição-relâmpago, retornaram ao limbo do esquecimento, ficando até hoje.
Trecho da HQ "Todos os Zés" |
Então, com suas histórias, os leitores se divertiam com os seus golpes e trapaças de um jeito bem humorado, e, de certa forma, tinha lição de moral e até dava para ter coerência com o mundo real, como alertar sobre golpes de telefone, por exemplo. Enfim, Zé Fuinha e Zé Furão tinham histórias divertidas e não mereciam ir para o limbo.
Termino com algumas capas dos gibis que têm as histórias comentadas na postagem:
Ótimo post, como sempre!
ResponderExcluirOs dois também voltaram a aparecer na Graphic MSP 'Turma da Mata - Muralha' como grandes vilões (e sem o 'Zé' nos nomes), o Fuinha até tenta matar todos na mata.
A propósito, sabia que a Graphic MSP 'Turma da Mônica - Laços' vai virar filme em live-action? Me surpreendi bastante quando anunciaram...
Valeu por ter gostado, Marcelo. A Graphic MSP eu não considero porque não é um gibi convencional e não foi produzido por roteiristas da MSP, aí por isso não coloquei no texto. De qualquer forma, foi uma lembrança terem colocado os personagens nessa Graphic.
ExcluirEu vi isso da "Laços" de virar filme. Foi uma grande surpresa realmente. :)
Interessante esses personagens,esses personagens me lembraram o desenho do Manda Chuva,pelo fato de darem golpes nas pessoas,ou...nos animais.
ResponderExcluirÉ mesmo. Vai ver q foram inspirados no Manda-Chuva para serem criados. Afinal, o desenho já existia nos anos 60.
ExcluirObrigado por essa postagem. Como não sou dessa época de gibis, eu nem sabia que esses personagens existem (ou existiam).
ResponderExcluirDe nada, Gabriel. Normal isso, já faz tanto tempo que eles não aparecem que a nova geração não conhece, fora que eles não tinham presença muito frequente nos gibis, apareciam só de vez em quando.
ExcluirAcredito que eles foram banidos nas histórias devido a temática principal deles,que era o roubo,inadmissível nas hqs atuais
ResponderExcluirÉ q quando eles sumiram, ainda tinham hqs de bandidos, aliás er ao q mais tinha. Tudo era motivo de colocar algum bandido nas hqs nem q fosse para fazer participação rápida. Acho q foi mesmo por esquecimento, porém o q dificulta a volta deles hoje em dia é isso. Inadmissível hqs com bandidos, aplicando golpes nos outros, etc.
ExcluirEsse é o tópico do seu blogque eu mais gosto. É muito informativo, nostalgico e legal. A propósito, já reparou que o núcleo do piteco é cheio de personagens esquecidos? Zum e bum, tio glunc, beleléu, ogra, tem mais além desses?
ResponderExcluirnão acho o beleleu esquecido,ele participou de varias revistas da fase panini.
Excluirsim, mas ele ficou esquecido por muitos anos
ExcluirAcho q são só esses os sumidos da turma do Piteco. O Beleleu ficou sumido por muito tempo, mas desde 2007 tem aparecido bastante.
ExcluirO zé gordão, o Zé pirata e o zé cremadinho são considerados personagens esquecidos?
ExcluirO Zé Cremadinho pode ser considerado sim. Zé Gordão e Zé Pirata não conheço esses personagens.
ExcluirNa verdade, o Zé Cremadinho aparece às vezes nas histórias atuais. O Zé Pirata eu vi pela última vez por volta de uma edição 40, já o Zé Gordão só lembro de ter visto uma ou duas vezes na Panini.
Excluiro zé luís pde ser considerado um personagem esqueçido?.Gostaria de uma matéria sobre ele.
ExcluirNão, ele até aparece pouco ultimamente, mas não é esquecido. Quando der posto alguma história com ele aqui.
ExcluirO Zé Luis não é esquecido, ele é ignorado ou mal utilizado. O arquétipo do personagem (sabichão) dele é até um tipo bastante comum em desenhos, estranho eles não conseguirem pensar em boas aparições pra ele (teve uma porém que foi boa, um personagem fala uma palavra estranha e do nada o Zé Luís aparece com um quadro negro querendo explicar pedagogicamente, mas é expulso, foi muito bom hasuhasu), talvez a maior dificuldade seja porque ele é muito velho pra interagir com crianças.
Excluirverdade, ele aparece pouco, mas aparece. Deve se risso da idade dele.
ExcluirSei que foge um pouco do foco, mas preciso registrar que fiquei muito decepcionado ao saber que a coleção histórica será cancelada. Aliás foi nessa coleção que conheci os referidos personagens desta postagem. ..
ResponderExcluirTambém achei muito ruim terem cancelado a Coleção histórica! Logo agora que eu tinha começado a colecionar pelo fato de ser gibis antigos, melhores que os atuais...
ExcluirUma pena mesmo, mas fazer o q né? Com a crise, vários gibis foram cancelados e a CHTM foi mais uma vítima. Talvez tenham outros planos com essas hqs antigas.
ExcluirEu tenho esse último gibi que eles aparecem (Cebolinha N° 155) e bem que eu tinha notado a ausência deles dentro das histórias do Piteco, é uma pena terem sido abandonados pois poderiam proporcionar mais histórias cômicas.
ResponderExcluirMarcos, eu acompanho seu blog a um tempo já e admiro muito o seu trabalho. Não querendo fugir muito do tema mas esses dias eu tava relendo alguns gibis meus e dentro do Almanaque do Louco Nº5 (pra mim o meu personagem favorito), na história "Vou de Táxi" tem uma parte que o Louco amarra e cobre os olhos do Cebolinha com uma venda (como se fosse para um fuzilamento) e faz uma posição como se fosse apontar uma arma para o Cebolinha, mas, não tem arma nenhuma e tem um quadrado preto na mão esquerda do Louco o que pra mim indica que eles apagaram a arma. Eu não tenho o gibi da história original e já procurei no Google mas nada também, gostaria de saber se o senhor tem a história original ou sabe dela por aí.
Abraços
Só uma correção, eles são da Turma da Mata, não do Piteco.
ExcluirObrigado pelo elogio. Quanto a essa hq do Louco é original de Cebolinha nº 34 de 1989. Na original, o Louco acende um fósforo na calça do Cebolinha. Qualquer coisa diferente disso foi alteração tosca.
Abraços
Putz, é mesmo, da onde eu tirei Piteco :s Falha grave minha
ExcluirAh entendi, não há fósforo nem nada na republicação. Valeu e continue o ótimo trabalho nesse blog
Ou seja, mais uma daquelas terríveis alterações q avacalham as hqs e estragam os almanaques atuais.
ExcluirObrigado!
Marcos, a história "Jotalhão E O Pote De Ouro" pertence à Cebolinha Nº 088, de Abr / 1980.
ResponderExcluirValeu! Não sabia disso. Alterei no texto. :)
ExcluirPensei que o Beleléu era um personagem novo, ele aparece muito, até mais que a Thuga agora. Engraçado como o Zé Furão ficou maior do que o Fuinha quando antes ele era o menor. Sobre a história do Todos os Zés... Quem é Zé Pirata? Achei que ele fosse um novo também, na época.
ResponderExcluirBeleléu é antigo e retornou aos gibis em 2007. Zé pirata nunca li nada a respeito, ou não to lembrando agora
ExcluirSó o Zé fuinha, apareceu em Cebolinha 39 2ª série Panini, na história dente de leão, nessa história ele dá balas de coco duras pro rei leonino pro rei leonino ficar com o dente mole, o Zé fuinha se passa por um dentista só pra arrancar o dente do rei, aí descobrimos que é pq a esposa dele precisava fazer um chá de dente de leão, mas o Zé fuinha entendeu errado
ResponderExcluirInteressante, não conhecia essa história.
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