sábado, 1 de julho de 2017

Chico Bento: HQ "Chico, 7 anos"

Primeiro de julho, dia do aniversário do Chico Bento. Então, mostro uma história clássica em que o Chico entrou em uma gruta misteriosa no dia do seu aniversário de 7 anos, que marcou o seu crescimento e maturidade. Com 9 páginas no total, foi publicada em 'Chico Bento Nº 2' (Ed. Abril, 1982).

Capa de 'Chico Bento Nº 2' (Ed. Abril, 1982)

Escrita por Mauricio de Sousa, Chico está indo para uma gruta que está sempre acostumado a ir. Ele costuma ir escondido dos pais por acharem que eles iam achar perigoso entrar sozinho lá. Ele entra através de um buraco bem pequeno e sempre se encanta com a paisagem quando vai lá.


Chico dá a sua volta habitual que está acostumado comentando que os pais iam achar perigoso ele ir sozinho e que o seu pai nem ia conseguir entrar no buraco da boca da gruta. Chico vai ao encontro com seu bisavô Firmino e leva um rolo de fumo para o o seu cachimbo

Então, Chico pergunta onde está o resto do pessoal de casa e  e o seu bisavô diz que estão preparando algumas coisas para ele. Chico pergunta por que estão preparando coisas para ele e seu bisavô diz que não esqueceram do seu aniversário que estava completando 7 anos hoje. Nessa hora, aparece sua bisavó com um bolo de fubá, biscoitos e guarapa.


Chico pergunta por que fez tanta coisa e sua bisavó diz que é por causa que hoje ele vai fazer uma viagem. Ele estranha da viagem porque seu pai não avisou nada. Sua bisavó diz que é uma vagem que todos nós fazemos um dia, que às vezes começa e acaba e a gente nem se dá conta. Nhô Firmino pergunta se o bisneto não vai se arreliar com os "coisa-ruim" (saci, bruxa, diabinhos, mula-sem-cabeça, etc). Chico diz que eles estão quietos e vai deixar para lá, hoje só está com vontade de ficar com seus bisavós.


Nhô Firmino faz questão do Chico dar uma última olhada nos seus amigos da gruta. Chico se encontra com anjos, cachorro, Doceira. Ele comenta que vai fazer uma viagem e a Doceira diz que para onde ele for, não esquecer nunca deles. Chico se despede dos seus amigos e no caminho encontra um balanço e vai brincar. Ele nota que o balanço está cada vez mais para baixo, que nem dar para balançar e se pergunta se foi ele quem cresceu.


Enquanto sai da gruta, ele fica comentando no caminho da saída que seu pai ia dar uma surra se o pegasse naquela gruta, que era para estar estudando ou ajudando na roça ao invés de sumir para lá. De repente, passa a dar razão para o pai, falando que está atrasado na escola e que já está encorpado para ajudar na roça sem problema e se não ajudá-lo não vai poder passear na vila nem se encontrar com a Rosinha e o seu sorriso bonito.


Chico encontra a saída da gruta e acha o buraco da boca da gruta muito apertado, mas consegue sair com dificuldade e acha que é porque está comendo muito feijão. Então, ele se lembra que esqueceu de pegar as coisas do seu aniversário com seus bisavós. Ele tenta voltar, mas ele não consegue mais entrar na gruta pelo buraco e começa a chorar. No final, ele sai triste da gruta e no caminho de volta de casa, ele vai listando suas responsabilidades de estudar, ajudar o pai na roça, juntar dinheiro para no futuro se casar com a Rosinha, afinal a partir daquele momento ele não era mais criança.


Uma história filosófica e séria, estilo Mauricio de Sousa,  retratando o final da infância, quando a pessoa se dá conta que não é mais criança, sem ligar mais para as brincadeiras e passando a ter responsabilidades. Chico Bento ia nessa gruta desobedecendo aos pais, para encontrar com seus bisavós já mortos e sempre conservava com eles. A partir que completou 7 anos, a magia acaba e ele não consegue mais ter contato.


Fica a dúvida se ele conversava mesmo com seus bisavós mortos ou se tudo era imaginação, assim como seus amigos e "coisas-ruins" que conversava lá, enfim, se aquele lugar existia mesmo ou era fruto da imaginação do Chico. Mauricio gostava de histórias de dúvida se tudo aconteceu de verdade ou não, ficando o leitor a julgar da forma que achar melhor. Podia ter colocado algum personagem mais velho pra retratar esse fim da infância como Franjinha, Titi, Jeremias, mas pelo visto Mauricio preferiu o Chico por se encaixar mais em histórias desse tipo, mesmo que com 7 anos ainda ser criança na vida real.


Os traços ainda não estavam do jeito consagrado dos anos 80, estava em evolução. Nota-se pelo formato das bochechas do Chico formando só uma curva direto dos seus olhos. Eram traços típicos de gibis de 1982 e estavam em evolução até chegar ao estilo consagrado lá em meados de 1984. Muito lindo os cenários da história, É impublicável por mostrar assuntos filosóficos sérios como esse, além de mostrar Chico conversando com bisavós mortos e até mostrando o bisavô fumando cachimbo. Curiosidade de não ter mostrado nome da bisavó do Chico, só do seu bisavô Firmino e que nessa história o Chico fez aniversário em setembro, quando foi que saiu esse gibi. Os personagens não tinham data certa de aniversário na época e em qualquer mês podia ter histórias assim.


Dá para notar um caipirês bem diferente do atual, nos primeiros gibis do Chico o sotaque era bem carregado, predominando o gerúndio "-ano". A gente precisava até ler mais devagar pra poder entender melhor certas palavras. Com o passar dos anos forma mudando, seguindo um estilo mais parecido ao atual a partir de 1985. Lembrando que até 1980, a Turma do Chico falava sem caipirês porque a MSP era proibida de colocar personagens falando caipirês. Quando foi liberado, o período de 1980 a 1985 foi de experiência com o seu caipirês. Nas suas republicações, porém, o texto foram alterados para o caipirês atual, tanto no 'Almanaque do Chico Bento Nº 3' (Ed. Globo, 1988) quanto na 'Coleção Histórica Nº 2' (Ed. Panini, 2007). Enfim, um clássico muito bom que vale a pena relembrar.

41 comentários:

  1. Esse caipirês falado aí é bem diferente do qual estou acostumado a ler!E carregado!"Arreliar"?"Balangar"?

    Estaria Chico falando com os espíritos de seus bisavós ou seria imaginação dele?Será que Maurício na época já flertava com o Espiritismo?Este diz que crianças até certa idade podem ver e ouvir os espíritos de falecidos da família!

    Realmente seria proibido mostrar Chico servindo fumo ao velho,mas nesse caso eu não reclamaria se fosse isso numa história de hoje.

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    1. O caipirês era muito carregado no início, depois diminuiram um pouco pra facilitar a leitura, mas sem perder a essência.

      Fica até difícil de imaginar se era imaginação ou não do Chico, pra mim acho que era coisa da cabeça dele, mas bem lembrado que existem casos de crianças dizerem que conversam com amigos imaginários que podem ou não ser espíritos.

      Na MSP eles gostava de colocar histórias envolvendo espiritismo, não só as do Mauricio, a Rosana escreveu muitas assim. Hoje em dia não fazem histórias envolvendo religião. Sem dúvida, impublicável mesmo.

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    2. Mas Maurício já escreveu livros espíritas com a TM.

      Mas as histórias do Chico hoje não tem nem padre ou igreja(católica)?

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    3. Nos gibis que não costumam mais ter temas religiosos. Mas o padre Lino às vezes aparece.

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  2. História legal. Pois é, crianças não ligam, gostam de temas de terror, sombrio. Mas eles pensam agora que vai traumatizar vendo isso.

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  3. Muito DEZ..nunca tinha lido antes... :o

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  4. Eu tenho a coleção histórica com esse gibi. Por mais que não sejam do meu gosto essas histórias reflexivas, flertando com o sobrenatural, elas fazem falta. Hoje tratam as crianças como se elas fossem retardadas, as protegem muito de tudo, querem criar um mundo cor-de-rosa.

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    1. Eram boas histórias assim pra variar um pouco. De fato protegem demais as crianças.

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  5. Eu tenho esta história no Almanaque do Chico Bento nº 3 da editora Globo. No início eu não entendi ela, mas agora eu entendo e gosto bastante dela. Histórias do Chico Bento assim eram boas. Recentemente teve uma com tema parecido na Panini, em que ele encontra os bisavós e até a Mariana.

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    1. A irmã dele que nasceu e morreu na edição 87 da editora globo. Veja aqui: http://arquivosturmadamonica.blogspot.com.br/2014/04/esquecidos-7-mariana-irma-do-chico-bento.html

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    2. Acho que tinha esse almanaque. Não entendi a história de primeira, mas li mais umas duas vezes,gostei muito,e muito emocionante.

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    3. Bruno, tenho também esse almanaque do Chico Bento nº 3,de fato também não entendi quando li pela primeira vez

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  6. Eu fiz aniversário no dia 1 de Julho ,de 12 anos, já sabia que fazia aniversário no mesmo dia que ale e acho muito legal isso.Gostei da história,tenho vários gibis que foram dos meus parentes,me lembro de ter visto essa história, só não consigo achar o gibi aqui.

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    1. Legal que faz aniversario no mesmo dia do Chico. E bom que tem gibis antigos ai, guarde bem.

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  7. Legal eu tambem fiz aniversário nesse dia

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  8. Essa foi a primeira história em quadrinhos que me fez chorar. Linda e inesquecível.

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  9. Eu li essa história pela primeira vez quando criança e não entendi. Aos poucos fui entendendo. Realmente, muito bonita. Gostava de histórias filosóficas com outros personagens além do Horácio.

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    1. Pois é. Na primeira também não entendi nada e depois de reler que deu pra entender. Bonita história

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    1. Verdade, dá pra se emocionar com ela se colocando no lugar do Chico.

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    2. Recentemente, comprei uma revista do Chico Bento, não lembro direito qual é, mas era dessa 2ª fase da Panini. Tinha uma história ode o Chico estava triste porque um filhote do Torresmo tinha morrido, ele estava correndo triste e ele bate a cabeça numa árvore e desmaia. Em seguida, ele vai parar na casa dos bisavós, ele encontra vários personagens mortos, como a Mariana, o filhote do Torresmo, além dos bisavós. Depois, descobre-se que ele tinha desmaiado.

      Bem Semelhante!

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    3. Devem ter feito essa história em homenagem a essa do Chico 7 anos. Eu lembro de ter visto nas bancas, parece que é do ano passado. Uma exceção de história boa em relação ao que vem sido publicado atualmente.

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  11. Eu tinha esse gibi. Foi uma história do Chico que eu nunca esqueci. Às vezes me bate uma tristeza por não saber onde foi parar.

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    1. Esse gibi é muito bom, pena ter perdido. Quem sabe um dia consegue encontrar em sebo.

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  12. Eu tinha 7 anos quando li esta história. Nunca me esqueci dela. Demorou 36 anos para eu reencontrá-la. Ainda é a história mais linda e agridoce do Chico...

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  13. Eu tambem tinha 7 anos e nunca me esqueci dessa história.
    Esse é o poder de uma história bem escrita.

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  14. Porque a doceira chamava o Chico de nhonhozinho?

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    1. Acho que era modo carinhoso de chamá-lo assim, um apelido carinhoso.

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  15. Como que a MSP era proibida de colocar os personagens falando caipirês? Era por causa do regime militar ou outra coisa?

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    1. Tudo indica que era governo sim, de ficar ensinando errado para as crianças.

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  16. Os traços ficaram lindos, principalmente na gruta e no final da história.

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  17. É uma estória espetacular! Li quando tinha uns 7 anos e nunca mais esqueci. Hoje, vendo com o olhar mais apurado, entendo que essa aniversário de 7 anos do Chico marca a passagem dele para uma vida com mais responsabilidades. Os bisavós sabiam disso e falam em "não se dar pela coisa" e na fala reticente do avô em "...uma última olhada nos outros amigos". Pode representar o final das fantasias de criança (a julgar pelos anjos e assombrações) e o início das responsabilidades, com os bisavós falecidos ajudando espiritualmente nesse rito de passagem. Quando li a primeira vez me chocou o fato de ter tanto personagem que eu não conhecia. Fiquei com a sensação de ter perdido alguma coisa, sendo que eu lia tudo sobre a turma. Isso me marcou também.

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    1. A ideia foi essa de momento de passar a ter mais responsabilidades, se bem que na idade a responsabilidade seria só na escola. Os bisavós foram como personagens de aparições únicas, quem lia há pouco tempo não percebia mesmo.

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  18. História com a cara do início da década de 80. Apesar da mudança da criação atual, poderiam ter mais histórias assim.

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    1. Verdade, poderia ter mais histórias filosóficas e com nível assim nem que fosse só de vez em quando.

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